"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



domingo, 21 de junho de 2020

DE FUGA DA TANZÂNIA EM AGOSTO 1969 QUANDO A MORTE ESTAVA MUITO PERTO DE NÓS: UM ENCONTRO COM UM INDIVÍDUO DO OUTRO MUNDO

Por Francisco Nota Moisés

Entre Janeiro e Julho de 1969, com outros estudantes em Dar Es Salaam na Tanzânia estive metido numa luta cerrada contra Eduardo Mondlane  e o seu grupo que incluía o vacilante Uria Simango, o inflexível Marcelino dos Santos, o sanguinário Samora Machel, o cruel Joaquim Chissano, o vaidoso e guloso Armando Guebuza e outros do grupo cruel que se tinham transformado em líderes vitalícios da Frelimo.
A coisa que a Frelimo não diz e não admite: Mondlane tinha-se tornado muito impopular depois de sete anos  na liderança da Frelimo.  Pouca gente gostava dele e o queriam como dirigente da organização. Para além daqueles que constituíam o seu grupelho e uns oportunistas, ninguém precisava dele e o queria como líder da Frelimo.
Estávamos claros que Mondlane não era um nacionalista, que era um agente do inimigo e constituía um grande perigo para nós na medida em que a infiltração portuguesa na Frelimo tinha-se tornado um facto.  Os portugueses sabiam tudo sobre a Frelimo e tinham os nossos nomes.
O governo da Tanzânia sabia que Mondlane constituía um perigo para a segurança da própria Tanzânia com as suas ligações com a CIA americana e, por extrapolação, com o regime de Salazar.  Aquando das confrontações contínuas com os estudantes que eram uma parte da grande revolta anti-Mondlane na Frelimo de 1968, o governo de Dar Es Salaam estava manifestamente ao lado dos estudantes e dos rebeldes, mas via-se incapaz de agir contra o caudilho da Frelimo por causa da amizade pessoal que o presidente tanzaniano Julius Nyerere nutria por Mondlane.
Quando Mondlane queria neutralizar os estudantes e despachá-los para o seu campo de Nachingwea, era o governo tanzaniano que revertia as suas decisões, ordenando que os estudantes ficassem  em Dar Es Salaam. Com o tempo o governo cansou-se das lutas e batalhas entre os estudantes e os líderes da Frelimo. Quando a Frelimo queria nos evacuar para ir nos exterminar algures, o governo tanzaniano decidiu agir e colocou-nos sob prisão preventiva "para nos proteger" segundo ele durante três dias para decidir o que fazer connosco.  
E ao fim e ao cabo, decidiram-nos evacuar para o campo de refugiados sob protecção das Nações Unidas em Rutamba, distrito de Lindi, província de Mtwara no sul do seu pais, com a promessa de que o governo queria varrer a sujeira na Frelimo antes de nos retomar para o tal chamado Instituto Moçambicano que ninguém sabia se era uma escola primária ou secundária.
Mas compreendemos depois de algum tempo em Rutamba que governo tanzaniano já não se interessava de nós. Para nós, Rutamba, um lugar rural de atraso na vida, era o fim e que devíamos nos safar dai para não apodrecermos lá.  Sabíamos onde queríamos ir: Nairobi. Kenya, para onde tinham seguido outros fugitivos da Frelimo desgastados da liderança do Eduardo Mondlane  
Ir aos portugueses, não seria coisa aconselhável principalmente para uma pessoa como eu que tinha sido um cidadão português e havia de ser punido mui severamente sob acusação de ter desertado das minhas responsabilidades de cidadão português e me ter metido com os terroristas da Frelimo na Tanzânia. Que não tivesse sido treinado na Frelimo e não tivesse pegado em arma contra Portugal não importava.  A minha punição seria muito severa e poderia não sobreviver.
Como sair  de Rutamba sem dinheiro era quase que impossível.  E como sobreviver durante a fuga numa Tanzânia stalinisada onde  o movimento dos cidadãos era controlado, se não permitido, e que vivia amedrontada duma possível agressão pelos portugueses contra a qual ela não tinha um exército para fazer frente a poderosa força militar portuguesa em Moçambique.
Eu e dois outros cujos nomes que apresentarei na segunda parte deste artigo não serão os seus verdadeiros nomes conseguimos uma ajuda financeira do malogrado padre Pollet, um missionário e antigo ancião de Murraça em Sofala, que na altura era o padre superior duma missão na Tanzânia.
Depois daquilo, fugimos e no caminho durante a noite entre Rutamba e Rufiji ao norte de Lindi fomos perseguidos por milicianos tanzanianas que perderam pista de nós e regressaram à sua aldeia amedrontados depois de concluírem que eramos demónios chamados majini (jinis) na Africa oriental. 
Depois disso deparamo-nos com um indivíduo estranho, que diria doutro mundo. Seguidamente estivémos frente a frente com quatro leões que perseguiam uma manada de porcos do mato. Com gritos e papéis acessos nas nossas mãos, intimidamos os leões que fugiram apavorados.  
Na manhã seguinte vimo-nos frente a frente com cerca de dez elefantes que não estiveram zangados connosco, mas um jovem macho ficou chateado connosco e tentou nos atacar antes de correr para estar no seu grupo que ia provavelmente beber água algures no local.  Detalhes destes episódios proximamente. 

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