01/05/2020
Por Edwin Hounnou
O avanço impetuoso, diga-se em abono da verdade, dos terroristas, em Cabo Delgado, levanta, em qualquer pessoa com inteligência mediana, suspeitas de que alguém deve estar a facilitar o alastramento do terror. Corre uma notícia infundada de detenção de dois altos oficiais militares (um brigadeiro e um coronel) implicados de colaborar com os terroristas. Se isso fosse verdade, poderia dar alguma indicação, porém, as investigações que encetámos sugerem que a suposta de detenção de oficiais das forças armadas é falsa. Apuramos que o brigadeiro não está preso. Pouca informação conseguimos sobre o coronel. Ainda que seja mentira ou verdade, não se deve colocar de lado a hipótese de que as Forças de Defesa e Segurança, FDS, estão sem moral combativa. Enquanto a situação de desorganização prevalecer, será difícil fazer frente aos bandidos. Era com base em boato e intrigas que trabalhavam os lampiões do marxismo-leninismo de Samora Maciel.
O mais difícil é apontar quem está a agir de tal modo. Precisa -se de muita de muita investigação para evitar os erros graves que Samora Machel cometia, acusando pessoas inocentes de colaborar com inimigo, fundamentando-se em intrigas fomentadas por assassinos bem conhecidos e quase profissionais. Até hoje, ninguém pode provar a veracidade dos factos de prisões que pudessem justificar as prisões em massa porque a guerra continuou com cada vez mais força. Quem ficou a passar informações ao inimigo depois de tanto sangue de inocentes ter sido derramado? A intimidação aos familiares dos presos e o silencio das autoridades foram a resposta dada aos parentes dos presos. Esta é a falência de um regime que se pretendia popular. Os que assim procederam contra seus compatriotas surgem como os mentores das dívidas ocultas e seus filhos despontam no topo da administração das empresas criadas para delinquir o Estado.
Vimos comícios promovidos por Samora Machel e seus apaniguados que serviam para lanchar e afastar do caminho pessoas que lhes pudesse fazer sombra. Esta postura deve ser afastada por não servir os interesses da nação nem do povo, criando rancores e inimigos artificiais. Agindo com cautela e nada de correr para fazer comícios populares infundados, nada de andar a prendar de qualquer maneira nem se precipitar a jogar os outros para o fundo do mar, estar-se-ia a combater o inimigo que, dia após dia e com uma certa facilidade, mata, decapita e esquarteja nossos compatriotas, em Cabo Delgado. O hábito de desconfiar a sua própria sombra e a cultura de mandar raptar e assassinar a quem de si discorda, não ajuda a construir uma nação onde a paz seja para todos. Passam 45 anos desde que o país se tornou independente, mas a paz continua sempre uma miragem porque a gestão da coisa pública é ainda uma grande anedota.
Sempre fomos mal governados desde 1975, colocando em dúvida a razão da luta popular. Os que dizem que o colono era muito melhor que a Frelimo, não são saudosistas, sabem bem o que dizem. O colono não ficava impune às falcatruas que, porventura, cometesse. O regime colono tinha regras e, de forma religiosa, as seguia.
O povo precisa de paz que se constrói com base na justiça socioeconômica, respeito mutuo, tolerância e reconciliação nacional. A paz que queremos não resulta de nenhum decreto nem de entendimentos efêmeros, dribles e aldrabices como a que se pretende impor no país. Para haver uma paz duradoura é imprescindível que ninguém ganhe tudo e ninguém perca tudo, tal como vem acontecendo entre nós, em Moçambique, onde a Frelimo fica com tudo, até com os tribunais e prisões. Assim, não teremos paz alguma.
A estratégia de combate ao inimigo não pode ser concebida em comícios populares nem por grupo de amigos, invejosos e intriguistas que, na calada da noite, promoviam a maledicências e calúnias. Nós conhecemo-los pelos seus próprios nomes e endereços que, no fim de todo o fingimento de estar a defender o povo, saíram ricos e, hoje, ostentam fortunas que, em momento algum, podem conseguir justificar a sua proveniência. Vimos, consternados e atingidos na alma, como os mesmos indivíduos, endiabrados, praticavam a política de terra queimada, em particular, na província da Zambézia onde tentavam parar o avanço da Renamo, matando a todos, incluindo seus próprios colegas de armas, acusando-os de nada de concreto, provando-se, desse modo, a sua saga de perigosos sanguinários e assassinos. Os grandes erros cometidos por Samora Machel e seus sequazes devem ser, a todo o custo, evitados para não se abrirem mais feridas incuráveis no seio do povo.
Quanto a nós, pensamos que algo de obscuro pode explicar o avanço dos terroristas, em Cabo Delgado. Não acreditamos que eles sejam superiores, nem em armamentos nem em numero e preparação táctico-militar, às Forças de Defesa e Segurança, FDS, tanto assim que não apresentam armas que superem ao equipamento das forças governamentais. Fala -se tanto que os terroristas apresenta “armamento pesado", porém, nós não estamos distraídos do que está a acontecer.
Até ao presente momento, os terroristas têm RPG-7 (mais conhecida por bazooka) e metralhadoras e nada mais que isso. Nenhum desses instrumentos de guerra pertencem à classe de armas pesadas, por isso, é infundado dizer que o Al-Shabab já se apresenta com armas pesadas modernas. Eles não tem armas pesadas, pelo menos, até ao presente momento. As pessoas que tem estado a falar em armas pesadas nas mãos dos terroristas, acreditamos nós, que o fazem por desconhecimento e não por qualquer má intenção.
Quando as forças governamentais escondem as armas e fogem ao primeiro disparo dos terroristas se deve à outras razões. De facto, temos visto, nas redes sociais, soldados a se queixarem da fraca logística, tais como um militar na frente de combate tem, apenas, um carregador ao invés de uma cartucheira. Os soldados se queixam, igualmente, da exiguidade de refeições e, por vezes, têm uma única refeição por dia. Ora, isso não pode continuar assim. Os responsáveis pelos constantes desaires das FDS devem ser chamados à razão por serem eles os principais culpados pelas derrotas que as FDS têm vindo a sofrer no campo de combates. Se os chefes não se envergonham com isso, nós nos cobrimos de vergonha de cima a baixo. Nada justifica que uns maltrapilhos estejam a humilhar e a chamboquear um exército nacional de um país independente e soberano.
Desde berço que aprendemos que a integridade territorial de um país, a soberania de uma nação são defendidas, em primeiro lugar, pelo seu povo e, em caso extremo, recorre-se a ajuda de países amigos. Não se pede ajuda ao vizinho quando tu ainda não fizeste quase nada. Uma ajuda, como se pode entender, é uma acção que vai complementar aquilo que nós já estamos a fazer. No nosso caso, não é isso o que acontece. Socorremo-nos dos outros antes de esgotarmos o esforço interno. Pedimos ajuda a mercenários.
Um mercenário dá a sua vida pelo dinheiro, não o faz poe amizade ou simpatia. Um regime que se socorre de mercenários para salvar o país deve estar no fim da linha.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 29.04.2020
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