08/06/2020
O cientista político Rui Janeiro defende que o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração dos homens armados da Renamo deve olhar para aspectos de despartidarização do Estado e envolvimento de toda sociedade.
Um ano depois da assinatura de mais um acordo de paz em Moçambique, o cientista político, Rui Janeiro, diz que ainda há vários aspectos por limar num dos protocolos acordados entre o Governo e a Renamo.
“Há uma coisa importante que devia se anteceder ao DDR que não se fez. É chamada zonas seguras de paz. O que quer dizer isso? Antes de desmilitarizar a Renamo, todas as zonas em que a Renamo fez a luta de libertação, tinha esconderijo devia ser levantado todo arsenal bélico com a ajuda da comunidade internacional, toda sociedade civil moçambicana, do próprio Estado, do exército e dos membros da Renamo. Isso não se fez. Apenas esta se a entregar aquelas armas que aqueles homens da Renamo trazem em mão. Isto é um grande erro. Para processo de pacificação, em qualquer nação, isto é erro, não se pode fazer em qualquer sítio. Assim que se está a fazer, já começamos a cometer alguns erros”, afirmou Rui Janeiro.
Rui Janeiro antevê que o processo será lento, defendendo que a sua materialização não deve ser bipolar.
“Ainda há uma ideia de que o país está controlado por uma determinada elite, e esta elite quer conduzir o poder político para os seus próprios interesses. É preciso fazer a reforma dessas mentes, e o grande problema aqui não é só a reforma das mentes mas a reforma geral do Estado. É preciso que neste processo sejam incluídos os peritos da matéria. Não seja apenas um DDR do Governo e da Renamo, é preciso que os académicos façam parte, a sociedade civil, temos a comunidade internacional, mas encontro uma certa dúvida. Eu penso que poderá não ter um bom DDR e é preciso questionar o que é isso de DDR em Moçambique? Apenas é desmobilizar os homens, desmilitarizar, reintegrar na sociedade e para depois serem o quê? Para apenas viverem com as comunidades? Qual é o futuro desses homens, o que esses homens podem pensar manha se a Frelimo não lhes incluir devidamente como queriam. E o grande problema aqui não é questão da inclusão mas também a questão da despartidarização do Estado. É preciso verificar que ao nível do Estado e ao nível das instituições que eles querem fazer parte, algumas destas instituições são despartidarizadas”, acrescentou.
O PAÍS – 08.06.2020
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