08/06/2020
Xícara de Café por Salvador Raimundo
NO seguimento do Acordo Geral de Paz (AGP), assinado no dia 04 de outubro de 1992, na capital italiana, Roma, entre Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama, um dos processos imediatos foi a Desmobilização, Desmilitarização e Reintegração (DDR) dos homens armados da Renamo.
Portanto, o DDR que na semana passada foi retomado, é o segundo, depois do realizado na década de 90. A grande diferença entre um e outro processo, é o facto de os guerrilheiros da Renamo, parte deles, não irem para as Forças Armadas, sim para a polícia e, se calhar, também para a secreta.
No primeiro DDR, nenhum elemento da Renamo integrou a polícia (Dhlakama deu nega, alegando que os seus homens eram incorruptíveis, ao contrário dos policiais). Governo e Renamo andaram em aturadas negociações, com a perícia militar da ONUMOZ lá metida.
As partes pretendiam ocupar os mesmos espaços ou próximos, umas das outras, para o acantonamento dos seus homens. Questões estratégicas militares que acabaram tendo solução, volvidas cansativas reuniões, tal a teimosia inspirada na desconfiança que ainda reinava entre os contendores.
Colmatada a maka, os centros de acantonamento, espalhados um pouco por todo o território nacional, para o DDR, envolvendo os guerrilheiros da Renamo e os militares governamentais das Forças Armadas de Moçambique (FAM’s).
Exceptuando aqueles homens, oriundos de ambas as partes, para a formação do exército nacional de 30 mil homens (15 mil homens cada), os restantes foram desmobilizados.
Os peritos militares, ‘capacetes azuis’, entraram em acção. Os primeiros a desmobilizar foram os máximos, no Estado-Maior General, António Hama Thai, à cabeça. Afonso Dhlakama elegeu Maríngwè, junto das suas gentes. Dhkalama trajado a rigor, de repente, pouco mais de uma dezena de motorizadas, novinhas em folha, ao local do cerimonial, testemunhado pela ONUMOZ e Tomaz Salomão, pelo governo.
As chefias da guerrilha utilizaram, durante muito tempo, as motorizadas para reduzirem distâncias entre as bases, sempre nos recônditos das matas, mas também eram úteis em situações de fuga, em debandada. Foi assim, por exemplo, no ataque governamental apoiado pelo coronel Lionel Dyck, à Casa Banana.
Desde o início, informação nos corredores de que os guerrilheiros da Renamo que iam sendo desmobilizados, entregavam fisgas, catanas, navalhas e armas enferrujadas, garantindo ter sido com recurso àqueles equipamentos que empurraram o exército, permitindo aos políticos negociar o AGP.
Portanto, o DDR que na semana passada foi retomado, é o segundo, depois do realizado na década de 90. A grande diferença entre um e outro processo, é o facto de os guerrilheiros da Renamo, parte deles, não irem para as Forças Armadas, sim para a polícia e, se calhar, também para a secreta.
No primeiro DDR, nenhum elemento da Renamo integrou a polícia (Dhlakama deu nega, alegando que os seus homens eram incorruptíveis, ao contrário dos policiais). Governo e Renamo andaram em aturadas negociações, com a perícia militar da ONUMOZ lá metida.
As partes pretendiam ocupar os mesmos espaços ou próximos, umas das outras, para o acantonamento dos seus homens. Questões estratégicas militares que acabaram tendo solução, volvidas cansativas reuniões, tal a teimosia inspirada na desconfiança que ainda reinava entre os contendores.
Colmatada a maka, os centros de acantonamento, espalhados um pouco por todo o território nacional, para o DDR, envolvendo os guerrilheiros da Renamo e os militares governamentais das Forças Armadas de Moçambique (FAM’s).
Exceptuando aqueles homens, oriundos de ambas as partes, para a formação do exército nacional de 30 mil homens (15 mil homens cada), os restantes foram desmobilizados.
Os peritos militares, ‘capacetes azuis’, entraram em acção. Os primeiros a desmobilizar foram os máximos, no Estado-Maior General, António Hama Thai, à cabeça. Afonso Dhlakama elegeu Maríngwè, junto das suas gentes. Dhkalama trajado a rigor, de repente, pouco mais de uma dezena de motorizadas, novinhas em folha, ao local do cerimonial, testemunhado pela ONUMOZ e Tomaz Salomão, pelo governo.
As chefias da guerrilha utilizaram, durante muito tempo, as motorizadas para reduzirem distâncias entre as bases, sempre nos recônditos das matas, mas também eram úteis em situações de fuga, em debandada. Foi assim, por exemplo, no ataque governamental apoiado pelo coronel Lionel Dyck, à Casa Banana.
Desde o início, informação nos corredores de que os guerrilheiros da Renamo que iam sendo desmobilizados, entregavam fisgas, catanas, navalhas e armas enferrujadas, garantindo ter sido com recurso àqueles equipamentos que empurraram o exército, permitindo aos políticos negociar o AGP.
Um dos erros crassos cometidos no primeiro DDR foi ter sido bastante irrisório o pacote de incentivos aos guerrilheiros, para a vida civil. Aliado a isso, a ausência de um rigoroso controlo nos que iam sendo reintegrados na sociedade, dado que, alegadamente, alguns deles foram ‘acantonados’ preferencialmente na ‘casca-da-rolha’, longe de tudo e de todos, permitindo que desse modo tivessem o controlo periódico do material bélico não submetido a ONUMOZ. A intenção era recuperar o equipamento e dele fazer uso em caso de necessidade, deixando claro, mais uma vez, que os níveis de desconfiança continuavam em alta.
De eleições em eleições, e de contestação em contestação, os guerrilheiros desmobilizados e os não desmobilizados foram reivindicando resposta militar para problemas de índole político, acabando por apontar dedos acusadores ao seu líder, Afonso Dhlakama chegou a ser ameaçado de rapto (?) diante dos problemas prevalecentes, grande parte deles, relacionados com as condições de vida que os desmobilizados e parte da sua guarda atravessavam.
As coisas acabaram por serenar, mas foi preciso que Afonso Dhlakama cedesse, se mudando da capital, mesmo contra os protocolos assinados com o governo.
O armamento supostamente escondido nas matas, não distante das aldeias que albergavam os homens da Renamo, foram de extrema utilidade, anos mais tarde, quando elementos das Forças de Defesa e Segurança (FDS) decidiram ir atrás das suspeitas.
A passagem de Dhlakama à vida civil foi em Maríngwè, base central da Renamo, mas nenhum dos convidados teve acesso ao local e se dizia que era por alí, mas de rigorosa vigilância por homens pacientes bastante para aturar perguntas dos jornalistas.
Nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) o exemplo daquilo que se esperava de um exército nacional, com os homens antes aos tiros, unidos pelo mesmo ideal. Davam-se tão bem, até que um Organigrama veio estragar tudo. Antes, os militares não faziam praticamente nada, que não fosse acordarem pela manhã e terem o pequeno almoço, depois almoço e mais tarde o jantar, antecedendo a soneca.
Isso chegou a ser criticado, por exemplo, por Raúl Domingos, denunciando inadmissível cultura de preguiça, nos militares. Chegados aquí, na essência, o que se pretende é que o novo DDR seja diferente, para melhor, do primeiro, aquele que acabou por dar origem a um cenário de regresso à guerra, porque as armas continuavam disponíveis em mãos de onde na verdade nunca haviam saído.
Se no primeiro DDR se assistiu ao esconderijo de armas e pequenez de estímulos, desta vez a revolta de Mariano Nhongo. Nhongo ameaça inviabilizar o DDR e há quem acredita que o homem é capaz de recuperar as armas junto das autoridades que recolhem da Renamo, à medida da desmobilização.
Não se sabe, porém, se tais armas que têm sido entregues decorrem ao lamentável rítmo dos parágrafos acima, armas enferrujadas em detrimento das melhor conservadas.
Até ver, esta casa mantém o cepticismo face a este DDR.
Mesmo para fechar. Urge que não se menospreze parte das palavras proferidas, há semanas, na Assembleia da República, pelo secretário-geral da Renamo, Andre Magibiri, por uma “reintegração personalizada” dos homens da Renamo no DDR. Copiem esta chamada de atenção.
EXPRESSO – 08.06.2020
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