"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Agora está mais que claro...


Julião João Cumbane

Agora está mais que claro...


É assim:

1. Em 1986, Samora Machel morre, vítima de um acidente de aviação em Mbuzini, África do Sul. Esse acidente foi orquestrado com requinte, para matar Samora e, assim, impedir o prosseguimento da implementação das suas políticas anti-corrupção e pró-desenvolvimento económico e social inclusivo em Moçambique. Conspiraram para matar Samora, agentes internos e externos... (Não quero me alongar com este assunto.)

2. No mesmo ano (1986), Joaquim Chissano é eleito Presidente da FRELIMO e, por essa via, Presidente da República Popular de Moçambique, Estado de partido único. Essa eleição era previsível, porque depois de Samora não havia melhor escolha para dirigir a FRELIMO e os destinos do povo moçambicano... (Também aqui não quero me alongar.)

3. Em 1987, o Governo de Moçambique, então liderado por Joaquim Chissano, inicia a implementação do Programa de Reabilitação Económica (PRE), que introduz o sistema de economia de mercado em Moçambique. É na sequência da introdução deste programa que Moçambique começa a receber apoio financeiro directo do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM). O PRE fora sido concebido com Samora Machel ainda em vida...

4. A intervenção do FMI e do BM em Moçambique estava condicionada à liberalização do mercado nacional. Esta liberalização matou a indústria nacional, que então estava debilitada pela guerra de desestabilização movida contra o jovem Estado moçambicano pelos inimigos da independência de Moçambique, usando um movimento terrorista que mais tarde veio a ser conhecido pela designação de "Renamo Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO)", tendo como rosto o já falecido Afonso Dhlakama, que chegara à lderança deste movimento sucedendo a André Matsangaíssa, morto em combate pelas forças governamentais, em 1979. Por causa desta guerra, a indústria nacional moçambicana não estava habilitada para competir com a indústria bem estabelecida do Ocidente, que inundou o mercado nacional com os seus produtos de "melhor qualidade" a  preços baixos.

5. Tacitamente, a intervenção do FMI e do BM em Moçambique também estava condicionada à marginalização das instituições responsáveis pela defesa da independência, soberania e legalidade. É assim que o Governo de Moçambique, então dirigido por Joaquim Chissano, inicia a marginalização das forças de defesa e segurança e do sistema de administração da justiça, que passam a não receber dotações orçamentais que lhes permitissem funcionar adequadamente. Isto abriu caminho para a generalização da corrupção, num contexto de uma economia de guerra.

6. Em 1990 ocorre a abolição oficial do regime nomopartidário em Moçambique, com a aprovação da nova Constituição da República, que introduz o regime multipartidário. No mesmo ano (1990), iniciam-se as negociações directas com a RENAMO, que conduziram ao fim da guerra de desestabilização.

7. Em 1992 é assinado o Acordo Geral de Paz (AGP), nos termos do qual a RENAMO é transformada de movimento de gerrilha terrorista para partido político. Inexplicavelmemte, Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama, os dois signatários do AGP, não concluíram a implantação deste acordo, tendo a RENAMO ficado com uma guarda armada em situação de ilegalidade. Entretanto, os dois líderes periodicamente tomavam café juntos... (Cada um tire as suas ilações.)

8. Em 1994 realizam-se as primeiras eleições multipartidárias na história de Moçambique independente, ganhas pela FRELIMO. A vitória da FRELIMO nestas e subsequentes eleições até hoje (2019) NUNCA agradaram os inimigos da independência de Moçambique, que sempre encontram formas de manter o país política e militarmente instável, usando a RENAMO.

9. Para melhor manter Moçambique numa situação de instabilidade política e militar, e propiciar a perpetuação da dependência da economia nacional do financiamento do FMI e do BM, o capital Ocidental financiou a criação de uma burguesia nacional moçambicana, a qual começou a sequestrar a FRELIMO, o partido no poder em Moçambique, para finalmente este partido sequestrar o Estado moçambicano. O objectivo fundamental da criação dessa elite para sequestrar a FRELIMO e o Estado era facilitar a materialização dos interesses económicos do capital Ocidental em Moçambique... (Não quero acreditar que Joaquim Chissano, então Presidente da República de Moçambique, não se tenha apercebido dessa manobra imperialista.)

10. Foi bem pensado, pelos donos do capital investido na reabilitação da economia moçambicana, que com o Estado moçambicano sequestrado por uma elite política e empresarial local, infiltrada na FRELIMO, o eleitorado moçambicano um dia acabaria por se revoltar contra este partido, e preferir a ascenção ao poder de uma força política mais simpática com o Ocidente do que com o Oriente, contanto que, por razões históricas, a FRELIMO é mais simpática com Oriente e suas políticas públicas são tendencialmente da esquerda.

11. Este desiderato de colocar o eleitorado contra a FRELIMO estava a ser conseguido. Porém, em 1999, quando a FRELIMO quase perdeu as eleições, ainda não havia garantias de que um outro partido político no poder em Moçambique poderia melhor atender os interesses do capital estrangeiro neste país. É assim que surge um acordo tácito entre a elite política e empresarial infiltrada na FRELIMO e o capital Ocidental, para este assegurar a manutenção da FRELIMO no poder. É esse acordo tácito que leva aos abusos do poder que se assistem em Moçambique desde 1999 à esta data (2019).

12. A confirmação da existência de enormes reservas de carvão mineral na Bacia Carbonífera de Tete, no Centro de Moçambique, e de gás natural na Bacia do Rio Rovuma, no Norte deste mesmo país, gera um conflito entre a elite política e empresarial moçambicana, infiltrada na FRELIMO, e o capital Ocidental. Tal conflito surge porque, depois da negociação para a exploração do gás de Pande e Temane, no Sul de Moçambique, ter dado largas vantagens comerciais ao capital estrangeiro, a elite política e empresarial moçambicana, infiltrada na FRELIMO, já queria negociações mais justas para a exploração do carvão de Tete e do gás do Rovuma. É este conflito de interesses que trás de volta a situação de instabilidade político-militar acentuada, com a RENAMO recorrendo ao uso da força das armas para resolver diferendos políticos com a FRELIMO, em 2012. Isto ocorre depois de 20 anos de uma paz relativa, que eu sempre chamei de paz pobre, uma vez que, tendo uma guarda armada privada, a RERNAMO sempre ameaçou recorrer ao uso dessa força para fazer valer as suas reivindicações políticas.

13. Recentemente, a captura e detenção de Manuel Chang, ex-Ministro das Finanças do Governo de Moçambique no consulado de Armando Guebuza, na África do Sul, a pedido da justiça federal norte-americana, expôs tristemente que a elite política e empresarial moçambicana é que tem vindo a paralisar o sistema de administração da justiça em Moçambique. Afinal não é por acaso que o Serviço Nacional de Informações e do Estado (SISE), o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), a Procuradoria Geral da República (PGR), os tribunais e demais instituições do Estado moçambicano funcionam deficientemente. Assim ocorre porque o Estado está sequestrado por um grupo de bandidos inflitrados na FRELIMO, que se tem apoderado de todas as oportuindades de negócios criadas por este Estado. (Para saber como se sequestra um Estado, veja aqui: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=1953571764760833&id=100003240858235.)

14. Joaquin Chissano e Armando, enquanto líderes da FRELIMO, não tiveram como evitar o sequestro deste partido político histórico de Moçambique por tal elite política e empresarial, que já desvirtuou o seu ideal. Antes pelo contrário, Chissano e Guebuza deixaram-se também capturar pelos sequestradores, se não foram eles próprios que conduziram o processo de sequestro da FRELIMO e do Estado moçambicano. Isto explica que os governos liderados por qualquer dos dois, cada um nó seu tempo, tenham marginalizado as forças de defesa e segurança, a educação, a saúde e as instituições de administração da justiça...

15. A confirmação da existência de enormes reservas de gás natural na Bacia do Rovuma, no Norte de Moçambique, fez antecipar oportunidades de negócios altamente lucrativos na zona ecnómica exclusiva deste país no Oceano Índico. É assim que nasce a necessidade de fortalecer a soberania de Moçambique sobre a sua zona económica exclusiva no Oceano Índico. Porém, a ideia de conceber e implementar um projecto para esse fim foi exportada pela Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos da América (EUA) para Moçambique, através de um agente seu, pretensamente libanês. (Isto deduz-se facilmente da leitura do recente despacho de acusação contra Manuel Chang, expedido pela justiça federal dos Estados Unidos da Amércia.) Tal exportação da iniciativa da CIA para Moçambique inicia-se com a criação, pelo agente "libanês", de uma associação para delinquir, envolvendo quadros do SISE e do Ministério das Finanças da República de Moçambique, no último mandato de Armando Guebuza. Foi essa associação para delinquir deliberou convencer Armando Guebuza da necessidade de assegurar melhor defesa e protecção da zona económica de Moçambique no Oceano Índico, através da criação de três empresas públicas de direito privado, nomeadamente Empresa Moçambicana de Atum (MATUM), PorIndicus e Mozambique Asset Management (MAM).

16. O agente "libanês" ficou responsável não só por supervisionar a elaboração dos projectos para a criação das três empresesas moçambicanas, mas também por negociar os empréstimos financeiros para o efito, junto aos bancos CREDIT SUISSE e VTB. Isto requereu o envolvimento pessoal de altos funcionários dos dois bancos para a facilitação dos créditos solicitados, os quais deveríam ter garantias soberbas do Estado moçambicano, que vieram a ser assinadas por Manuel Chang, então Ministro das Finanças da República de Moçambique.

17. A CIA antecipou-se a exportar a ideia da defesa e protecção da zona económica exclusiva de Moçambique no Oceano Índico, para evitar que a iniciativa do projecto partisse do Estado moçambicano, caso em que poderia ser complicado o capital Ocidental—especialmente o capital norte-americano—apropriar-se das oportunidades de negócios fabulosamente lucrativos que o início da exploração do gás da Bacia do Rovuma estava a trazer para a zona do Oceano Índico. Ou seja, o agente "libanês", o verdadeiro "mastermind" do projecto de defesa e protecção da costa e das águas marítimas moçambicanas, sabia que aquelas empresas não era para operarem no interesse de Moçambique, mas sim no interesse do capital estrangeiro. O Estado moçambicano só teria que criar as empresas para depois as vender. Isto explica que mais do metade dos dinheiros concedidos em créditos pelo CREDIT SUISSE e pelo VTB tenham sido gastos em pagamentos de comissões e subornos aos envolvidos na materialização do projecto. A "gang" toda sabia que aquelas empresas não teriam como funcionar, excepto mediante sua venda a investidores estrangeiros, o povo moçambicano pagando pela dívida fraudulentamente contraída para a criação das mesmas (empresas).

18. Esta operação da CIA em Moçambique, que doravante é designada "operação EMATUM", é pensada e levada a cabo, claro, sem o conhecimento do Governo Federal norte-americano. O seu objectivo fundamental não é outro senão defraudar os investidores que compraram os títulos das dívidas das três empresas criadas para não funcionarem, o que levará à necessidade de accionar garantias soberanas para o povo moçambicano pagar por essas dívidas. Foi bem calculado que a "descoberta" de dívidas contraidas ilegalmente com garantias soberanas ia causar uma onda de indignação e revolta nacionais, e consequente contestação da liderança do Estado e do povo moçambicanos pela FRELIMO, e assim facilitar a ascenção ao poder de um partido político júnior na governação—i.e. que ainda não entende de negócios de Estado—, com cujo Governo será mais fácil o capital Ocidental negociar a tomada de oportunidades de negócios altamente lucrativos em Moçambique, com o beneplácito do povo desavindo com a FRELIMO.

19. Este é o intricado esquema de um golpe contra a FRELIMO, que Joaquim Chissano e Armando Guebuza, e uma corja de bajuladores e gananciosos, não conseguiram descortinar, resultando agora que meteram a FRELIMO, o Estado e povo moçambicanos em maus lençóis. Foram 32 anos (1987–2019) de estudo acturado e sistemático, tentando colocar a FRELIMO de rastos, com o povo virando as costas contra ela. E está a acontecer facilmente, porque elite empresarial que emergiu em Moçambique depois da morte de Samora Machel perdeu o sentido de responsabilidade política e patriótica, "embebedada" pelos dólares americanos obtidos de "empréstimos" ou "donativos" pelos parceiros de cooperação, enquanto se refasteleva com salários e mordomias luxuosas pagas pelos impostos do pacato povo, a quem o Estado nunca conseguiu bem-servir desde a eclosão da guerra de desestabilização, iniciada em 1977.

20. Claramente, a guerra é afastar do poder em Moçambique a elite política e empresarial que capturou a FRELIMO e o Estado moçambicano, financiada pelo capital Ocidental, e que já ficou relativamente esperta (em opisição a ficar "inteligente") e quer perpetuar-se no poder a todo o custo, razão pela qual vira as costas ao Ocidente e se alia cada vez mais ao Oriente.

21. Enfim, como se pode já facilmente depreender, Moçambique é actualmente um palco de uma guerra económica entre o Ocidente e a emergente burguesia nacional, que capturou a FRELIMO e o Estado moçambicano, e que já não prefere continuar facilitando negócios que mantém este país no ciclo da dependência económica, como forma de se perpetuar no poder para melhor defender os seus interesses económicos. Só que para continuar no poder, esta emergente burguesia nacional só tem uma saída: devolver a FRELIMO e o Estado moçambicano ao seu legítimo proprietário—o povo moçambicano. Mas tal significa que o capital Ocidental vai continuar a financiar a instabilidade!


Epílogo

O que fazer?

A resposta para pergunta (acima) está lacrada e só interessa a vós que capturastes a minha FRELIMO e o meu Estado. A vossa gula está a pôr em causa os vossos próprios interesses individuais, a independência nacional que é todos nós (moçambicanos), e a soberania do povo. Essa vossa gula está a retardar o progresso sustentável de Moçambique e a prosperidade dos moçambicanos. E para piorar, ultimamente vejo que tendes a ficar faccionados, enfraquecendo uma FRELIMO já de si debilitada pelos golpes que tem estado a receber da CIA, com a vossa ingénua cumplicidade, por terdes transformado o Estado no covil de bandidos e traidores da Pátria. Esse faccionamente—que coloca de um lado os apoiantes de Filipe Nyusi e doutro lado os seus adversários internos e externos—só propiciará a derrocada da FRELIMO nas próximos pleitos eleitorais.

A única solução que tendes é não tentar desvirtuar a decisão saída do XI Congresso da FRELIMO, que elegeu Filipe Nyusi como seu único candidato para a eleição presidencial agendada para ter lugar no mês de Outubro do corrente ano (2019). Ficai unidos em torno do Filipe Nyusi, pois só assim a vitória da FRELIMO estará garantida!

Neste entretanto, iniciai a retomada do ideal original da FRELIMO, devolvendo o poder e o prestígio das instituições do Estado; melhorando a qualidade do ensino; humanizando os serviços de saúde; profissionalizando as forças de defesa e segurança; melhorando o ambiente de negócios; investindo mais no ensino superior e na investigação científica e tecnológica; e dinamizando mais a economia, através da construção de mais estradas e pontes para a promoção do desenvolvimento rural. Isto tudo é possível com apoio internacional, se os impostos dos contribuintes forem direccionados não para o pagamento dos vossos ordenados de luxo e demais barganhas, mas sim para investimentos e infraestruturas económicas e sociais, e financiamento da economia.

Ouvistes?

A ver vamos!

Eu disse.

Palavra de Honra!



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