09/06/2020
Jacinto Veloso, membro do Conselho Nacional de Defesa e antigo ministro da Segurança no Governo de Samora Machel, em artigo publicado no semanário Savana, afirma estar convencido de que Moçambique está a enfrentar uma grande operação cujo objetivo é bloquear os projetos de gás na província de Cabo Delgado.
Analistas, no entanto, discordam da ideia do general moçambicano, de que o país está a lidar com uma mega-operação concebida, dirigida e executada de fora do país, para retardar aqueles projetos,
“Estes projetos”, escreve Jacinto Veloso, “são considerados uma séria ameaça comercial aos gigantescos interesses económicos das grandes empresas envolvidas em projectos idênticos na região, que estão competindo pelos mesmos mercados”.
Em reação, o jornalista e investigador Joe Hanlon, citado pela publicação Carta de Moçambique, realça que Jacinto Veloso descarta a ideia de que a situação em Cabo Delgado “é uma guerra interna baseada em descontentamentos locais e rejeita as opiniões de que é principalmente uma insurgência doméstica”.
Expetativa das multinacionais
Entretanto, para o presidente do Centro para a Democracia e Desenvolvimento(CDD), Adriano Nuvunga, as afirmações de Jacinto Veloso “têm elementos suficientes de verdade porque, inicialmente, as mutinacionais estavam preocupadas com a participação, nos projetos, de empresas como ENH (Empresa Nacional de Hidrocarbonetos).
“Essa era a expectativa das multinacionais, mas isso não justifica o conflito, de maneira nenhuma”, realça Nuvunga, acrescentando que “é a governação, sobretudo as expectativas que alguns moçambicanos têm em relação aos contratos de apropriação, que explica mais o conflito do que propriamente as multinacionais”.
O director do CDD destaca ainda que “há questões de fundo que devem ser resolvidas em Cabo Delgado, entre as quais a marginalização, a exclusão e a expropriação do Estado que os jovens estão a ver, e também a questão do tráfico de drogas e outras atividades criminosas” .
Por seu lado, o editor da publicação Mediafax, Fernando Mbanze, diz que respeita a opinião de Jacinto Veloso porque “é uma pessoa idónea, que conhece a realidade do país”, mas, relativamente a Cabo Delgado, a sua posição parece exagerada.
Exclusão e pobreza
“A situação em Cabo Delgado não tem a ver apenas com aquilo que Jacinto Veloso diz, mas também com questões muito sérias como exclusão, pobreza e o facto de muitas pessoas não terem nenhuma na vida”, afirma Mbanze.
Entretanto, o sociólogo Francisco Matsinhe é da opinião de que Jacinto Veloso pode ter razão no que diz porque “os ataques começaram, precisamente, na altura em que as companhias petrolíferas estavam a instalar-se em Cabo Delgado. Não vamos fazer acusações sem provas, mas esta coincidência não deixa de ser curiosa”.
VOA – 09.06.2020
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