30/11/2018
EDITORIAL
Mais de um ano depois do toar dos primeiros tiros em Mocímboa da Praia, no norte da província de Cabo Delgado, já se perdeu a contagem do número de mortos, da mesma forma que ainda continuam desconhecidas as motivações desta insurgência.
E aquilo que inicialmente teria parecido um episódio pontual e localizado, transformou-se agora num conflito permanente, que a cada dia que passa vai-se alastrando para outros pontos daquela província, semeando a morte e destruindo o futuro de muitos cidadãos inocentes. Pessoas já de si pobres são sujeitas a uma severa brutalidade que as torna ainda mais pobres. Crianças são privadas de ir à escola, as poucas infra-estruturas do Estado existentes são destruídas em acções de uma violência gratuita que transforma os locais por onde passa em verdadeiras terras queimadas.
Só na última semana esta imparável carnificina resultou na morte de 12 pessoas em três povoados do distrito de Nangade e uma em Macomia, onde casas foram também incendiadas e destruídos tantos outros bens.
Julgando pelos pronunciamentos do Presidente da República, Filipe Nyusi, nos últimos dias, prevalece a ideia de que o governo ainda não tem uma informação sistematizada sobre quem são os autores destas barbaridades, os seus mandantes ou objectivos. Também nunca se ouviu qualquer porta-voz dos insurgentes dizer o que eles pretendem.
É um fenómeno muito estranho, e ainda sem rosto.
Na ausência de uma versão oficial sobre as prováveis causas dos ataques, qualquer interpretação ganha o seu espaço.
De entre várias versões, há uma que parece ganhar maior consistência; a que atribui estes ataques a um grupo de extremistas islâmicos que desafiam as práticas tradicionais desta religião, pretendendo substitui-las pela sua versão do islamismo, cujas práticas não são publicamente conhecidas.
Mas será que a crença numa determinada prática religiosa deve ser motivo para justificar a matança de pessoas inocentes e o vandalismo que reina naquele ponto do país?
Motivações políticas ou económicas, como tem sido ventilado em alguns sectores, não parecem ser as principais motivações. Para já, há também informações deste grupo estar a actuar em coordenação com um outro baseado na Tanzânia, cujos elementos supostamente infiltram-se em Moçambique sempre que acossados por operações levadas a cabo pelas autoridades daquele país.
Com a intensificação das acções das forças de defesa e segurança, não pode ser posta de lado a possibilidade deste grupo começar a movimentar-se para outras regiões do país.
Perante todo este quadro, parece importante que a liderança da comunidade islâmica manifeste publicamente o seu repúdio perante estas barbaridades que estão a ser cometidas em nome da sua religião. O seu silêncio, no lugar de tornar ainda mais clara a sua posição, pode contribuir para criar mais confusão sobre uma situação que já de si é bastante confusa.
SAVANA – 30.11.2018
NOTA: Reparem que a Frelimo sempre existiu com um “inimigo” armado. Estando a Renamo prestes a ser desarmada, “alguém” inventou um novo inimigo armado. A Frelimo, no país em Paz e Democracia plena passa a ser igual aos restantes partidos. E isso não pode acontecer.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
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