"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



segunda-feira, 16 de novembro de 2020

 

Sobreviventes do massacre descrevem “execuções agoniantes” em campo de futebol de Muidumbe

Decapitações, que terão sido realizadas entre os dias 6 a 8 de novembro, tinham sido desmentidas pelo governador de Cabo Delgado

Sobreviventes do massacre de Muidumbe relataram à VOA nesta segunda-feira, 16, o “desespero” e a “agonia” de mais de 50 pessoas decapitadas num campo de futebol local, confirmando os rumores das execuções em massa perpetradas por grupos armados em Cabo Delgado.

Na semana passada, vários órgãos de comunicação moçambicanos e internacionais, relataram o sequestro de 50 pessoas que depois foram decapitadas num campo de futebol, que se transformou em átrio de execuções, na aldeia de Muatide.

As decapitações, que terão sido realizadas entre os dias 6 a 8 de novembro, foram desmentidas poucos dias depois pelo governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, mas condenadas “veementemente” pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, que instou as autoridades a conduzirem uma investigação.

“As pessoas estão a morrer”, disse à VOA um professor do ensino secundário, que sobreviveu ao massacre e que se encontra refugiado em Mueda.

“As pessoas são sequestradas das aldeias e seus esconderijos e, ou, ao tentar ir recuperar alguma coisa (alimentos) em casa, logo são apanhadas e, depois levada para sua execução no campo” precisou.

Outro sobrevivente disse que várias vítimas decapitadas foram levadas de aldeias vizinhas de Muatide e executadas no campo de futebol da aldeia, usado para o extermínio.

 “Estas decapitações estão a acontecer em Muatide. Quando os insurgentes entraram no primeiro dia não fizeram isso, mas no segundo e terceiro dias levaram pessoas das aldeias para o campo de Muatide e executaram” acrescentou.

O professor e outras pessoas tinham regressado à aldeia para cumprir o aviso do administrador para a retoma obrigatória, no dia 2 de Dezembro, das atividades paralisadas desde abril, após a ocupação da vila pelos insurgentes.

“Algumas pessoas decapitadas conheço por nome, outras não por nome, mas sabia que viviam naquele lugar. Em Muatide a primeira pessoa a ser decapitada foi um professor, já em Muambula foram decapitados alguns régulos e outras pessoas”, revelou outro sobrevivente.

O portal de noticias Pinnacle News avançou que centenas de vítimas foram registadas no massacre de Muatide e “cerca de 40 decapitações” noutras aldeias, incluindo de muitas crianças com menos de 15 anos, surpreendidas num rito de iniciação.

A notícia da descoberta de corpos desmembrados de pelo menos “cinco adultos e 15 menores” encontrados numa mata de Muidumbe circulou poucos dias depois da nova invasão dos insurgentes àquele distrito do interior centro de Cabo Delgado desde o início do mês.

Segundo as nossas fontes, o grupo continua a controlar a vila sede de Muidumbe e dezenas de aldeias do distrito, a par de Mocímboa da Praia, mais a norte.

A província de Cabo Delgado está a braços com ataques de insurgentes há três anos, e a estimativa de mortes é agora de duas mil pessoas, entre civis e militares.

Dados oficiais indicam haver, pelo menos, 435 mil deslocados internos devido a violência protagonizada por grupos, localmente conhecidos por al-shabab, que contam com alguma simpatia do Estado Islâmico, que já reivindicou vários ataques do grupo nos distritos do norte e centro de Cabo Delgado.

VOA – 16.11.2020

NOTA: Como será possível acreditar em governantes moçambicanos quando estes desmentem o que é evidente e comprovado?

Fernando Gil

MACUA DE MOÇAMBIQUE

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