"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



segunda-feira, 29 de agosto de 2016

“Os conclaves do Governo e a Renamo só perpetuam o Moçambique que não queremos”

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Escrito por Adérito Caldeira  em 29 Agosto 2016
Foto de Adérito CaldeiraCerca de cinco centenas de cidadãos exerceram, no passado sábado(27) em Maputo, o seu direito constitucional de se manifestarem em repúdio à guerra. “Os conclaves do Governo e a Renamo só perpetuam o Moçambique que não queremos” afirmou na ocasião Salomão Muchanga do Parlamento Juvenil reiterando a necessidade da sociedade civil participar no diálogo em curso na busca da paz e apelou à responsabilização dos políticos que endividaram Moçambique ilegalmente e precipitaram a crise económica e financeira que estamos a viver. “A dívida da EMATUM tem dono, queremos dizer a PGR que não se limite apenas a lamentar mas que tome uma posição enérgica para responsabilização do atum que tem que ser congelado”.
“Aonde está o povo, o povo está a dormir, a ser matrecado” foi uma das frases de ordem ouvidas na marcha que partiu da estátua de um dos fundadores da Frente de Libertação de Moçambique, Eduardo Mondlane, mas voltou a contar com pouco adesão dos moçambicanos quiçá em resultado da campanha de desencorajamento levada à cabo por sectores da sociedade ligados ao partido no poder e pela Polícia da República de Moçambique(PRM) que pediu a sua desconvocação “por razões estritamente de segurança”, em missiva enviada à organização na véspera do evento.
Foto de Adérito CaldeiraImporta recordar que desde que o Parlamento Juvenil tornou pública a realização da “Marcha popular pela Paz” a pertinência da mesma foi colocada em causa, primeiro por membros do Governo e seguidamente por representantes de organizações da sociedade civil próximas ao partido Frelimo.
Apesar de todas ameaças jovens, cidadãos da terceira idade e algumas crianças de ambos os sexos marcharam pelas avenidas Eduardo Mondlane, Karl Marx até a praça da Independência.
“Olá estrangeiros” cumprimentaram os manifestantes aos vários mirones que nos passeios e à janela assistiam, e usavam os telemóveis para registar a marcha pacífica, mas que foi “protegida” por cerca de uma centena de agentes de vários ramos da PRM transportados em dezenas de automóveis ligeiros, motas e até viaturas blindadas anti-motim.
Foto de Adérito Caldeira
“Quem não teve coragem não está aqui”
Foto de Adérito CaldeiraDirigindo aos cidadãos na praça da independência, onde a marcha teve o seu epílogo, Alice Mabota afirmou que “esta é a marcha da juventude, na nossa campanha dizíamos que quem vai ficar a sofrer se não fizer o País compreender vão ser vocês. Marchem, mostrem a vossa indignação, digam o que está nos vossos corações para que nós que vos perturbamos possamos mudar”.
“Algumas pessoas perguntavam se estou feliz com estas pessoas que estão aqui, eu disse olha ocupamos a avenida Eduardo Mondlane toda até aqui porque esta marcha foi muito combatida e mesmo assim vocês mostraram atitude de coragem e estão aqui connosco. Continuem a lutar por aquilo que é vosso, o hino nacional disse nenhum tirano nos vai escravizar. Quem não teve coragem não está aqui!” acrescentou a activista social que foi um dos rostos da marcha.
"Queremos estar presentes na discussão, na definição dos destinos da nação"
Salomão Muchanga, líder do Parlamento Juvenil, organização da sociedade civil que organizou a marcha, disse no seu discurso que esta foi uma de várias acções de cidadania que são necessária no nosso País. “Esta é a cidadania da rua, estamos a construir a consciência da elevação da dignidade humana em Moçambique. Uma juventude não conformada com a situação que tem, e sempre se começa assim”.
“Para se libertar Mandela na África do Sul foram milhares e milhares de marchas, para os negros tomarem o poder na América foram milhares e milhares de marchas, nem começaram com Martin Luther King. Mas as pessoas foram-se libertando a cada dia, libertando-se primeiro da pobreza política, estabeleceram um novo modelo comportamental de intervenção social, buscando permanentemente uma função política e social compatível com a sua época” afirmou Muchanga.
“Em cada época há desafios, os nossos desafios hoje, em primeiro lugar é estabelecer a paz. Não uma paz vai-e-vem, não uma paz intermitente, não uma paz faz de conta, não uma paz entre a Frelimo e a Renamo, uma paz entre os moçambicanos, uma paz sustentável e duradoura” acrescentou.
Foto de Adérito CaldeiraO líder do Parlamento Juvenil reiterou o pedido formal que a organização efectuou à Comissão Mista, que está a preparar o encontro entre o Presidente Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama e que poderá conduzir ao término da guerra que dura à cerca de um ano, “queremos estar presentes na discussão, na definição dos destinos da nação. Os conclaves do Governo e a Renamo só perpetuam o Moçambique que não queremos”.
“Por um lado uma governação cada vez mais excludente e por outro posições desencontradas à cada momento, é mais fácil fazer a guerra do que a paz. Mas a paz é o elemento fundamental para construirmos um país de progresso, um país em que os seus cidadãos se reencontram com os direitos humanos. Fazemos esta marcha para exigir o fim da guerra, não com trégua mas o fim da guerra” declarou Salomão Muchanga.
Relativamente a outra demanda da marcha, “Stop Fome” que deriva do elevado custo de vida que tem-se agravado desde que foram descobertas as dívidas secretamente contraídas pelas empresas Proindicus, MAM e EMATUM, o líder do Parlamento Juvenil afirmou que elas têm dono, “queremos dizer a PGR que não se limite apenas a lamentar mas que tome uma posição enérgica para responsabilização do atum que tem que ser congelado”.
“Atum na mesa, pato na cadeia” gritaram os manifestantes.

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