13/05/2020
Por Edwin Honnou
O nosso país virou um grande poço de problemas e conflitos sem solução à vista, devido à desastrosa governação a que nos encontramos sujeitos desde que Moçambique alcançou a independência nacional, a 25 de Junho de 1975. Andamos de guerra em guerra e com a economia a afundar-se. Todos os entendimentos até aqui assinados entre a Frelimo e a Renamo não ousaram trazer a paz e tranquilidade para o povo viver em paz e produzir sem ter que esconder a enxada para fugir da guerra. A economia deixou de crescer com a independência e ficou atrofiada tendo chegado ao extremo de vivermos de apoios, transmitindo, deste modo, a falsa ideia de que a independência nacional seja algo nocivo ao bem-estar do povo, que só acarreta miséria e desgraça de toda a sorte, esquecendo -se de quem promove a procissão de pobreza sobre o povo.
Em Moçambique, quando termina uma guerra começa uma outra ou é, apenas, intercalada por umas eleições que só servem para enganar as pessoas mais distraídas ou a ingênuos que batem palmas para tirarem dividendos de um regime clientelista e agradar aos chamados parceiros internacionais que tanto gostam, apreciam e fomentam esse tipo de entretenimento de proveito nulo para o engrandecimento do país. É isso mesmo que faz perdurar, no poder, por uma longa eternidade um regime de corruptos, de fraudulentos e de criminosos confessos por várias décadas consecutivas.
A permanência da Frelimo no poder não é por mérito, deve-se a fraudes eleitorais que vem cometendo pela ausência de uma oposição robusta e pelo beneplácito das potências interessadas nos nossos recursos naturais e não só. A Frelimo é uma grande fraude perante os anseios do povo. Enquanto a Frelimo continuar no poder, o povo jamais será livre nem terá paz que tanto almeja. Não alcançará a plenitude da independência nacional pela qual, heroicamente, se bateu durante os duros 10 anos da luta de libertação. Valeu a pena o povo ter trocado um opressor por outro? – Não.
Quando o país chegou à independência produzia quase tudo – tomate, couve, repolho, amendoim, milho, mapira, toda a espécie de fruta e vegetais, passando por algodão que alimentava a sua robusta indústria têxtil. A indústria metalomecânica competia na zona austral de África e exportava os seus produtos acabados para os países para onde vamos buscar ferro de construção, vagões de locomotivas, mobiliário metálico, etc. As estradas não eram auto-estradas mas não tinham buracos. Os outros centros urbanos andavam limpos, organizados e com lindos jardins. Não se pode dizer que eram outros que habitavam as cidades, por isso, andavam limpos. Hoje é o povo que vive nas cidades e isso não deve servir de impedimento que haja organização.
No tempo colonial era proibido roubar e quem roubasse se arrependia de ter nascido, porém, nos dias que correm, os grandes gatunos se encontram nos reluzentes gabinetes e no comando a decidirem por que caminhos o país tem que trilhar. São defendidos pelas instituições do Estado, como a Procuradoria-Geral da República que vem gastando imensos fundos públicos para evitar que o segredo da grande roubalheira – dívidas inconstitucionais – seja do domínio público. Alguns (outros tantos continuam cá fora a dar aulas de sapiência em praças públicas) dos autores das dívidas ocultas foram recolhidos à cadeia, mas o Ministério Público só se limita a dizer que não tem como recuperar os bens adquiridos pelos arguidos com dinheiro roubado em nome do povo.
Estas manobras todas acontecem por mero acaso. Está tudo bem alinhado entre eles. Falta declarar que os mandatos de prisão preventiva estão ultrapassados, por isso, os visados devem ser postos em liberdade. Será isso mesmo o que vão fazer. Aí vai começar a verdadeira festa do “tacho" roubado enquanto o povo paga pelo prato que não viu nem comeu. Eles são solidários e vemo-los como se batem para pôr Manuel Chang, detido na África do Sul desde 31 de Dezembro de 2018, fora da rota da justiça americana onde poderia dizer tudo que sabe sobre o estratégia da arte de roubar. Querem-no nos seus tribunais onde podem ditar sentenças dissimuladas para, mutuamente, se safarem.
Os que pensavam que com a introdução do sistema multipartidário teríamos paz, enganaram-se porque calças velhas remendadas com chapas novas não viram novas. A Frelimo introduziu, no país, um sistema de governação cuja essência se assenta na exclusão e discriminação com base na região de proveniência das pessoas, na militância político-partidária. A Frelimo não poderia agir de modo contrário à sua essência. As instabilidades que culminam em guerras fazem parte do modus operandi da Frelimo. A maneira como a Frelimo foi concebida funciona como o epicentro de problemas. Todas as guerras que conhecemos desde a independência nacional até a esta parte foram provocadas pela Frelimo que tem dificuldades de conviver com quem pensa diferente.
O pensar diferente sempre foi tomado como uma encomenda da “mão externa" de que gostam de se referir quando o pensamento e a opinião vêem de quadrantes extra-partidários, por isso, nunca as armas se calam no nosso país. Não são os homens e as mulheres da Frelimo que são maus, mas o sistema que implantaram gera conflitos no seio do povo. É um imperativo nacional que a Frelimo seja, sem mais delongas, afastada do poder para que o povo possa começar em viver em paz e em tranquilidade.
A paz não reside nas eleições fraudulentas. O povo aplaudiu o fim da guerra dos 16 anos, mas, vimos que o país voltou a cair numa nova guerra. Daí em diante fomos assistindo guerras intermitentes que continuam até ao presente momento. Falou-se tanto de descentralização do poder, todavia, na hora da verdade a Frelimo forjou a figura de secretário de estado na província como forma de impedir o exercício do poder efectivo, caso fossem eleitos governadores que fossem da Oposição. O que somos dados a assistir as disputas entre o governador (eleito) e secretário de estado (designado) teriam uma magnitude maior se os governadores não fossem da Frelimo e a vontade de se impor pela força das armas teria sido experimentada pelos sectores mais conservadores do partido do governo central, em nome do respeito pela constitucionalidade.
As eleições em que participamos não passam de uma grande mentira moldada por gente que se julga ter sido colocada na Terra para governar os moçambicanos. A descentralização é uma mentira monumental por ser desprovida de tolerância do pensar diferente. É uma grande farsa para enganar. A Frelimo não está, como nunca esteve, preparada para partilhar o poder com ninguém e em nenhuma circunstância e não serão as eleições que vão alterar o actual cenário político nacional. Só o povo na rua pode mudar as coisas e impor um sistema democrático capaz de trazer alternância no exercício do poder, em Moçambique.
Os enchimentos de urnas com votos falsos, o recurso à violência policial e a partidarização dos órgãos eleitorais visam impedir que a vontade popular expressa através do voto se possa vingar e prevaleça o autoritarismo, a roubalheira e o enriquecimento sem causa das elites predadoras que se pretendem como nova burguesia nacional. A Frelimo é um cancro já com metástase que corrói o nosso país.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 13.05.2020
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