11/12/2018
XÍCARA DE CAFÉ por Salvador Raimundo
ESTÁ empolgado o presidente Filipe Nyusi, tanto que desafia os seus detractores com a máxima de que as suas promessas de governação, lançadas em 2015, estão cumpridas, precisamente quando se caminha para a recta final do mandato.
Um puxar da brasa que não é novo, se atentos ao ego a partir das Nações Unidas, ao gritar alto e em bom tom, que a paz, em Moçambique, se deve às suas iniciativas arrojadas.
Discurso que teve resposta célere vindo de uma voz insuspeita, Armando Guebuza, à margem de um evento público na Praça aos Heróis Moçambicanos, na cidade de Maputo, quando este apontou os ataques mortíferos e destruidores em Cabo Delgado, para contrariar a paz reclamada por Nyusi.
Desde cedo que pairou uma tendência de se menosprezar o poderio destrutivo dos grupos que actuam em Cabo Delgado, antes e depois dos acontecimentos de Mocímboa da Praia, num silêncio cúmplice que, devagar, devagarinho, se foi alastrando, até o executivo decidir dar mão à palmatória.
Reconhecimento público das debilidades face a um inimigo que adopta guerrilha para se escapulir das forças de defesa e segurança, assim ganhando terreno e publicidade, este um dos principais trunfos para o fomento do terror.
Diminuindo a propaganda dos grupos atacantes, o governo foi apostando forte no diálogo negocial com o arquirival, até o momento que os moçambicanos atravessam, de paz.
Ainda que trémula, Filipe Nyusi entende que os passos até aquí dados nas negociatas, lhe são favoráveis para o alcance de uma paz duradoura e sem mazelas, algo que ainda não convence o mais distraído dos cidadãos.
Não passa muito tempo que a liderança interina da Renamo lançou, de forma reiterada, para novo conflito pós-eleitoral, na sequência do sururu nas eleições autárquicas de 10 de outubro, mais recentemente, da reedição da votação em oito mesas das assembleias, no Município de Marromeu.
Por aqui se percebe que esta paz de que o presidente tanto se refere, está estremecida.
Por causa disso, a implementação do memorando conseguido na cidade da Beira, em vez da Serra da Gorongosa, entre Filipe Nyusi e Ossufo Momade, está estagnada.
Difícil se afirmar que o principal compromisso de Nyusi está a ser cumprido integralmente. Idem na vertente social, com as famílias desavindas por causa do desemprego, embora as autoridades insistam em números fictícios.
As pessoas são obrigadas a desembolsar 70 meticais por um quilograma de açúcar castanho, nas cercanias de Maputo e Matola, acreditando-se que para lá destas, o mesmo produto está em alta, devido aos custos de transporte. O pão está mais caro, a avaliar pelo seu peso, abaixo do estabelecido, sem jupança para uma efectiva e permanente inspecção.
A corrupção está intacta, sendo chamados à razão uns em lugar de outros, os tais intocáveis.
Sim, há gente que dá a cara para ilibar os seus anteriores chefes. E isso se passa, inclusive, nas maiores esferas da hierarquia em Moçambique. O essencial não foi cumprido.
EXPRESSO - 11.12.2018
Sem comentários:
Enviar um comentário