"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Quem é contra a paz?


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É difícil responder a esta pergunta numa só palavra e de forma linear. É mais fácil e trivial atribuir as culpas da guerra a uma pessoa ou a uma organização. Dizer que uma organização foi criada para desestabilizar o país, constitui uma acusação banal que não exige nenhuma investigação e isso pode ser uma simples manipulação política da opinião pública.
Analisemos os factores preponderantes que concorrem para desentendimentos que, por vezes, desaguam em guerras entre os moçambicanos que concorrem para o presente atraso sócio-económico a que Moçambique e o seu povo estão submetidos. Os culpados pelas constantes guerras têm nomes próprios e endereços bem conhecidos.
Em 1974, o governo português, dirigido pelo movimento das forças armadas que derrubou o regime colonial-fascista de Marcelo Caetano, entregou, em Lusaka, capital da Zâmbia, o poder aos comunistas da Frente de Libertação de Moçambique, que combatiam o colonialismo, sem o devido escrutínio popular. Os moçambicanos não foram consultados e, em apenas nove meses de governo de transição, o país passou a ser governado por um governo que não saiu das urnas e todos os demais partidos ou organizações políticas foram marginalizados e, ferozmente, perseguidos pelos detentores do novo poder exclusivo.
Desse modo, estava lançada a semente da morte e da discórdia entre moçambicanos. A concepção, mais tarde no sistema multioartidário, de que quem vence uma eleição fica com tudo e quem perde vira um cidadão de importância menor e desprovido de tudo, teve o seu primeiro passo, em Lusaka. O pensamento de “partido de vanguarda, força dirigente das largas massas de operários e camponeses”, nasceu com a entrega de bandeja do poder pelo então governo português.
Com a implementação do “vanguardismo” alvorado pelos libertadores, deslizou-se até a criação das aldeias comunais, imposição das guias de marcha, que serviam para limitar a liberdade de movimento com cancelas ao longo das rodovias. Os desterros e campos de reeducação onde foram fuzilados todos os que discordavam da “linha correcta” imposta pelos novos patrões do povo. Em pouco depois da independência nacional, em 1976, o país encheu-se de pessoas descontentes pela forma como os destinos de Moçambique estavam sendo conduzidos.
Todas as condições objectivas e subjectivas para instabilidade se vingar já estavam criadas e o regime da Rodésia do Sul serviu, apenas, de rastilho para detonar a pólvora. O regime rodesiano não era a razão principal da guerra dos 16 anos, ou seja, da guerra civil. As razões internas foram determinantes para que o país pegasse fogo. É inegável que o movimento de guerrilha havia sido criado para servir interesses externos, mas, de maneira paulatina e inteligente, se transformou num verdadeiro movimento popular contra a ditadura dos libertadores que se faziam passar de proprietários do país e do povo.
Os acordos de Roma não foram, integralmente, implementados na sua forma e espírito. A recusa, alegando exiguidade de fundos, de integração nas forças de defesa e segurança dos soldados do movimento da guerrilha visou única e exclusivamente, na não-aceitação do outro. A agravar a isso, a expulsão massiva, desencadeada pelo giverno de Armando Guebuza, dos militares oriundos da guerrilha, fez ressuscitar as velhas rivalidades políticas entre os antigos beligerantes.
A enfadonha conversa no Centro de Conferência Joaquim Chissano, entre o governo da Frelimo e a Renamo serve, somente, de prova da dificuldade de aceitar conviver com a diferença. O recusar o outro tinha o acento tónico em todas as abordagens. O outro é inimigo a abater logo que possível. É visível no diálogo, agora em curso, que o outro não serve para nada.
Por diversas vezes, ouvimos discursos, com todas as características de demência em fase de delírio, de que “governaremos por mais 50 anos”. Isto quer dizer que continuarão no poder com ou sem voto que os legitime, não largarão o poder. Este pensamento tem se traduzido nas fraudes massivas e na recusa de alteração substancial da constituição para que possa acomodar os interesses de todos os sectores da sociedade.
Tomam a constituição como algo estático, imutável para fechar as portas de uma real democratização da sociedade moçambicana. Daqui pode-se concluir quem, de facto, agride a paz. É aquele que faz a intolerância e discrimina o outro pela simples razão de ser diferente, de pensar de modo diferente. Esta é a razão dos conflitos e das guerras.
O recorrer a ilegalidade para continuar agarrado ao poder é sinal claro de medo por ter cometido vários crimes contra o povo a quem roubou, matou e pilhou.
Aquele que mergulhou o país com dívidas ilegais e ocultas. Aquele que compra armas para promover uma guerra injusta.
Edwin Hounnou

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