05/06/2020
A coordenadora residente da Organização das Nações Unidas em Moçambique pediu ontem 35 milhões de dólares à comunidade internacional para apoiar os deslocados pelos ataques armados em Cabo Delgado.
"A população está completamente exausta e em desesperada necessidade de humanidade e solidariedade”, referiu Myrta Kaulard.
O Plano de Resposta Rápida para Cabo Delgado, para ser aplicado de maio a dezembro, "vai dar prioridade a necessidades urgentes daqueles que foram afetados pelo aumento da violência", lê-se num comunicado das Nações Unidas.
A fuga da população aumentou rapidamente à medida que a violência cresceu desde o início do ano, referiu a ONU, estimando que haja agora 211.485 pessoas que largaram tudo e procuraram refúgio seguro noutras povoações - num conflito que já matou, pelo menos, 600 pessoas.
Somando as comunidades de acolhimento, também já de si empobrecidas, estima-se que haja 712.000 pessoas a necessitar de ajuda e o plano ontem lançado pretende apoiar 354.000, cerca de metade.
Os ataques armados, alguns dos quais passaram a ser reivindicados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico fez ontem um ano, chegaram desde março a várias sedes de distrito e vilas principais: Mocímboa da Praia, Muidumbe, Quissanga e Macomia foram ocupadas durante vários dias.
O Governo anunciou no domingo ter abatido 78 rebeldes, entre os quais dois cabecilhas tanzanianos, na sequência de confrontos em Muidumbe.
A maioria das pessoas deslocadas internamente na crise que dura há dois anos e meio são crianças, seguidas por mulheres, espelho da distribuição populacional de Moçambique.
Os alimentos, itens de abrigo e outros do dia-a-dia (baldes, mantas) são os mais necessários numa crise em que, embora existam locais de reassentamento e centros de acomodação, a maioria dos deslocados internos está a ser hospedada por famílias e parentes.
Só que "os recursos das comunidades que os recebem estão a esgotar-se e aqueles que estão presos em áreas com insegurança não têm meios de se sustentar", acrescentou a ONU.
Muitas das pessoas afetadas são as mesmas que perderam tudo durante o ciclone Kenneth, em abril de 2019, e que agora "são deslocadas pela segunda ou terceira vez em menos de um ano", sublinhou.
As Nações Unidas estimam que desde o início da violência em outubro de 2017 já tenham sido atingidas 107 escolas (incluindo um centro de treino de professores), afetando mais de 56.000 crianças e quase 1.100 professores.
O pedido de apoio ao Plano de Resposta Rápida para Cabo Delgado no valor de 35,5 milhões de dólares junta-se a outro apelo de 68 milhões de dólares lançado ontem para apoio a Moçambique no combate à pandemia da COVID-19.
Myrta Kaulard fez um pedido para que os parceiros ajudem o país "a proteger os mais atingidos por vários choques, incluindo as consequências humanitárias da COVID-19, bem como secas recorrentes, inundações e crescente violência na província de Cabo Delgado".
“Peço à comunidade internacional para se unir e apoiar generosamente o povo de Moçambique, respondendo a esses dois apelos", concluiu a coordenadora residente.
“Os apelos complementarão os esforços empreendidos pelo Governo de Moçambique, através do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades [INGC], para ajudar o povo moçambicano”, destacou Luísa Meque, diretora-geral do INGC de Moçambique.
Em particular, referiu a dirigente do INGC, vão encaixar-se com o que está a ser feito no apoio "a deslocados pela ação de grupos armados na província de Cabo Delgado e às pessoas afetadas pelo impacto da pandemia de COVID-19".
LUSA – 05.06.2020
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