28/12/2018
A violência na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, já começou a afetar o setor turístico. Muitos turistas estrangeiros com reservas para o final de ano optaram por cancelar.
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Na ilha do Ibo, situada no arquipélago das Quirimbas, a cerca de 80 quilómetros da capital provincial, Pemba, é possível apreciar várias espécies marinhas, praticar o mergulho em águas cristalinas e pescar. Também a beleza paisagística e arquitetónica atraem os visitantes. Ao longo da sua história, a ilha do Ibo foi sempre lugar de eleição de turistas em todas as épocas e especialmente no final de ano. Mas a situação em 2018 é outra.
Os operadores turísticos dizem que os ataques no extremo norte da província causaram um decréscimo importante dos visitantes na ilha. Os cancelamentos prejudicam o negócio, diz Chris Chris, proprietário de uma estância turística na ilha: "Eu estou aqui há quatro anos e meio e o turismo só registava subidas. Em 2018 já perdemos 25% de turismo no Ibo devido aos ataques no continente. As pessoas têm medo. Acham que há muitos problemas no Ibo. Em junho e julho tivemos 300 reservas canceladas", desabafou.
O negócio de artesanato de Atija Bakar sofreu uma quebra significativa
População afetada por quebra
Jörg Salzer, cidadão alemão que explora um hotel na ilha há mais de dez anos, também não esconde o seu desagrado com a situação. "Nos anos anteriores havia muito movimento turístico, mas sabemos que estão a acontecer ataques, embora muito mais do lado de Palma. As notícias de lá e de outros lugares são más e influenciam negativamente o nosso negócio", diz Salzer.
A situação afeta todos os ilhéus dependentes do turismo, sobretudo no comércio artesanal. Atija Bacar é gerente de uma loja que vende peças de artesanato. "Aqui vende-se roupa, colar de palha, colar de folha de mangueira, colar de matope, pasta, anel, esteira. Mas este ano o movimento está muito fraco, não há clientes", disse Bacar à DW África, salientando as implicações negativas no rendimento.
Turistas estrangeiros cancelam as reservas por medo dos ataques
Polícia reforça medidas de segurança
As autoridades do turismo em Cabo Delgado afirmam que, este ano, o desempenho do setor registou subidas na ordem de 2% em comparação a 2017. Mas Iolanda Nilza Almeida, diretora provincial de Cultura e Turismo ressalva que não se trata de um aumento significativo: "No ano passado tivemos 212.852 dormidas e este ano tivemos mais, 216.425. É certo que tivemos maior número de turistas nacionais", mas as entradas dos turistas estrangeiros recuaram bastante, disse a responsável.
A DW África informou-se junto à polícia local sobre as medidas de segurança na província, principalmente nos locais turísticos como a Ilha do Ibo. Augusto Guta, porta-voz do Comando Provincial da Polícia em Cabo Delgado descreveu a situação como calma e controlada. "Estamos reforçados em meios humanos e materiais e estaremos fazendo patrulhamento, usando todos os meios que temos nestes lugares turísticos e em toda a extensão da província de Cabo Delgado", disse Guta.
Identidade de assaltantes por esclarecer
Populares e turistas interpelados pela DW África consideram a ilha um local seguro. Um sentimento que é partilhado pelos operadores turísticos, como Jörg Salzer: "Nunca aconteceu algo mau ou violência no Ibo, nem no caminho para aqui. E nunca aconteceu nada em Pemba. Esta zona específica é bem segura, não há problemas de segurança aqui".
Os ataques de grupos armados desconhecidos nos distritos situados na zona norte de Cabo Delgado iniciaram em outubro de 2017. Durante a apresentação do seu Informe sobre o Estado Geral da Nação, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, associou o fenómeno a banditismo e prometeu medidas para neutralizar os "malfeitores".
DW – 27.12.2018
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