29/05/2020
EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (15)
Tudo bem, senhor Presidente e camarada excelência Filipe Jacinto Nyusi? É o pobre Laurindos quem lhe saúda. Sabe, camarada, ontem, depois de ter ouvido as lamentações do ministro do Interior na Assembleia da República, não consegui pregar o olho.
Amade Miquidade disse que na sua acção, os “jihadistas” usam a população civil como “escudos humanos”. Adoptam tácticas de guerrilha, organizando-se em pequenas formações para protagonizarem ataques a alvos das populações e das Forças de Defesa e Segurança (FDS). Ainda como ‘modus operandi’, disse o ministro, aliciam algumas lideranças locais e religiosas, usam locais de culto para concentração e perpetração de ataques e inserem-se na comunidade constituindo famílias que lhes dão guarida social, sob coacção.
Isto é mais ou menos “copy and past” da táctica que a Frelimo usou durante a luta de libertação nacional. Portanto, não é admissível que o partidão, conhecedor-até arrisco a dizer dono- dessa táctica esteja a sofrer baixas. O que é que mudou, Presidente?
Se ontem, na mesma província de Cabo Delgado onde hoje lhe viram as costas, a Frelimo era apoiada? Os camaradas não terão perdido apoio popular? O Presidente nunca se perguntou isso? Grande paradoxo! A batata quente que a Frelimo tem hoje às mãos é do mesmo tamanho e queima do mesmo jeito quanto à que colocou às mãos da administração portuguesa entre 19961 e 1974. E os que cozeram essa batata, que mais parecia um ferro em brasa, continuam, alguns, por aí e bem gordos, rechonchudos. Esqueceram-se da receita? Perderam a mão? Já não se recordam dos ingredientes que jogaram à panela ao lume? Ou não foram eles os cozinheiros, os chefs?!
Quem deu o tal do primeiro tiro, afinal? Parece que não foi o tio… Durante a guerra colonial, a Frelimo, em Cabo Delgado, controlava bases no mato e apoio logístico da vizinha Tanzânia. A Frelimo tinha apoio popular. Era amada. Arrastava multidões. De que lado estáhoje o povo, afinal?
Essa pergunta é para si, Presidente! Agora acho que já dá para perceber que não se ganha uma guerra subversiva sem o apoio do povo! Na guerra colonial, a Frelimo, de certa forma, ganhou politicamente porque conseguiu conquistar parte das mentes dos moçambicanos, uma victória que alienou pouco depois com a criação de campos de reeducação e uma repressão sobre opositores que levou a uma guerra civil.
Hoje, embora tenha instrumentos de segurança, instrumentos técnicos e equipamentos suficientes para lidar com os “jihadistas”, o Governo da Frelimo não é capaz de ganhar esta guerra. Até parece que realmente esqueceu tudo aquilo que tinha aprendido durante a guerra de guerrilha. A Frelimo precisa de se reinventar.
Os “jihadistas” parecem ter o apoio popular. O mesmo que a Frelimo teve um dia antes de se transformar em corrupta, mesquinha, opressora. É por isso que o ministro Miquidade diz haver dificuldades de saber quem é quem porque os insurgentes, de alguma forma, são a população de Cabo Delgado.
E a Frelimo tem consciência de que sem o apoio popular não vai ganhar esta guerra só com as armas. As minas de rubis, os palacetes espalhados um pouco por toda a província de Cabo Delgado, não são do povo. Pertencem aos generais da Frelimo, saídos da luta de libertação nacional.
Dá a ideia de que não lutaram para libertar o povo do jugo colonial português, para libertar o País.
Queriam ser eles a escravizarem o povo. E é isso o que hoje assistimos. É ou não é, Presidente?
DN – 29.05.2020
Tudo bem, senhor Presidente e camarada excelência Filipe Jacinto Nyusi? É o pobre Laurindos quem lhe saúda. Sabe, camarada, ontem, depois de ter ouvido as lamentações do ministro do Interior na Assembleia da República, não consegui pregar o olho.
Amade Miquidade disse que na sua acção, os “jihadistas” usam a população civil como “escudos humanos”. Adoptam tácticas de guerrilha, organizando-se em pequenas formações para protagonizarem ataques a alvos das populações e das Forças de Defesa e Segurança (FDS). Ainda como ‘modus operandi’, disse o ministro, aliciam algumas lideranças locais e religiosas, usam locais de culto para concentração e perpetração de ataques e inserem-se na comunidade constituindo famílias que lhes dão guarida social, sob coacção.
Isto é mais ou menos “copy and past” da táctica que a Frelimo usou durante a luta de libertação nacional. Portanto, não é admissível que o partidão, conhecedor-até arrisco a dizer dono- dessa táctica esteja a sofrer baixas. O que é que mudou, Presidente?
Se ontem, na mesma província de Cabo Delgado onde hoje lhe viram as costas, a Frelimo era apoiada? Os camaradas não terão perdido apoio popular? O Presidente nunca se perguntou isso? Grande paradoxo! A batata quente que a Frelimo tem hoje às mãos é do mesmo tamanho e queima do mesmo jeito quanto à que colocou às mãos da administração portuguesa entre 19961 e 1974. E os que cozeram essa batata, que mais parecia um ferro em brasa, continuam, alguns, por aí e bem gordos, rechonchudos. Esqueceram-se da receita? Perderam a mão? Já não se recordam dos ingredientes que jogaram à panela ao lume? Ou não foram eles os cozinheiros, os chefs?!
Quem deu o tal do primeiro tiro, afinal? Parece que não foi o tio… Durante a guerra colonial, a Frelimo, em Cabo Delgado, controlava bases no mato e apoio logístico da vizinha Tanzânia. A Frelimo tinha apoio popular. Era amada. Arrastava multidões. De que lado estáhoje o povo, afinal?
Essa pergunta é para si, Presidente! Agora acho que já dá para perceber que não se ganha uma guerra subversiva sem o apoio do povo! Na guerra colonial, a Frelimo, de certa forma, ganhou politicamente porque conseguiu conquistar parte das mentes dos moçambicanos, uma victória que alienou pouco depois com a criação de campos de reeducação e uma repressão sobre opositores que levou a uma guerra civil.
Hoje, embora tenha instrumentos de segurança, instrumentos técnicos e equipamentos suficientes para lidar com os “jihadistas”, o Governo da Frelimo não é capaz de ganhar esta guerra. Até parece que realmente esqueceu tudo aquilo que tinha aprendido durante a guerra de guerrilha. A Frelimo precisa de se reinventar.
Os “jihadistas” parecem ter o apoio popular. O mesmo que a Frelimo teve um dia antes de se transformar em corrupta, mesquinha, opressora. É por isso que o ministro Miquidade diz haver dificuldades de saber quem é quem porque os insurgentes, de alguma forma, são a população de Cabo Delgado.
E a Frelimo tem consciência de que sem o apoio popular não vai ganhar esta guerra só com as armas. As minas de rubis, os palacetes espalhados um pouco por toda a província de Cabo Delgado, não são do povo. Pertencem aos generais da Frelimo, saídos da luta de libertação nacional.
Dá a ideia de que não lutaram para libertar o povo do jugo colonial português, para libertar o País.
Queriam ser eles a escravizarem o povo. E é isso o que hoje assistimos. É ou não é, Presidente?
DN – 29.05.2020
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