Analistas divergem quanto à natureza e objetivos do grupo armado realiza ataques na província moçambicana de Cabo Delgado, uns considerando-o terrorista e outros afirmando tratar-se de uma organização de guerrilha.
As autoridades moçambicanas dizem que Cabo Delgado está a ser alvo de ataques da organização terrorista Estado Islâmico, havendo, no entanto, quem discorde, afirmando ser necessário aprofundar o assunto.
O pesquisador do Centro de Integridade Pública (CIP), Borges Nhamire, diz que o que passa em Cabo Delgado é terrorismo usando métodos de guerrilha.
Para Nhamire, “terrorismo tem a ver com a finalidade do conflito e neste caso, trata-se de atacar alvos civis para criar medo e forçar as autoridades a aceitar ou deixar de praticar determinados actos, mas sem atacar alvos militares.”
Califado
Ele realça que “eles estão a atacar alvos civis, queimar casas e destruir propriedades privadas, mas o objectivo é criar o califado”.
“Neste caso”, anota Nhamire, “eles querem forçar o Governo a render-se ao seu objetivo; isso é terrorismo e guerrilha ao mesmo tempo, porque não é uma guerra aberta; não sabemos onde estão as suas bases, misturam-se com as comunidades, atacam e desaparecem”.
Por seu turno, Adriano Nuvunga, diretor do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), afirma que “em Cabo Delgado temos uma mistura, com elementos claros de guerrilha, o que significa que há um grupo que enfrenta, militarmente, as forças do Estado”.
“Isso é uma guerrilha, mas temos também acções de puro terrorismo que tem têm a ver com a profanação feita à missão de Nangololo; temos a destruição de infraestruturas de desenvolvimento; são ações claras de terrorismo, sobretudo pelas manifestações e mensagens que eles passam”, considera o diretor do CDD.
Corredor de minérios
Entretanto, o académico Calton Cadeado tem dúvidas que o grupo que ataca Cabo Delgado seja, de facto, terrorista e explica: “Quando você analisa o mapa de violência política em África, nota que da zona central de África para a África Austral, você não tem terrorismo, mas sim guerrilha”.
Na opinião de Calton Cadeado, o grupo que ataca Cabo Delgado, “atua como guerrilha e está a tentar adaptar-se ao terrorismo, porque está à procura de apoios políticos, financeiros e morais lá fora; eu não acredito que seja terrorista de facto”.
Para o analista Egídio Vaz, nesta questão dos ataques a Cabo Delgado há uma narrativa a ter em conta, que é o facto de ter existido, num passado recente, um autêntico corredor de minérios naquela zona, sendo que os actuais ataques podem ser uma tentativa de restaurar esse corredor internacional.
VOA – 17.06.2020
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