"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



domingo, 18 de dezembro de 2016


A reação pública ao assassinato de VG mostrou um país dividido , com ódios recalcados e uma sede torpe de vingança. Como é de Homem, todo o mundo partilhou seu sentimento de pesar mas meio mundo celebrou usando o anonimato acovardado das redes sociais. Outros celebraram em privado. Mas uma morte não se celebra. Celebra se o que ela pode representar. Em Miami ninguém celebrou a partida de El Comandante mas sua morte representou o início do fim de um regime que atraiu ódios e paixões. Ninguém vai contestar que em Moz o antigo PR AEG cultivou ódios e repulsa. Recordam se da senhora da bomba atómica das Mahotas? Mesmo dentro da Frelimo AEG cimentou relações hostis. Depois a percepção de um certo enriquecimento ilícito no contexto de um consulado durante o qual o país foi conduzido como um negocio familiar. Quer se queira quer não, AEG tem um percurso político cuja etapa final remete para uma encruzilhada onde poucos lhe reconhecem méritos e muitos lhe apontam acções graves de lesa pátria, com a guerra e a crise da duvida como pano de fundo. No campo das representações sociais, a celebração do crime contra Valentina significou para muitos não uma falta de compaixão e sentimento mas uma certa morte metafórica de AEG. Quem morreu foi uma parte de AEG. É assim como alguns interpretam nas ruas.São sentimentos perversos mas eles representam as fissuras de uma sociedade sem justiça social, precarizada, empobrecida e muitos acreditam que AEG teve uma quota parte de responsabilidades neste percurso errático.
Comentários



Edgar Barroso
16/12 às 8:13 ·

Quase que não temos, em Moçambique, uma só referência de pessoas que se guiam pelos mais supremo valores éticos e morais, em todos os níveis sociais. Temos gente que desvia fundos e recursos do Estado porque "têm direito de ser ricos", temos pessoas que atropelam a Constituição e que assumidamente dizem que voltariam a fazê-lo porque "libertaram este país", temos pessoas insensíveis às causas e consequências da vigente tensão político-militar porque os outros "são bandidos armados" ou porque o conflito "é localizado", temos pessoas a andar de carros topos de gama e a viverem em mansões do primeiro mundo bem ao lado da miséria colectiva... temos tudo, menos referências éticas e morais. Não temos um sistema nacional de educação que forma cidadãos que sabem ser e estar. As nossas igrejas são autênticos viveiros de hipocrisia e de exibicionismo materialista. Uma geração (ou mesmo duas) cresceu nesse contexto de imoralidade e depravação, de consumismo e de competição, de gana e de privação, de inveja e de intolerância... Culpa de quem?


Não se plantam laranjeiras para se colher morangos. A reacção "bárbara" e "desumana" das pessoas à notícia do assassinato da Valentina Guebuza, não só nas redes sociais, é reflexo de algo mais conjuntural e macro. Há responsáveis por isso. As pessoas não são más por si só... elas aprendem a ser más. Aprendem a odiar. Comecem desde já a pensar sobre as causas que fazem com que tanta gente celebre tamanha tragédia. É aí onde encontraremos o caminho para a sua solução. Acusar por acusar, denunciando, censurando ou lamentando consequências... não nos vai levar a lado nenhum. Nem nos deveria surpreender. Estamos a colher o que se foi plantando ao longo de décadas de políticas públicas falhadas na redistribuição de riqueza e na formação de cidadãos.

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