"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



terça-feira, 18 de dezembro de 2018

A IDOLATRIA AO BRANCO, EM MOÇAMBIQUE, COMEÇA NO BERÇÁRIO DA MATERNIDADE


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Centelha por Viriato Caetano Dias(viriatocaetanodias@gmail.com)
Quando uma sociedade não se preocupa com os seus mais novos, podem ter certeza que essa sociedade não tem futuro nenhum. Sheikh Saide Habibe – Cuidado com os filhos que educas (áudio).
Quando entrei para este tenebroso mas fascinante campo de escrita, já lá vai uma década, sabia que não escaparia a julgamentos dos leitores. As minhas reflexões não são dogmas e nem pretendem ser uma catequese para hipnotizar pessoas a pensar da mesma maneira. Nos diferenciamos dos animais porque, como dizia Ricardo Romão, aqueles não questionam nem criticam. E é por isso que os animais são nossos amigos.
Em minhas centelhas trava-se um combate cerrado, algumas “sovas” que recebi e ainda recebo, tornaram-me o homem que hoje sou. A única herança que recebi dos meus progenitores é a Bíblia para me defender dos ataques cobardes e a educação, que é a bengala de ouro na velhice. Em suma, não tenho medo de os ter (inimigos).
Grande parte das crianças de cor negra de Moçambique de hoje está a ficar desvirtuada, porque não têm a capacidade de excogitar e agir pela própria cabeça nem de perspectivar as coisas e tão-pouco conhecem a gesta do país. A pouca memória que possuem no cérebro está preenchida de futilidade, criando fortes possibilidades de se tornar uma geração analfabeta. Segundo Alvin Toffler, futurologista norte-americano, “Os analfabetos do próximo século não são aqueles que não sabem ler ou escrever, mas aqueles que se recusem a aprender, reaprender e voltar a aprender.”
O meu receio é que elas se tornem “ingredientes” e presas fáceis da neocolonização, porque estão a ser formatadas a acreditar que o seu desenvolvimento depende da cor da pele. Para elas, ter cor negra é interpretada como “castigo” divino. Começam a idolatrar o branco desde o berçário das maternidades, senão vejamos: a cor da bata dos enfermeiros é branca, as seringas são brancas; brancas são também as cores das paredes das enfermarias, os brinquedos que recebem, sobretudo bonecas (Barbie), são de cor branca, nos desenhos animados importadas da Disneylândia, os heróis são maioritariamente de raça branca, menos o enfermeiro, os sacos plásticos e os caixotes de lixo que são, geralmente, são negros. Triste sina do homem negro! 
Há mais explicações: as crianças do Moçambique de hoje nascem assimiladas e elitistas. Não falam as línguas locais, não dominam os vocábulos locais, não visitam as aldeias, estão alienados ao estrangeiro. Como diria o “famigerado” político angolano, Makuta Nkondo, “somos todos hoje europeus pintados a preto.” Mais: algumas televisões gabam-se de importar mais novelas em que as personagens principais são brancos e os “maus da fita” são negros. Os programas televisivos são predominados por conteúdos estrageiros em que o negro é sempre negro. Enquanto brasileiros, mexicanos e colombianos proporcionam, no nosso país, um show  de telenovelas anti-didácticas, as crianças de Moçambique de hoje exibem ao mundo a libertinagem do estrangeiro, desconstruindo, numa velocidade de cruzeiro, a nossa cultura.
E mais ainda: as figuras dos manuais de ensino com que as crianças de Moçambique de hoje aprendem são brancas, raramente encontramos o negro como fazendeiro, abastado, enfim, em posição de fartura. Compuseram e ainda compõem histórias de filmes nomeados com personagens negras como bandidos, arruaceiros, salafrários, etc. Somos nós, moçambicanos, ingredientes das peliculas e do sucesso do Hollywood.
As crianças de Moçambique de hoje gostam de artistas estrangeiras e até colocam como fotografia de perfil nas redes sociais. Os cadernos que não tiverem fotografias de famosos brancos, elas não recebem. Não conhecem o significado das datas históricas, ignoram os nossos heróis, para aplaudir mitologias do estrangeiro. É verdade que actualmente faltam referências governamentais, visto que a política passou a ser sinónimo da corrupção e da gatunagem, mas é grave quando as nossas crianças olvidam a história do passado colonial. Elas constroem memórias unilaterais de encarar a realidade, acreditando que África nunca teve história antes da chegada e contacto com os europeus. Nestas alturas, questiono-me, banhado em lágrimas, “cadê” o meu pai Mugabe?
Zicomo e um abraço nhúngue ao Heliodoro Bila, leitor assíduo destas minhas centelhas.
WAMPHULA FAX – 17.12.2018

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