"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Afinal quem manda em quem?


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Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Alguém ainda duvida de que é a Comissão Política da Frelimo?
Comissão Mista e mediadores internacionais declarados irrelevantes pela Comissão Política da Frelimo, foi o que se viu ontem pelo telejornal da STV.
Meio mundo acreditou naquilo que transpirou a 17 de Agosto sobre a aceitação pelo Governo de Moçambique quanto à nomeação, para breve, de governadores provinciais indicados pela Renamo.
Foi realmente “Sol de muito pouca dura”.
Horas depois de começar a circular a notícia, a imprensa foi convocada para ouvir da boca do chefe da delegação do Governo na Comissão Mista que “não era bem assim” e que ainda não havia nada de substancial sobre o assunto.
Convém que os que ainda duvidam sobre “quem manda em quem” no país fiquem definitivamente esclarecidos.
Em Moçambique, e isso consta nos estatutos da Frelimo, todo o governante que seja membro da Frelimo obedece, em primeiro lugar, ao partido e, como sabemos, este é superiormente dirigido pela Comissão Política.
Qualquer “pronunciamento” que não seja emanado desta poderosa comissão é irrelevante.
O desmentido de Jacinto Veloso é por si esclarecedor.
Pelo que daqui para a frente nada de acreditar no que a Comissão Mista diz ou declara.
Quanto aos mediadores internacionais, estes bem sabem que também são irrelevantes.
Chegados, resta dizer que estamos reféns daquilo que a CP da Frelimo quiser, o mesmo equivale a dizer que as hostilidades vão prosseguir.
Existe um complexo emaranhado de interesses que duvidam de que uma declaração de cessar-fogo lhe seja benéfica.
A III República persiste, mesmo que formalmente tenha sido substituída, se tivermos em conta que a actual CP da Frelimo foi “parida” aquando do Congresso de Pemba, em que AEG desferiu golpes demolidores sobre quem se colocava no seu caminho. Que o digam pessoas como Jorge Rebelo, para não mencionar Sérgio Viera.
Toda e qualquer manifestação de “rebeldia” de alguns supostos membros de peso da Frelimo, quanto a directivas da CP, tem sido liminarmente cortada e rejeitada por este órgão.
“Sem dó nem piedade”, os membros da CP percorrem o país transmitindo aquilo que são os consensos ou instruções daquele órgão. E isso tem sido religiosamente cumprido pelo Governo.
Ontem foi um dia histórico, porque ficou demonstrado que ainda vivemos sob um regime de partido-Estado, embora formalmente seja tido como democracia.
As forças do passado não querem lugar as forças do presente.
Ainda não foi encontrada a engenharia política que satisfaça e sossegue quem se tinha habituado a ser proprietário exclusivo do país.
E, como sabemos, mesmo os “brilhantes” tecnocratas que se guindaram a posições de aparente poder têm muito a perder em termos patrimoniais se houver mudanças profundas na CRM. Quem chegou a “PCA” de bancos britânicos não se pode arriscar num momento destes. Quem se tornou accionista ou “sócio na sombra” de projectos económicos não vê com bons olhos que a governação de uma província onde se localizam os seus “investimentos” mude de mãos.
E se tivermos em conta que lucrativos cargos de PCA de empresas públicas podem estar em jogo, não admira que existam resistência e recuos quanto a intenções ou a um possível acordo operacional quanto à nomeação de governadores da Renamo em seis províncias.
Em termos concretos, todo um povo está refém desta Comissão Política que não desarma nem está permitindo que passos seguros de reconciliação e normalização aconteçam.
Estamos perante a resistência feroz das forças do “‘Empoderamento’ Económico Negro” barricadas na Comissão Política do Frelimo, mas também espalhadas na CTA, na banca, nas empresas públicas.
Os pleitos eleitorais subvertidos e sujeitos a obtenção milimétrica de percentagens que garantam folga e espaço de manobra são parte de um jogo de sobrevivência de uma elite que transformou o poder político em factor de capitalização e de enriquecimento.
Esta é uma crise anunciada que mediação ajudara a debelar se não houver vontade genuína dos moçambicanos.
Já é tempo de abandonarem-se fingimentos e “tácticas de avestruz”.
O “estado da nação” não está bom nem se recomenda.
Defender Moçambique da derrocada e do abismo político vai requerer força de vontade hercúlea e inteligência acima da média.
Se conseguirmos ver e ter membros da Frelimo se libertando da apregoada disciplina partidária e combatendo por mudanças efectivas no seu partido e no país, será   possível evitar mais sofrimentos.
Há provas de que a convivência é possível, mesmo que problemática.
As reclamações e exigências da Renamo não devem ser vistas nem tidas como o “fim do mundo”.
Afinal, temos um Parlamento formal com potencial para evoluir.
Temos três bancadas que tentam, com o que sabem, dirimir  conflitos e, quando lhes interessa, até chegam a acordos válidos.
Como mais alto magistrado da nação, o PR deve aproveitar esta soberana oportunidade para repor a verdade e não deixar o povo órfão de decisões relevantes para o seu presente e futuro.
Sosseguem-se os “empresários de sucesso” e sosseguem-se os dinossáurios políticos nacionais que Moçambique preservará e alcançará os nobres desejos do seu povo. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 25.08.2016

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