18/06/2020
O académico Salvador Forquilha considerou hoje que a origem dos grupos de terroristas responsáveis por ataques violentos na região de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é complexa e alimentada por fatores internos, sobretudo étnicos e sociais.
“A insurgência é alimentada por clivagens múltiplas de origem étnica, histórica, social e política”, disse o diretor e investigador sénior do Instituto de Estudos Económicos e Sociais (IESE) de Maputo, durante o seminário "Encontrar soluções para a insegurança em Cabo Delgado”, organizado pelo Instituto Real de Relações Internacionais - Chatham House.
Cabo Delgado, província onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, está sob ataque desde outubro de 2017 por insurgentes, classificados desde o início do ano pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma ameaça terrorista.
Em dois anos e meio de conflito naquela província do Norte de Moçambique, estima-se que já tenham morrido, no mínimo, 600 pessoas e que cerca de 200 mil já tenham sido afetadas, sendo obrigadas a refugiar-se em lugares mais seguros.
Forquilha criticou as autoridades moçambicanas por terem privilegiado a teoria de uma conspiração de origem estrangeira de extremistas islâmicos ligados ao grupo Estado Islâmico quando “Informação no terreno sugere que o desenvolvimento da insurgência em Cabo Delgado foi alimentada consideravelmente por fatores internos”.
O investigador moçambicano disse estar envolvido em dois estudos, um sobre o conflito e os desafios em termos de desenvolvimento no norte de Moçambique e outro sobre a coesão social e violência política, que olham para a situação em Cabo Delgado.
O que descobriu é que um fenómeno inicialmente isolado e pouco organizado tem estado a crescer junto de grupos populacionais marginalizados pelo Estado, nomeadamente jovens e muçulmanos mais conservadores.
“O discurso de oposição à ordem estabelecida funciona no sentido de acelerar o descontentamento social e radicalizar clivagens políticas e sociais”, justificou, adiantando que “os insurgentes conseguiram estabelecer uma rede eficiente de apoio logístico e informação” graças aos jovens integrados nas comunidades locais.
A informação recolhida sobre o movimento das diferentes forças de segurança na região deu aos rebeldes maior mobilidade e eficiência em operações militares, explicou, alertando para a necessidade de impedir que o conflito se intensifique e espalhe para outras províncias no norte de Moçambique.
Pedro Esteves, especialista em segurança e analista da consultora Africa Monitor, sediada em Lisboa, sugeriu que uma das soluções a curto prazo pode ser a criação de uma aliança militar regional, nomeadamente com o Zimbabué, e eventualmente com o apoio da África do Sul e Angola.
Porém, salientou, estes dois últimos países "podem apoiar ter força regional em Mocambique, mas existe uma diferença entre apoio político e meios militares”.
A outra hipótese é uma maior intervenção das forças militares moçambicanas, apesar da "falta de motivação, organização, capacidades e recursos” que tem dado espaço para a intervenção de empresas militares privadas na região.
“Existe um descontentamento dos militares pela forma como o conflito tem sido abordado pela polícia. Eles sentem que estão a ser subordinados e isso agrava a falta de coordenação e a moral. Qualquer solução a curto prazo vai precisar dos militares com vontade e capacidade. O Presidente [Filipe] Nyusi tem de resolver isto em breve”, disse Esteves.
LUSA – 16.06.2020
Cabo Delgado, província onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, está sob ataque desde outubro de 2017 por insurgentes, classificados desde o início do ano pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma ameaça terrorista.
Em dois anos e meio de conflito naquela província do Norte de Moçambique, estima-se que já tenham morrido, no mínimo, 600 pessoas e que cerca de 200 mil já tenham sido afetadas, sendo obrigadas a refugiar-se em lugares mais seguros.
Forquilha criticou as autoridades moçambicanas por terem privilegiado a teoria de uma conspiração de origem estrangeira de extremistas islâmicos ligados ao grupo Estado Islâmico quando “Informação no terreno sugere que o desenvolvimento da insurgência em Cabo Delgado foi alimentada consideravelmente por fatores internos”.
O investigador moçambicano disse estar envolvido em dois estudos, um sobre o conflito e os desafios em termos de desenvolvimento no norte de Moçambique e outro sobre a coesão social e violência política, que olham para a situação em Cabo Delgado.
O que descobriu é que um fenómeno inicialmente isolado e pouco organizado tem estado a crescer junto de grupos populacionais marginalizados pelo Estado, nomeadamente jovens e muçulmanos mais conservadores.
“O discurso de oposição à ordem estabelecida funciona no sentido de acelerar o descontentamento social e radicalizar clivagens políticas e sociais”, justificou, adiantando que “os insurgentes conseguiram estabelecer uma rede eficiente de apoio logístico e informação” graças aos jovens integrados nas comunidades locais.
A informação recolhida sobre o movimento das diferentes forças de segurança na região deu aos rebeldes maior mobilidade e eficiência em operações militares, explicou, alertando para a necessidade de impedir que o conflito se intensifique e espalhe para outras províncias no norte de Moçambique.
Pedro Esteves, especialista em segurança e analista da consultora Africa Monitor, sediada em Lisboa, sugeriu que uma das soluções a curto prazo pode ser a criação de uma aliança militar regional, nomeadamente com o Zimbabué, e eventualmente com o apoio da África do Sul e Angola.
Porém, salientou, estes dois últimos países "podem apoiar ter força regional em Mocambique, mas existe uma diferença entre apoio político e meios militares”.
A outra hipótese é uma maior intervenção das forças militares moçambicanas, apesar da "falta de motivação, organização, capacidades e recursos” que tem dado espaço para a intervenção de empresas militares privadas na região.
“Existe um descontentamento dos militares pela forma como o conflito tem sido abordado pela polícia. Eles sentem que estão a ser subordinados e isso agrava a falta de coordenação e a moral. Qualquer solução a curto prazo vai precisar dos militares com vontade e capacidade. O Presidente [Filipe] Nyusi tem de resolver isto em breve”, disse Esteves.
LUSA – 16.06.2020
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