12/04/2020
INSURGÊNCIA MILITAR EM CABO DELGADO - O que joga a desfavor das Forças de Defesa e Segurança?
Pretendo trazer o que eu acho que poderá estar a contribuir para a ineficácia do combate aos insurgentes em Cabo Delgado nomeadamente:
- Durante muito tempo, desde o AGP de 1992, não só se desmantelou as forças armadas (poderosas, se estão recordados dos antigos Boinas Vermelhas, o batalhão Nyanga, o batalha Dhayane que operou no Norte se Inhambane, a BIT - Brigada Independente dos Transportes, entre outros) que tínhamos, assim como não houve nenhum investimento à posterior nas mesmas, particularmente no Exército.
Todo o material militar que o exército tinha foi vendido, não pelo Estado, mas sim por um punhado de pessoas que estava à frente ou na liderança das Forças Armadas. Ninguém é capaz de nos dizer onde foram as centenas de tanques e blindados de guerra que o país tinha até 1992. Ninguém é capaz de nós dizer onde andam os Helicópteros MI 8 e os MI 24/25 que a Força Aérea tinha. E os MIG 17 e 21 que tínhamos, onde foram parar? Que eu saiba, há países asiáticos que ainda hoje usam o velho MIG 17 na sua força aérea, para não falar do MIG 21 que até alguns países europeus com forças armadas mais avançadas do que o nosso, ainda o usam ou o mandaram atualizar. Hoje, nem avião de guerra para treinar pilotos da força aérea temos. Nós desmantelados os nossos MI 8 mas, se repararmos em muitas operações das Nações Unidas, veremos elas usam, preferencialmente o Helicóptero MI 8, para não falar do MI 25/35 que são eminentemente de combate. Toda a capacidade da nossa força aérea foi vendida aos olhos de todos nós, tal como muitos quartéis e servidões militares também foram abocanhados por um punhado de indivíduos, as servidões militares foram parceladas para nelas se construir condomínios que serviram um punhado de pessoas: tudo foi desmantelado sob pretextos diversos mas, no fundo, eram punhados de malandros que estavam a apunhalar a pátria pelas costas e hoje, os mesmos estão aí a assistir a nossa desgraça coletiva.
- Durante muito tempo, por ignorância ou não, negligiou-se o processo de recrutamento de mancebos para, no mínimo perfazer-se os 30.000 homens que o AGP preconizava para as FADM e, nos casos que se fez recrutamento para o exército os mesmos que apunhalavam o Estado pelas costas, viram no Exército regular o palco ideal para dar emprego aos seus filhos, sobrinhos, primos, netos, amantes e tantos outros a quem interessava acomodar e, por inerência disso, os mesmos foram sendo patenteados de escalão em escalão até atingirem o topo. Hoje, são esses sobrinhos e c.ia Lda. que estão a frente de certos ramos e setores das nossas FDS, no caso, o exército. Tudo foi sendo feito sem se pensar que Moçambique, um dia teria desafios reais.
Pensou-se, no clubismo nepotista que Moçambique seria um país de paz eterna mas hoje, a verdade é está, nua e crua.
3. Em tempos de paz, não se preparou um exército para os tempos de guerra, o Serviço Militar foi transformado em um simples Serviço Civil onde qualquer um poderia ir. Tal como Mohamar Gadafi fazia, de se rodear de legião de meninas-militares, cá entre nós também começou a notar-se isso em certos chefes militares ou das FDS que parecia que se sentiam bem quando rodeados de meninas-soldados ou meninas-policias e, nalguns casos, tudo era feito sob capa de igualdade entre o homem e a mulher só que, hoje, a situação é outra.
3. Em tempos de paz, não se preparou um exército para os tempos de guerra, o Serviço Militar foi transformado em um simples Serviço Civil onde qualquer um poderia ir. Tal como Mohamar Gadafi fazia, de se rodear de legião de meninas-militares, cá entre nós também começou a notar-se isso em certos chefes militares ou das FDS que parecia que se sentiam bem quando rodeados de meninas-soldados ou meninas-policias e, nalguns casos, tudo era feito sob capa de igualdade entre o homem e a mulher só que, hoje, a situação é outra.
Se perguntar não ofende, quantas dessas damas estão no Norte de Cabo Delgado? Porque não as mandam? Não as recrutaram para defenderem a pátria? Não as puseram a fazer juramento à Bandeira e à Constituição da República? Nisto tudo, saibamos que elas não são as culpadas. Os culpados são os donos da situação.
Ainda nessa senda de transformar o Serviço Militar em serviço de Administração Pública vulgar, vimos vídeos de mancebos a reclamar o tratamento nos quartéis, o exemplo que retenho é de um grupo de jovens mancebos que, à chegada no Centro de Preparação Militar, cada um tinha de entrar e percorrer certa distância com a sua mala, mochila ou sacudú na cabeça, andando de cócoras. Houve reclamações de aquilo ser violação dos Direitos Humanos, que era desumano entre tantos comentários, como se Serviço Militar ou Policial fosse uma formação para se ser funcionário bancário ou hospedeira de avião, entre outras profissões de gente fina e bem cheirosa.
- Para alguns atentos, a dado momento, ficou a impressão de que a desmobilização dos antigos efetivos fosse uma guerra para afastar os que não estudaram, para darem lugar aos que estudaram ou seja, tal como no funcionalismo público, qualquer um traz um diploma de licenciatura de uma área qualquer, adquirida numa dependência qualquer, só para melhorar o salário, no Exército, parece que se caiu no mesmo estilo. Mandou-se para casa muito a estratégias militares da guerra dos 16 anos ( para não falar dos veteranos da luta de libertação nacional cujas idades o justificavam). No lugar desses verdadeiros estrategas militares foram promovidas pessoas que, diariamente traziam diplomas entre verdadeiros e outros de qualquer coisa e hoje, esses mesmos, não são capazes de sentar Conceber Estratégias e planificar Operações Militares contra aqueles malfeitores de Cabo Delgado.
Hoje, o nosso exército em certa medida parece-se muito com o exército da Nigéria que está cheio de oficiais e generais de altas potências mas, em termos operativos é zero ou quase zero; não consegue conceber uma estratégia para conter o Boko Haram e, em contrapartida, o exército do Chade, mais pobrezinho, se mostra mais eficiente no combate ao Boko Haram. O exército do Chade disciplina mais o Boko Haram do que as Forças Armadas da Nigéria.
Se a gente perguntasse hoje aos nossos generais, no activo sobre o que fazer em Cabo Delgado, creio que alguns dariam opiniões e estratégias bem piores do que as minhas que não estou lá e nem tenho isso como minha responsabilidade.
Na minha santa ignorância, eu penso que a luta contra os insurgentes de Cabo Delgado, maioritariamente nativos e unidos por laços linguísticos e religiosos, não é compatível com a estratégia de excesso de rotatividade da tropa ou das FDS. A rotatividade excessiva permite que todos passem por lá, que todos descansem em casa mas tem ima grande desvantagem: cada novo grupo que chega, e novo grupo de militares inexperientes mais fáceis de serem mortos do que eles matarem um insurgente. Rotatividade excessiva não permite a um militar ter o domínio do terreno e das artimanhas do inimigo. Lutar contra uma guerrilha exige certa experiência que só se adquire com o tempo é no terreno e, é pouco compatível com diplomas escolares. Os militares destacados para a frente de combate precisam de estar por lá durante um tempo razoável que lhes permita aprender e saber com o inimigo age, como faz as suas incursões, quais as suas rotas e bases, estando no mato, um militar tem de ser capaz de distinguir o movimento do capim quando causado por vento, por uma cobra, por um quadrúpede do tamanho de uma ratazana e destrinçá-lo dos movimentos provocados por um homem camuflado. Um militar na frente de guerra não dorme apenas pernoita, militar não tira roupa e botas para passar a noite, passa-a com botas, fardamento, cartucheira e arma na mão. O comandante tem de ter o faro em que o seu corpo lhe anuncia que ha6um perigo que está a aproximar e ser capaz de pôr a sua tropa de prontidão, um comandante experiente só de soneca, tem de ser capaz se sonhar que algo de anormal de aproxima, um comandante experiente, quando entra no mato tem de ser capaz de saber ler as pegadas do inimigo, soldado experiente tem de ser capaz de sentir o cheiro do inimigo, se nalgum sítio se estiver a fazer fogueira, ser capaz de farejar o fumo, se um cão ladrar a noite, ser capaz de interpretar essa mensagem, se estiver com um cão e este desatar a correr, ser capaz de perceber que é sinal de perigo, se certas aves aparecerem numa vasculha pela mata, ser capaz de saber que, apesar dos diplomas que tem, aquele animal ou ave é símbolo de perigo ou azar, é sinal de que o dia não está bom, o comandante tem de ser capaz de avisar os seus homens dos perigos que se aproximam. O militar que dorme na frente de guerra tem de saber que pode nunca acordar mais.
Ir a frente de guerra com celulares para ir fazer vídeos nos quais reclama lugar para dormir, tal não é de um militar em quem se deve confiar. Tal como nas salas de exames se baniu os celulares, na frente de guerra igualmente deveriam ser banidos mas para isso, os comandos e comandantes terão de ser os primeiros a dar exemplo.
O celular quando mal usado, desorienta um exército, provoca pavor e desnorte. Um militar deve ser treinado no quartel sobre todas as condições que ele poderá encontrar ao longo da carreira, incluir passar fome, entre outras privações que, sem que sejam castigos, servem para preparar homens para todas as situações. É no treinamento que, aqueles que não se adaptarem, deveriam ser sumariamente dispensados.
Tropa não é lugar de Whatsaap, Facebook Istagram ou Twitter; não lugar onde se põe farda só para fazer fotos para publicar nas Redes Sociais. Tropa é lugar da forja do Homem novo.
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