quinta-feira, 24 de janeiro de 2019
O Director da Chatham House, Alex Vines, advertiu que a insegurança no norte de Moçambique parece favorecer a presença de empresas de segurança privada na região, mas apelou às companhias petrolíferas e ao Governo para evitar o uso de mercenários. “Há claramente um papel para a segurança privada [na região de Cabo Delgado], não tenho dúvidas, mas o tipo de propostas que Erik Prince tem feito certamente não é apropriado para a situação, apesar do forte lobby que ele e vários dos seus consultores têm feito”, disse Vines, falando à Lusa.
Erik Prince, fundador da Blackwater Security, uma empresa de segurança privada conhecida pelas suas actividades no Iraque, e presidente do Frontier Services Group (FSG), rubricou um acordo de parceria em Dezembro de 2017 envolvendo uma das empresas estatais moçambicanas ligadas à ocultação da Ematum, escândalo da dívida.
O mesmo empresário também esteve nos holofotes dos media, em Maio do ano passado, por supostamente ter selado um entendimento de parceria avaliado em 750 milhões de USD entre uma das suas empresas - a Lancaster 6 Group, sediada em Dubai - e a Proindicus, outra companhia moçambicana envolvida no escândalo da dívida oculta, criando uma empresa chamada Pro6 e projectada para oferecer serviços de segurança na região.
“A luta contra a seita militante que está a operar em Cabo Delgado requer uma abordagem muito mais subtil do que a que Prince está a tentar fazer”, diz Vines. “Prince é apenas uma das muitas pessoas que ofereceram consultoria e aconselhamento ao Governo moçambicano. Mas se o Executivo moçambicano quiser avançar para empresas de segurança privada, acho que elas devem ser escolhidas com muito cuidado ”.
Vines também sublinha que “aconteça o que acontecer, é também necessário que estas empresas de segurança privada trabalhem em colaboração com o exército e as forças de segurança moçambicanas”. Utilizar apenas empresas de segurança “não resolverá o problema. Qualquer resposta [satisfatória] à questão da segurança em Cabo Delgado implica o envolvimento do Estado numa relação muito mais subtil com a população, incluindo uma dimensão de desenvolvimento social”, afirma.
No início deste mês, Vines organizou uma reunião na Chatham House, na qual participaram especialistas e representantes de companhias de petróleo que se preparam para iniciar a extracção de gás liquefeito na região. Recusou-se a comentar as preocupações ou intenções das empresas petrolíferas com interesses na zona - Anadarko, Exxon Mobil, Eni, Galp, etc, alegando que a reunião era confidencial. (Carta)
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