"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



segunda-feira, 23 de novembro de 2020

 

MUIDUMBE E O DESESPERO DA FRELIMO NO NORTE E NO CENTRO DE MOÇAMBIQUE

Por Francisco Nota Moisés

Os observadores parecem ser incapazes de dizer se a Frelimo obteve uma vitória militar e infligiu baixas aos guerrilheiros rebeldes em Muidumbe ou o que aconteceu foi uma retirada táctica dos combatentes que podem regressar à vila como faziam em Mocímboa da Praia para derrotar o inimigo de vez.

Todavia, tudo parece indicar que o que aconteceu foi uma retirada, se os rebeldes estiveram realmente dentro da vila. Guerrilheiros não podem se instalar e se repimpar numa vila destruída sem água nem comida, sabendo que podem ser vitimas de ataques por helicópteros e aviões ou por comandos helitransportados, tipo de soldados que a Frelimo parece não ter,  Se os tivesse, ela teria atentado um ataque suicida em Mocímboa da Praia onde os guerrilheiros não estão dentro da vila, mas sim em redor onde se camuflam na vegetação e podem contra-atacar durante ou depois da aterragem dos comandos.

Quando atravessei a vila de Morrumbala na Zambézia de motorizada por três vezes em 1986, a urbe estava deserta com casas pretas com fumo como sinal do combate que lá se travou para expulsar as forças da Frelimo, mas sem pessoas. Talvez por duas vezes alguns fantasmas na vila se riram do comandante da Renamo e de mim atrás dele na motorizada ou pela terceira vez de Afonso Dhlakama  e de mim atrás da sua motorizada.  

A base da Renamo estava ao sul da vila escondida nas mangueiras e laranjeiras onde havia um babuíno amarrado a uma mangueira.  Os guerrilheiros zimbabwenos, de acordo com um livro sobre os Selous Scouts que eram comandos rodesianos que li, descobriram que babuínos ouvem sons de aviões muito antes dos ouvidos humanos.  Quando babuínos saltitam e se agitam é indicação de que aviões inimigos estão aproximar e é tempo para os guerrilheiros se retirarem para evitarem bombardeamento e ataques. Os populares viviam nas suas aldeias não muito longe da base. 

Vi a mesma cena de desolação na vila de Chemba, Sofala, em 1989.

E as imagens do Bernardino Rafael, o chefe da polícia do Nyusi e da Frelimo e da sua soldadesca, certos barrigudos e sem motivação aparente nas suas caras, nao parecem dizer a verdade.  As imagens mostram homens e equipamento não na vila, mas  basicamente em perto duma vila que pode na verdade ser Mueda e o pouco da vila que se monstra não parece ser Muidumbe que foi apresentado como uma urbe completamente vandalizada num vídeo colocado no Pinnacle News alguns meses atras, coisa que fez Felipe Nyusi chorar perante a vandalizada clinica onde, como se disse, nasceu e foi tratado na sua infância e adolescência. 

Se se trata de Muidumbe, onde os rebeldes entraram tanta vez, eles estão em  volta e podem  lá ir para afugentar a soldadesca da Frelimo para obter armas, munições e outros abastecimentos como faziam antes de tomar Mocímboa da Praia de vez.

Mas dramático ainda nas palavras do Bernardino Rafael é o facto dele ter apelado para negociações com os rebeldes a quem no passado ele dera um ultimato para se entregarem dentro de 15 a 20 dias, coisa que não aconteceu e em resposta os rebeldes transformaram os seus ataques iniciais numa verdadeira guerra. Sabe-se, porem, que a Frelimo incumbiu aos lideres muçulmanos em Cabo Delgado para contactarem os rebeldes para ela poder negociar com eles, o que é um sinal de fraqueza e de derrota da Frelimo. Contrariamente a Afonso Dhlakama que não viu no choramingar da Frelimo para negociações como o sinal de desespero por causa da sua derrota militar, estou convencido que os rebeldes do Norte e Mariano Nhongo no centro apreciam que  tais apelos e tréguas insinceras declaradas pela Frelimo são um desespero da Frelimo e desencadearão maiores ofensivas para se colarem em posição de maior força.

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