"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Helena Taipo sugere que Nyusi devia ser réu e que devia ter evitado o julgamento

 



Num áudio que circula nas redes sociais a antiga Ministra do Trabalho, Helena Taipo faz um desabafo sobre diversos assuntos da actualidade do país e dá a sua versão sobre o caso das dívidas ocultas fazendo ataques directos ao Presidente da República, Filipe Nyusi.

"Este projecto que esta a se levar ao julgamento, este senhor (Filipe Nyusi) trouxe no Conselho de Ministros... e eu estava lá, nos todos estivemos lá. Até queria se tirar aquela coisa, o Bairro Militar, este Bairro Militar aqui (na cidade de Maputo), queria se tirar para se construir não sei oque, o chefe (Armando Guebuza) é que travou, disse 'olha é preciso criar condições para os militares que estão ali'." explica Helena Taipo.

No áudio de mais de 30 minutos, gravado a partir de Nampula, Taipo diz que o projecto das dívidas ocultas foi apresentado por Nyusi, na altura Ministro da Defesa Nacional.

"Quem apresentou o projecto foi o senhor (Filipe Nyusi?). Hoje a gente fica chateada quando este senhor (Filipe Nyusi) está a levar as pessoas para o tribunal desta maneira. Não pode. E nós estamos aí a aceitar, sim, dívidas ocultas. Não foram ocultas estas dívidas,  o Conselho de Ministros aprovou.",  acrescentado que "chamem todos os membros do Conselho de Ministros... O Conselho de Ministros aprovou.", refere considerando ser injusto que um "punhado de pessoas" esteja a ser sacrificado.

Segundo Taipo, Nyusi é a pessoa que mais conheço o assunto.

"Este senhor (Filipe Nyusi?) está a querer ser o mais mais. Não é verdade... É a pessoa que mais sabe, mas está a aproveitar-se de vocês jornalistas..." refere a antiga dirigente.

A antiga dirigente sugere ainda que o antigo Ministro da Defesa Nacional devia estar no julgamento como réu.

"Este senhor tem que  estar no banco de (réus).".

Para Taipo, o Prsidente da República, Filipe Nyusi, podia ter evitado o julgamento e agora o norte (do país) está chateado por ter se levado o caso das dívidas ocultas para o julgamento.

"O norte está chateado. E sente-se traído.  Porque até os melhores amigos dele dizem-nos 'ele traiu-nos'. Inclusive nós... não esperavamos que Guebuza fosse chamado para dizer este tipo de coisas. Esperavamos que ele tivesse liderado este processo e dissesse 'são assuntos de soberania e eu como presidente assumo. E na altura eu era Ministro da Defesa'. Ele assumia e tenho a certeza que falar-se-ia, mas não seria um vexame como agora. Empurrar até ao tribunal? É isso que nós achamos  que falhamos. E pela primeira vez que o poder está no norte. Então traiu-nos. Não era isso que nos esperavamos.".

Taipo mostra sua fidelidade ao antigo Presidente da República, Armando Guebuza e lamenta pelo facto do mesmo ter que ser ouvido como declarante.

"Para mim foi um choque. Até foi antes de ontem que a secretária falou comigo. A (Maria) Inês (ré que vai ser ouvida no julgamento na quinta-feira) me disse 'o chefe foi arrolado', eu ainda não tinha visto os jornais. Mas Jafar quando me mandou os jornais, fiquei muito mal".

Helena Taipo foi Ministra do Trabalho nomeada por Armando Guebuza  e ocupou pasta de Governadora Provincial e  Embaixadora, nomeada por Filipe Nyusi.  Este detida acusada por corrupção e saiu recentemente.  Aguarda o julgamento em liberdade.

 

Podridão no SERNIC!

 



O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) acaba de suspender alguns quadros seus a nível da província de Maputo. São eles: Canana Macanhangane (chefe da Instrução), Luís Majavane (chefe da Direcção da Inteligência Operacional) e Elino Panguane (chefe de Relações Públicas).

Tudo chefe!

Motivos: suspeita-se que estejam envolvidos no rapto de um dos membros da família Lalgy e do empresário e dono da empresa Empatel, de nome Artur Magaia. Acresce-se a isto a extorsão de 150 mil dólares americanos a um traficante nigeriano que o arrancaram a droga e venderam. Eles também são traficantes!

Estão a ver donde vêm os bandidos? Das fileiras da Polícia. Estes não são os que deviam defender o povo? Se o filho de Guebuza e seus Nhangumeles roubam ao Estado, os do SERNIC raptam, extorquem, ameaçam e vendem droga. O País é podre!

Neste País, os bandidos são cultuados e o povo é perseguido. Neste País, quem respeita a lei, não rouba nada de ninguém, não rapta e esforça-se  para melhorar de vida é tratado como bobo da corte!

O povo trabalhador é tratado como idiota. Trabalha incansavelmente exclusivamente para sustentar privilégios de uma elite regada a vinhos premiados, lagosta e outras regalias. Em troca, esse cidadão é humilhado com um dos piores serviços públicos do planeta. Escolas, hospitais, estradas... Tudo uma lástima.

Bom: daqui a nada vamos à B.O ver aquilo que é o espelho de Moçambique!

(Justiça Nacional, siga-nos no Facebook)

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

 

Semanário Canal de Moçambique nº 628 de 18.08.2021

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E depois de Ruanda?!

 


Por Edwin Hounnou

Como qualquer povo do mundo, é bom viver em paz, ir para cama com a certeza de que nenhum bandido lhe irá lhe tirar a vida nem a dele, nem a de ninguém da sua família. Por esta razão, assistimos o povo dançar abraçado aos militares ruandeses pelo bom trabalho que prestam na defesa vidas e de instituições de moçambicanos e, na certeza de que, se aparecer os terroristas serão castigados, quer dizer, perseguido e até correr o risco de perder a vida. Por isso, estamos a ver 46 anos depois da independência nacional, homens, mulheres e crianças saltitam, dançam, abraçam-se de tanta alegria, ovacionam e batem palmas para colunas militares que passam a caminho de Cabo Delgado por se aperceberem que chegou a hora de tranquilidade e sossego. O povo sabe quem está à altura de lhe proporcionar uma defesa eficaz, por isso se rejubila pela chegada das forças ruandesas que são vistas como quem lhes vem tirar do buraco.

Quando ouvíamos dizer que nenhum pedaço do nosso território, nenhuma localidade ou vila estava ocupados por terroristas, nós sabíamos que aquilo não passava de uma mentira grosseira porque tínhamos conhecimento de que por exemplo, os postos administrativos de Awasse, Diaca  e outros povoados estavam ocupados desde os meados do ano de 2020. A Vila da Mocímboa da Praia estava ocupada desde Agosto de 2020 e nenhuma pessoa podia podia entrar ou sair daquela urbe. Nenhuma viatura podia aí chegar ou atravessar ainda que os desmentidos saíssem da boca do comandante-geral da Polícia da República de Moçambique ou mesmo dos ministros do Interior ou da Defesa que, também, aprendeu a mentir. Aprendemos uma coisa muito importante que, na guerra se mente bastante da parte dos que têm o dever moral pelo treinamento, equipamento das forças armadas, como forma de se esquivarem das suas responsabilidades políticas pela incapacidade demonstrado pelas FADM. Ao invés de elaborarem desmentidos, deveriam treinar e equipar as forças armadas para prontidão combativa. Os rapazes estão prontos para tudo mas a direcção tem muitas fraquezas.

Sempre falamos que o partido Frelimo tem que se afastar da gestão do bem comum e das instituições públicas. Estamos hoje de côcoras e envergonhados por não possuirmos um exército capaz de bater terroristas devido às intromissões políticas como a transferência do poder de fogo dos militares para a polícia e vimos essa visão errada quando os ataques terroristas começaram. A Frelimo e sua liderança foram relevantes em aceitar que aquilo fosse uma guerra terrorista e para se consolar, frisavam que se tratava de ladrões. Antes do primeiro ataque à vila da Mocímboa da Praia, a 5 de Outubro de 2017, o governo refugiava-se dizendo que tudo não passava de conflito inter-religioso.

Porém,  nas mesquitas de Pemba já estavam instaladas células terroristas que até faziam treinos como ordem unida nos pátios das madrassas, quer dizer, marcha militar, placar, corridas e outro tipo de treinos, algo que não nada a ver com igrejas ou qualquer tipo de religião. O governo foi sendo alertado sobre o surgimento nas mesquitas de uma nova postura mas ninguém levou a sério os avisos emitidos até ao ataque da Mocímboa da Praia. As armas usadas no ataque à vila da Mocímboa da Praia e os próprios terroristas saíram de algumas mesquitas de Pemba.

Devido ao excesso de ganância pelo poder ilegítimo, o partido Frelimo deixou as portas escancaradas para qualquer terrorista ou bandido atacar e ocupar o nosso país e hoje  estamos de mãos estendidas a pedir socorro. Somos protegidos e o nosso território defendido por Ruanda, um pequeno território que cabe em Moçambique mais de 30 vezes e com uma população que corresponde quase três vezes menos que a do nosso país. Ruanda tem um PIB  de cerca de 11 biliões de dólares enquanto de Moçambique é 15 biliões, mas este pequeno país da África Ocidental tem um exército mais forte que o nosso que “desconseguiu" bater os terroristas que ocupam extensas áreas de Cabo Delgado.

Ruanda precisou de 30 dias para os terroristas fugirem, abandonando armas, incluindo mapas de reconhecimento e livros de alcorão que dizem ser sua fonte de inspiração, porém  sabemos que isso é de todo falso, porque a religião islâmica é pela paz e fraternidade. O seu exército tão culto que já cria saudades nas populações locais com as quais se abraça, pila e conversa de forma amena. As populações de Cabo Delgado até já dizem não precisar de intérprete para se comunicar com soldados ruandeses.

Comparando as valências económicas entre Moçambique e Ruanda, salta à vista que o nosso país possui 2700 km de costa maírítima para turismo e pesca e uma infindável  economia azul, tem marques e reservas naturais. Para além disso, temos três grandes corredores com portos, caminhos de ferro para o interland, designadamente, o corredor de Maputo, Beira e Nacala, porém, quase desaproveitados. Exporta alumínio e electricidade da HCB para África do Sul, Zâmbia, Zimbabwe e Swazilândia. Enquanto isso, Ruanda não tem costa marítima nem corredores de desenvolvimento e o forte das suas exportações se assenta em banana, café, turismo e industrial tecnológica emergente. Kigali, a sua capital é uma cidade moderna, com ruas sem buracos nem lixo a transbordar por tudo quanto seja canto. Tem jardins bem tratados. É uma beleza! dá prazer de nela habitar e transmite a sensação de estarmos numa Lourenço Marques, Beira ou Nampula dos anos 1975-1980. Temos saudades de viver numa cidade limpa e bem organizada!

Ruanda construiu um exército pequeno, forte e moderno para o seu povo dormir tranquilo e ajudar a seus amigos que precisarem de apoio. Paul Kagamé, seu presidente,  não fez calote aldrabando que vai edificar um exército para se defender ninguém e Moçambique tem muita coisa que aprender deste pequeno país, ainda que discordemos da sua política de mover uma perseguição cerrada contra seus opositores políticos a que procura para além-fronteiras, tirando-lhes a vida. Não aprovamos o facto de Kagamé ter alterado a constituição do país para lhe permitir que se mantivesse no poder por mais tempo do que o previsto na Lei-Mãe. Esta prática de alterar a constituição é própria de ditadores para acomodar os seus apetites que, infelizmente, também nos persegue no nosso horizontal, pois o Presidente Filipe Nyusi tem dado sinais de que não pretende deixar o poder, como determina a Constituição. Estamos para ver como vai terminar este cinema mudo que Nyusi nos quer presentear. Se a brincadeira de alterar a Constituição persistir, o país vai ser jogado num buraco sem fundo de onde sairemos bem machucados.

A nossa maior dúvida, parece  também ser de tantos outros, depois da saída do contingente ruandês quem ficará a defender os moçambicanos que hoje são vítimas dos terroristas? A Força Conjunta da SADC tem um período, embora possa vir a ser renovado, caso seja necessário, o medo da guerra de intensificar as nossas forças - FADM – também conhecidas por leões da floresta, já  nos deram bastantes provas  de que é melhor negociar bem com Paul Kagamé para nos ajudar a manter os terroristas longe das nossas fronteiras para que o povo possa viver tranquilo. Sugerimos, igualmente ao governo, que celebre um contrato com Kigali a fim de que venha um contingente policial para travar os raptos que são protagonizados por agentes da SERNIC. Não se esquecendo também de incluir a Polícia de Trânsito para dar um intervalo de descanso aos automobilistas dos pedidos de refresco como condução para prosseguirem viagem. Que tal apreciar positivamente nossa proposta, Mr. President?!

CANAL DE MOÇAMBIQUE – 18.08.2021

terça-feira, 17 de agosto de 2021

 

Cabo Ligado Mensal: Julho de 2021

TENDÊNCIAS VITAIS NESTA RELATÓRIO - OBSERVATÓRIO DE CONFLITOS
• As tropas ruandesas chegaram a Cabo Delgado em Julho e rapidamente se envolveram nos confrontos; estiveram envolvidos em 10 ocorrências de violência política organizada registradas, resultando em 73 mortes reportadas
• A violência no distrito de Mocímboa da Praia aumentou bruscamente quando as tropas ruandesas e moçambicanas empreenderam uma ofensiva que acabou resultando na recaptura da vila de Mocímboa da Praia no início de Agosto
• Os confrontos também continuaram no distrito de Palma, enquanto as tropas ruandesas e moçambicanas engajavam-se no sentido de limpar as áreas ao redor da vila de Palma e o troço Palma-Nangade de insurgentes
• Análise das correntes de propaganda do Estado Islâmico na língua KiSwahili e sua relação com o conflito de Cabo Delgado
• Explicação das origens e funções das milícias locais pró-governo em Cabo Delgado
• Análise do histórico de combate e posição política de Ruanda no conflito de Cabo Delgado
• Atualização sobre o envolvimento internacional em Cabo Delgado com foco em como os custos e responsabilidades serão divididos entre os estados membros da SADC na missão da Força em Estado de Alerta da SADC

Leia aqui Download Cabo-Ligado-Monthly_July2021

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

*Conheça os Moçambicanos que Lideraram os Terrorristas de Cabo Delgado*

 

 



Não obstante a presença de estrangeiros, a esmagadora maioria dos membros do grupo são moçambicanos, oriundos maioritariamente dos distritos de Mocímboa da Praia, Palma, Macomia e Quissanga, mas também do planalto de Mueda, do litoral de Nampula e da província do Niassa, entre outras regiões. Segundo as estimativas, o número efectivo de membros tem sido variável, oscilando entre os 1000 e os 2000 homens. Os ataques a pequenas aldeias são realizados por grupos de dimensões reduzidas, compostos sobretudo por cidadãos moçambicanos. Nos ataques a Mocímboa da Praia e a Palma o grupo recorreu a mercenários estrangeiros, grande parte oriundos da Tanzânia, existindo referências a indivíduos “brancos” entre os machababos. Não obstante a existência de um comando central que coordena ataques, o grupo possui várias chefias intermédias, com poderes diversos e com relativa autonomia, permitindo alguma iniciativa. Entre os líderes moçambicanos do grupo estão claramente sobrerepresentadas as populações da costa, entre Palma e Macomia, geralmente falantes de mwani. O poder dos indivíduos tende a advir do domínio do Islão, contactos internacionais e capacidade militar. Os líderes de topo vão trocando de nome, razão porque podem aparecer conhecidos de diferentes formas. Em função do simbolismo islâmico, os sucessivos nomes vão traduzindo o poder do indivíduo no seio do grupo. A partir dos relatos de pessoas que foram raptadas e que conviveram com os líderes dos machababos, é possível identificar algumas lideranças, por volta de Abril de 2021, onde consta, inclusivamente, uma mulher.
1.1   Bonomado Omar
 O líder do grupo é largamente conhecido na região, ainda que por vários nomes. Textos jornalísticos (CJI, 14.09.2020) referenciam-no por Bonomado Machude Omar ou Ibn Omar, aparecendo também designado por Omar Saíde ou Sheik Omar. Os relatos sugerem que Omar foi trocando frequentemente de nome, sendo actualmente conhecido por Nuro Saíde ou Abu Surakha. Omar nasceu em Palma no povoado de Ncumbi e, aos 5 anos, ficou órfão de pai. A família viajou para Mocímboa da Praia e a mãe juntou-se com outro homem, localmente conhecido por Mze Tchidi. O padrasto introduziu Omar no Islão, que foi estudando e aperfeiçoando. Finalizou a 10ª classe na Escola Secundária Januário Pedro em Mocímboa da Praia e, de acordo com antigos professores, era um jovem calmo, bom aluno e bom jogador de futebol. Depois de atingir a maioridade, cumpriu o serviço militar na marinha em Pemba, findo o qual residiu no internato do African Muslim, finalizando a 12ª classe. Torna-se um elemento carismático junto de outros jovens, conhecido pelo seu sentido de justiça e de proteção dos mais novos. Um dos seus passatempos era jogar futebol. Devido à estatura elevada (entre 1,80 e 1,90m) e pelo facto de jogar no meio campo, adquiriu a alcunha de Patrick Vieira¹. Por volta de 2008 e 2009 trabalhou no mercado Maringué em Pemba, onde vendia hortícolas e roupas muçulmanas, por conta de um comerciante estrangeiro (as versões variam entre tanzaniano e somaliano). Viajou para a Tanzânia e para a República da África do Sul. Regressou a Mocímboa da Praia onde dinamizou uma mesquita e uma barraca de venda de quinquilharias, adquiridas em mercados tanzanianos ou na cidade de Pemba. Participou nos primeiros ataques a Mocímboa da Praia e refugiou-se nas matas. Pela sua habilidade militar e capacidade de camuflagem adquiriu localmente a alcunha de “Rei da Floresta”. Constitui actualmente o líder do grupo em Moçambique, assim como o elo de ligação com o exterior², recentemente confirmado pelo US Department of State (Blinken, 06.08.2021). Omar demonstra capacidade de comando, carisma e liderança, ditando as regras e decidindo onde e como atacar, assim como quem se deve assassinar. É a Omar que se recorre perante situações mais delicadas. Omar destaca-se como bom nadador. Futebol, alcorão, condução de veículos e manuseio de material bélico constituem as suas grandes paixões. Tem três esposas nas matas de Cabo Delgado e vários filhos menores, inclusivamente na cidade de Pemba. À noite, circula com uma lanterna de mineiro na cabeça, por vezes com uma escolta de motas atrás de si. Os que o acompanham são geralmente mais velhos e experientes. Por vezes, é visto trajando “roupa muçulmana preta”. Trata-se da figura central de um vídeo filmado em Mocímboa da Praia em Março de 2020 aquando da invasão à cidade, aparecendo a falar em suaíli para a população local, explicando os objectivos do grupo. Omar coordenou o ataque a Palma em Março de 2021 e envolveu-se directamente no processo de negociação de resgates. É conhecido por ter bastantes relações em vários distritos de Cabo Delgado, inclusivamente no exército moçambicano. Para além do suaíli, língua com a qual mais se identifica, Omar exprimese fluentemente em macua, maconde e português.
 
1.2. Mustafá
 É conhecido por ser o executivo de Omar, passando instruções no terreno, oriundas do comandante. Tem baixa estatura (cerca de 1,55m de altura). A sua língua materna é o mwani e fala fluentemente o suaíli, e um pouco de português. Nasceu em Mocímboa da Praia onde cresceu e frequentou a escola primária. Residiu no bairro Milamba, perto do campo de futebol do Benfica, onde tinha uma barbearia, sendo localmente conhecido pelo seu apelido maconde Shinpwateka. Durante um período de tempo Mustafá residiu em Palma, jogando para o clube de futebol local, tendo depois regressado a Mocímboa. Foi visto no ataque a Palma de Março de 2021, actuando sempre próximo de Omar, transmitindo ordens e identificando, entre as pessoas capturadas, aqueles elementos que, pelas suas competências profissionais, pudessem ser importantes para o grupo, nomeadamente jovens com o serviço militar cumprido, médicos, enfermeiros, mecânicos ou motoristas.
 
 1.3. Maulana Ali Cassimo
Maulana é o nome próprio, constitui um dos comandantes mais destacados pelos indivíduos que estiveram em cativeiro, pelo facto de se apresentar como engenheiro agrónomo. De acordo com as testemunhas, trata-se de um indivíduo inteligente, bem articulado na língua portuguesa e com capacidade argumentativa. Maulana é um indivíduo claro, com cerca de 1,70m de altura. É natural de Lichinga, tendo concluído o curso médio de Agropecuária, no Instituto Agrário nesta cidade. É classificado de “bom aluno” por ex-professores. Trabalhou para a Mozambique Leaf Tobacco em Tete e em Cuamba. Alegadamente, foi após ter estado preso pela polícia (por não ter licença de condução) que ingressou no aparelho do Estado. Entre 2014 e 2017 foi técnico de Extensão Agrária no SDAE de Mecula. Devido ao seu envolvimento e dedicação na sua área de extensão, Maulana chegou a ganhar um prémio provincial. É descrito como carismático e com muita aceitação junto dos produtores. Ficou conhecido entre os colegas por ser rigoroso nos preceitos islâmicos (rezando cinco vezes ao dia) e por ser profissionalmente “activo” e “agitado”. É recordado por ter demonstrado, várias vezes, a sua revolta em relação à atitude das autoridades para com garimpeiros (em Mariri, na localidade de Mbamba) e caçadores furtivos na reserva do Niassa. Os colegas destacam a veemência com que criticava a extorsão de bens e detenção de jovens garimpeiros, justificando que a agricultura não constitui uma actividade rentável e que os jovens não dispunham de outras alternativas. Em defesa dos garimpeiros, com quem tinha relações, insurgia-se abertamente contra as autoridades do distrito, inclusivamente contra o Administrador e Secretário Permanente. A partir de 2016 envolve-se na organização de uma mesquita e perde interesse pela sua actividade profissional. A radicalização do discurso, incluindo a proibição de crianças de frequentarem a escola, levou ao encerramento da mesquita pelo Estado. Neste processo foi impedido de utilizar a motorizada do SDAE (que colocava ao serviço das suas actividades religiosas) gerando-lhe um grande descontentamento e revolta. Em Julho de 2017 abandonou o posto de trabalho e deixou de ser visto em Mecula. Os colegas foram informados que se tinha dirigido para Cabo Delgado para receber formação religiosa, para posteriormente abrir uma mesquita em Mecula, onde iria receber um subsídio de 60 mil meticais, bem superior ao salário que auferia do Estado. Com o início do conflito armado, juntou-se aos insurgentes nas matas de Mocímboa da Praia, tal como muitos outros jovens de Mecula. A esposa ainda tentou juntar-se ao marido em Cabo Delgado, mas foi detida pela polícia nesse processo, residindo actualmente em Lichinga com os seus dois filhos, assim como a família do marido. Maulana participou nos ataques a Mocímboa da Praia e a Palma.
 
 1.4 Rosa Cassamo Rosa
Cassamo nasceu em Cabo Delgado, em distrito que desconhecemos. Antes de aderir ao grupo rebelde possuía três enormes machambas. É descrita como uma mulher clara e bonita, mãe de cinco filhos, entre os quais três meninas. Duas das suas filhas foram prematuramente casadas por insurgentes e levadas para as matas. Rosa foi chefe de logística em Ilala e Mucojo (distrito de Macomia) e, através da posição do seu marido, Ibraimo Mussa³, adquiriu poder e influência local. Hoje é considerada de mãe, no seio de insurgentes, desempenhando um papel importante na mobilização de várias mulheres do seu povoado, para ingressassem na insurgência. Entre os rebeldes, Rosa é considerada a “rainha da magia negra”, existindo rumores de práticas mágico-tradicionais, envolvendo relações sexuais com guerrilheiros, como forma de reavivar poderes mágicos (prática dominada de “freemason”). 

 

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Tomada de Mocímboa da Praia é estratégica, mas há o risco de guerrilha, dizem analistas

 


E ainda é cedo para celebrar a vitória, opinam analistas

A tomada de controlo da vila de Mocímboa da Praia, em Cabo Delgado, pela força conjunta Moçambique-Ruanda, tem um valor estratégico muito importante por causa do porto e do aeroporto, mas não se deve enveredar por nenhum triunfalismo, porque os jihadistas poderão optar por tácticas de guerrilha, que são mais difíceis de enfrentar.

A retomada de Mocímboa da Praia ocorreu cerca de um mês depois da chegada de militares ruandeses a Cabo Delgado, e, para o jornalista Fernando Lima, isso mostra que aqueles que estão a desencadear a violência naquela província não têm uma força tão imensa como muitas vezes se pretende, e que qualquer força militar minimamente organizada e com meios pode derrotá-los.

"Quando uma zona esteve durante um ano sob ocupação, e vem uma força externa reocupá-la num mês de operações, isso mostra que a insurgência não é tão poderosa, mas penso que não se deve enveredar por nenhum triunfalismo," diz Lima.

Guerrilha

Na leitura daquele jornalista, a reconquista de Mocímboa da Praia tem um valor estratégico por causa do porto e da pista de aviação, mas ainda há zonas importantes onde estão as bases principais da insurgência, que não foram eliminadas.

"E vai ser muito mais difícil, porque se trata de posições no meio da floresta; para além disso, vai ser necessário consolidar os territórios reconquistados," diz.

Por seu turno, o sociólogo Moisés Mabunda diz ser necessário que as diversas forças se preparem para a fase que considera a mais difícil, que poderá começar a partir de agora, a da guerrilha, e que, eventualmente, se vai alastrar a outras províncias.

"É preciso evitar que isso aconteça, perseguindo os terroristas; o trabalho só começou, é preciso ver qual é a estratégia que os terroristas vão usar", realça Mabunda.

Dércio Alfazema, analista político, entende também que com a intensificação dos combates no terreno, os insurgentes vão se dispersar procurando refúgio noutros locais, pelo que é preciso que haja um controlo mais efectivo sobretudo nas zonas de saída dos campos de ataque, bem como uma maior vigilância no triângulo Niassa, Nampula e Cabo delgado.

VOA – 09.08.2021