20/05/2020
“São agentes da polícia que estão aqui atrás” - Licínio Matavele, filho da vítima, a uma pergunta do tribunal se conhecia os assassinos do pai
O Tribunal Judicial de Gaza conheceu momentos de grande tensão com os depoimentos dos familiares do activista Anastácio Matavele, na sessão desta terça-feira reservada aos declarantes no processo.
Licínio, o filho de Matavele, disse que não conhecia os motivos que determinaram o assassinato do pai, mas considerou que “a morte do papá tem preceitos políticos”, porque ele era da sociedade civil, conhecia os problemas desta província, “ele colocava as preocupações da sociedade”.
O filho do activista, compareceu em tribunal com uma “t-shirt” preta com um dístico: “Matavele morre, A causa vive”. A uma pergunta se conhecia os assassinos do pai, Licínio, da cadeira onde estava sentado, no centro da sala de audiências, virou-se para trás e apontando para os réus que se sentavam no banco corrido, disparou: são agentes da polícia … eles é que devem saber as motivações … as famílias trazem comida para eles todos os dias”.
Admitiu também que “é provável que hajam pessoas que não gostavam como ele colocava os problemas da sociedade”. Matavele foi eliminado a 7 de Outubro de 2019, pouco depois de abrir uma formação para observadores eleitorais numa sala de eventos com o nome de “Salgadinho da Mamã Argentina”.
Segundo Sónia Tembe, a sua secretária, Matavele saiu por volta das 10 horas para ir abastecer a viatura que usava, tendo solicitado a uma colega 1000 meticais, pois não tinha trazido dinheiro de casa. Nunca mais voltou para encerrar a formação. Minutos depois, junto à entrada da fábrica de caju Mocita, um “esquadrão policial” punha termo à sua vida com 13 projécteis disparados à queima -roupa a partir de outro carro, que entretanto se colocou em paralelo ao Izuzu que conduzia.
Licínio disse que todos os projectos estão parados, incluindo uma residência, porque o pai era pilar da família. Os seus estudos eram pagos pelo pai, um seu irmão vivia em Maputo, também com apoio do pai. A sua mãe ainda não recuperou da perda do marido, um dos seus sobrinhos, uma criança de seis anos, “tem pavor da polícia”.
Num comentário que irritou a juíza Ana Liquidão, habitualmente muito calma e cordata, Licínio perguntou para quem o quis ouvir “que Estado é este que não consegue localizar um indivíduo? … será que é mesmo foragido? “, uma referência a Agapito Matavele, o matador que era o chefe de pelotão de execução do seu pai e que agora se encontra em parte incerta. Várias fontes conhecedoras no processo, dizem que Agapito se encontra na África do Sul e está algures em Gaza, depois de ter sido “mandado desaparecer”. Licínio foi quem levou o Izuzu acidentado a um “car wash” (oficina de lavagem de lubrificação de carros) “para limpar todo o sangue que havia na viatura”.
Licínio, o filho de Matavele, disse que não conhecia os motivos que determinaram o assassinato do pai, mas considerou que “a morte do papá tem preceitos políticos”, porque ele era da sociedade civil, conhecia os problemas desta província, “ele colocava as preocupações da sociedade”.
O filho do activista, compareceu em tribunal com uma “t-shirt” preta com um dístico: “Matavele morre, A causa vive”. A uma pergunta se conhecia os assassinos do pai, Licínio, da cadeira onde estava sentado, no centro da sala de audiências, virou-se para trás e apontando para os réus que se sentavam no banco corrido, disparou: são agentes da polícia … eles é que devem saber as motivações … as famílias trazem comida para eles todos os dias”.
Admitiu também que “é provável que hajam pessoas que não gostavam como ele colocava os problemas da sociedade”. Matavele foi eliminado a 7 de Outubro de 2019, pouco depois de abrir uma formação para observadores eleitorais numa sala de eventos com o nome de “Salgadinho da Mamã Argentina”.
Segundo Sónia Tembe, a sua secretária, Matavele saiu por volta das 10 horas para ir abastecer a viatura que usava, tendo solicitado a uma colega 1000 meticais, pois não tinha trazido dinheiro de casa. Nunca mais voltou para encerrar a formação. Minutos depois, junto à entrada da fábrica de caju Mocita, um “esquadrão policial” punha termo à sua vida com 13 projécteis disparados à queima -roupa a partir de outro carro, que entretanto se colocou em paralelo ao Izuzu que conduzia.
Licínio disse que todos os projectos estão parados, incluindo uma residência, porque o pai era pilar da família. Os seus estudos eram pagos pelo pai, um seu irmão vivia em Maputo, também com apoio do pai. A sua mãe ainda não recuperou da perda do marido, um dos seus sobrinhos, uma criança de seis anos, “tem pavor da polícia”.
Num comentário que irritou a juíza Ana Liquidão, habitualmente muito calma e cordata, Licínio perguntou para quem o quis ouvir “que Estado é este que não consegue localizar um indivíduo? … será que é mesmo foragido? “, uma referência a Agapito Matavele, o matador que era o chefe de pelotão de execução do seu pai e que agora se encontra em parte incerta. Várias fontes conhecedoras no processo, dizem que Agapito se encontra na África do Sul e está algures em Gaza, depois de ter sido “mandado desaparecer”. Licínio foi quem levou o Izuzu acidentado a um “car wash” (oficina de lavagem de lubrificação de carros) “para limpar todo o sangue que havia na viatura”.
Depois contactou Sónia Tembe e Eldina Nhantave para entregar a viatura ao FONGA (Forum das ONG de Gaza) onde o pai era o director executivo (DE). Licínio disse ao mediaFAX que tem uma declaração assinada por Eldina Nhantave em como recebeu o carro em nome do FONGA. Abílio Matavele, irmão da vítima, declarou que assistiu ao capotamento da viatura do “comando policial” porque se encontrava acidentalmente a remendar um pneu junto à “paragem Mahumane”, na N1, pouco depois do cruzamento para a praia do Xai-Xai, a via onde ocorreu o atentado.
“Depois de 10 minutos soube que os que tiveram o acidente balearam o meu irmão”, declarou ao tribunal. Descrevendo os momentos a seguir ao acidente disse que havia muita poeira no ar, havia pessoas debaixo do carro, pensavam que estavam mortos, mas pouco depois “vimos uma pessoa a correr em direcção ao cemitério com uma arma grande”.(NdR: Agapito Matavele, com a AK47 que no momento do assassinato estava na posse de Martins Williamo, que faleceu no acidente).
Quando se aproximaram mais da viatura capotada viram armas. “Afastámos, tivemos medo” disse Abílio que achou que os ocupantes “não eram pessoas normais”. Abílio foi quem removeu o Izuzu do irmão e recolheu os seus pertences. Não sabe se estavam completos, mas recuperou os quatro telemóveis do irmão. O que era mais utilizado foi recolhido pelo SERNIC (polícia de investigação criminal) e até hoje ainda não foi devolvido, nem a família tomou conhecimento se havia elementos relevantes na memória do aparelho.
Abílio acha que o irmão “não tinha muito dinheiro” e que as despesas do funeral foram suportadas pela família. Ele disse que levou o Izuzu ao bate chapas para tapar os 10 orifícios de bala que tinha, mas não mandou pintar nem colocar os vidros que se partiram. Disse que a viatura está na casa da cunhada.
Stélio Manjate, que vivia na casa do finado tio disse que agora vive em Maputo e “mudou muita coisa porque ele era quem provia o sustento da família”. Stélio também não conhece os motivos do assassinato mas alvitrou que “talvez porque era um activista social, era DE do FONGA” e “tinha um olhar crítico das coisas”.
Sónia Tembe, a sua secretária, declarou que não sabe das motivações do assassinato mas recorda-se que havia problemas nos órgãos sociais da organização. Lembra-se de ter acompanhado um debate na televisão, em 2019, em que o Sr. Leovegildo, do Conselho Fiscal e o Sr. Manuel Muchague, do Conselho de Direcção defendiam a substituição do DE. Disse que antes da morte estava em preparação a realização de uma AG (Assembleia Geral) da organização.
Sónia Tembe disse ao tribunal que Anastácio Matavele tinha uma amante desde 2005, a altura em que ela começou a trabalhar para o FONGA. A referência “à segunda mulher” surge pelo facto de aviatura acidentada lhe ter sido entregue por outra colaboradora do FONGA, Eldina Nhantave.
Eldina não soube explicar a relação entre Anastácio a Arminda, a senhora que mantinha o relacionamento com o DE do FONGA. Na sua explicação, o FONGA cedeu a Dona Arminda a viatura da organização “para ela conduzir na cidade” e Anastácio usava o Izuzu da companheira “para as viagens longas”.
Questionada sobre a propriedade da viatura Eldina disse: “o director dizia que o carro pertencia à Dona Arminda”. Ela explicou que o carro não foi depositado no FONGA como pretendia o filho de Matavele “porque não tínhamos num espaço seguro” para acolher o carro. “Fui eu que telefonei à Dona Arminda para receber o carro”.
Disse que a organização já recebeu uma cotação no valor de 32.000,00 Mt. Da Dona Arminda para se procederem às reparações do Izuzu. A ninguém foi perguntado porque deveria o FONGA suportar as despesas da reparação.
O julgamento prossegue quarta-feira com a audição de mais declarantes arrolados nos autos.(Fernando Lima, no Xai-Xai)
MEDIA FAX – 20.05.2020
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