29/05/2020
A moeda moçambicana, o Metical, regista forte depreciação face ao Dólar norte-americano. Os economistas dizem que a derrapagem pode colocar em risco a sustentabilidade da dívida pública.
No passado mês de Março, o Governo moçambicano já alertava para a uma depreciação do Metical face ao Dólar, como resultado da eclosão da COVID-19 no mundo.
Até ao dia esta quinta-feira, um dólar norte-americano estava para 68.56 meticais a compra e 69.92 meticais a venda, ao câmbio oficial do Banco de Moçambique (BM), consultado pelo “O País Económico”.
No início do ano, a moeda moçambicana já mostrava uma tendência de depreciação face às principais moedas de circulação no Mercado Cambial Interbancário (MCI), com destaque para a divisa norte-americana. O câmbio oficial, tanto na compra e venda, não era superior a 63 meticais/USD.
Alguns economistas abordados pela nossa reportagem associam a derrapagem do Metical às restrições no comércio externo devido à COVID-19, bem como medidas de política monetária adoptada pelo Banco Central.
Para o economista Agostinho Machava, a desvalorização da moeda nacional resulta de algumas medidas que Banco de Moçambique vem tomando já há algum tempo, numa actuação quase que frequente.
As medidas restritivas do regulador do sistema financeiro nacional, segundo o economista, “limitaram a circulação da moeda estrangeira no Mercado Cambial Interbancário, em particular o Dólar norte-americano”, apontou.
Por seu turno, o economista e director-executivo da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Eduardo Sengo, disse que a depreciação do Metical “não é uma surpresa”.
“No início do ano, um estudo da CTA já apontava que este ano, em termos de pressões para a depreciação do Metical seriam muito fortes. Isso porque a COVID-19, um dos canais de impacto em Moçambique foi o sector de exportação, onde as empresas têm limitações de fazer suas exportações porque os seus compradores têm as economias paradas, limitando a geração de moeda estrangeira no mercado”, explicou Eduardo Sengo.
A queda de preços das principais commodities de exportação também reduziu a quantidade de divisas, em particular, o Dólar norte-americano. “O alívio das medidas restritivas em alguns países parceiros agravou a situação cambial”, conclui o director-executivo da CTA.
DÍVIDA PÚBLICA
Com o Metical em queda, agrava o risco da sustentabilidade da dívida pública moçambicana, cujo rácio actual situa-se acima de 100% do Produto Interno Bruto (PIB), torna-se numa das mais altas da África.
Aliás, segundo os pressupostos do Cenário Fiscal a Médio Prazo, divulgados pelo Ministério da Economia e Finanças (MEF), que cobrem o período de 2019 a 2021, indicam que 1% da depreciação na taxa de câmbio, representa um incremento em dois pontos percentuais no rácio da dívida externa no PIB.
De acordo ainda com o MEF, a variação mais sensível às flutuações na taxa de câmbio é a dívida pública, dado que em 2017, por exemplo, 84% do total da carteira foi contraída em moeda estrangeira.
“Um choque da taxa de câmbio pode ter efeitos adversos no consumo privado, no investimento e no sector real através de maiores custos de produção para os sectores que dependem da importação de matéria-prima. Por outro lado, as flutuações da taxa de câmbio podem influenciar negativamente os balanços das empresas públicas através de mudanças na valoração de passivos em outras moedas”, lê-se no relatório sobre os riscos fiscais a médio prazo do MEF, a que “O País” teve acesso.
E mais, a evolução do choque cambial fez com que o nível da dívida em 2016 atingisse 126,7% do Produto Interno Bruto. Este impacto de taxa de câmbio foi mais evidente com a depreciação do metical, quando a divisa moçambicana perdeu cerca de 63% do seu valor face ao dólar norte-americano, enquanto em 2017, a apreciação do metical face ao dólar foi equivalente a uma redução em 14 pontos percentuais do PIB na dívida externa.
Para minimizar a depreciação do Metical, os economistas entendem que o Banco de Moçambique deve adoptar medidas mais assertivas, atirando à polémica linha de crédito de 500 milhões de dólares disponibilizado para financiar a tesouraria das empresas.
Para os economistas, a linha de financiamento anunciada pelo Banco Central peca por aplicar taxas de juro comerciais e não bonificadas.
O PAÍS – 29.05.2020
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