"O Presidente sempre que abre a boca, só tira bacoradas de difícil correcção"
EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (39)
Esta quarta-feira, o Presidente demonstrou, com uma clarividência invulgar, que a vacatura de Chefe de Estado, em Moçambique, ainda continua por preencher.
O Presidente sempre que abre a boca, só tira bacoradas de difícil correcção. Acusou, o Presidente, alguns órgãos de comunicação de “manipulação da opinião pública” sobre Cabo Delgado, e chegou a considerar estarem a servir interesses dos terroristas.
E perante esta situação, o Presidente disse que o exército deve estar vigilante e pronto para agir, por forma a “não ser denegrido, deliberadamente”.
As suas declarações, Presidente, são consentâneas com o que tem sido o comportamento do Governo para a imprensa. Nunca o Governo viu a imprensa como um parceiro. Tratou-a como inimiga. E pior: o que o Presidente disse na quarta-feira soa como uma carta-branca para as Forças de Defesa e Segurança aumentarem a repressão à imprensa.
Aquele discurso não pode ser de um Chefe de Estado. Nada! Ademais: para mim- e acho que há muitos por ai que pensam do mesmo modo-, quem está a distorcer o que realmente acontece em Cabo Delgado é o Governo.
Manipula os factos e nunca permite que interessados entrem no teatro de operações para tirarem as suas conclusões. O Governo diz o que lhe aprouver. E me parece que a zanga do Presidente, na quartafeira, foi por as pessoas não acreditarem mais nas mentiras do Governo.
Embora não haja citado nomes, eu ainda acho que os órgão de informação que o Presidente acusa de estarem ao serviço dos terroristas, falam a verdade. E é preciso ter muita coragem para o fazer em Moçambique. É preciso ser livre, não ser subserviente, oportunista e puxa-saco. É preciso ser sempre verdadeiro e sem as máscaras da hipocrisia. Amar a verdade, porque somente ela liberta!
O seu discurso da quarta-feira, Presidente, até parece de um ingénuo. De alguém que faz política sem o conhecimento da estratégia de acção política. É, de resto, um discurso escandaloso, mas não surpreendente, pois nenhum analista, minimamente sério, poderia esperar outra coisa do Presidente.
Ou seja, habitou-nos a bacoradas! Tudo o que o Presidente disse, ao fim do dia, soa como uma desculpa, uma preguiça, para não sair ao terreno de trabalho político sério.
Ao invés de atacar a comunicação social, gerir intrigas, o Presidente devia se fazer ao terreno de trabalho político árduo. Do Comandante-em Chefe das Forças de Defesa e Segurança espera-se seriedade na abordagem deste conflito.
Por isso, se o Presidente não é essa pessoa que deve trazer uma estratégia militar e política válida para acabar com a guerra em Cabo Delgado, sê razoável: abandona o cargo!
DN – 27.11.2020
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