26/04/2020
O reitor da Universidade de Moçambique (UDM) e filósofo moçambicano Severino Ngoenha antevê que o impacto da covid-19 debilite a economia do país ao ponto de o Governo se concentrar na Defesa e no pagamento da dívida externa.
"O essencial da nossa economia vai ser para a dívida externa e a outra parte vai ser para o esforço militar", considera Severino Ngoenha, em entrevista à Lusa.
A pandemia da covid-19 encontra Moçambique com um elevado serviço de dívida pública e com dois palcos de violência armada, uma na região centro e outra no norte, assinala Ngoenha.
O adiamento da decisão final de investimento de um dos dois consórcios de exploração de gás na bacia do Rovuma, norte de Moçambique, na sequência do impacto da pandemia, ensombra as perspetivas económicas do país, acrescentou.
A petrolífera norte-americana ExxonMobil anunciou oficialmente no início do mês o adiamento, sem prazo, da decisão final de investimento para o seu megaprojeto de gás natural nas jazidas Mamba da Área 4 no Norte de Moçambique, onde a portuguesa Galp é parceira. Está previsto que o megaprojeto produza 15 milhões de toneladas por ano (mtpa) de LNG, lado a lado com 12,88 mtpa que a Área 1, liderada pela Total, prevê fornecer a partir de 2024 - a Total mantém os prazos, apesar da pandemia.
"Nós somos uma economia que vive daquilo que os outros dão. Se as economias do mundo entrarem em pânico ou em grandes dificuldades, nós vamos ficar mais debilitados", sublinha Severino Ngoenha.
A degradação da situação económica pode acentuar o endividamento do país junto de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM), tornando o serviço de dívida mais incomportável.
O reitor da UDM, instituição de ensino privado, assinala que as famílias pobres tenderão a ficar mais depauperadas e os serviços sociais poderão sofrer um desinvestimento, como resultado do impacto da covid-19.
Severino Ngoenha frisa que Moçambique não será exceção em África quanto ao grande impacto negativo da pandemia, tendo em conta que a maioria dos países do continente é dependente da exportação de produtos primários e do investimento externo.
"O enfraquecimento das economias africanas pela covid-19 devia levar-nos a uma introspeção, que nos ajude a pensar que temos que priorizar a produção interna", sublinha Severino Ngoenha.
A pandemia da covid-19 deve interpelar a humanidade para a necessidade de uma solidariedade universal, porque a escala da doença mostra que há ameaças que não conhecem fronteiras, defende Ngoenha.
"Fazemos parte de uma única humanidade e é preciso, de facto, pensarmos como seres que pertencem a um único mundo", destaca o reitor da UDM.
LUSA – 26.04.2020
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