02/10/2020
EUREKA POR Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (31)
Bom dia, Presidente. Quando o ouvi esta semana prometendo, publicamente, que vai acabar com a fome até 2025, ocorreu-me pensar se Goebbels, o ministro da propaganda nazista, teria ou não ressuscitado.
Sabe que é dele aquela tirada de que “uma mentira dita cem vezes torna-se verdade”?
O seu discurso, Presidente, pareceu-me algo rebuscado, de ocasião. Há ou não vontade política de acabar com a fome?, eis a questão que deve ser respondida, não só com retórica em comícios populares mas, sim, com acções concretas e visíveis a olho popular.
O Presidente esteve aqui a passear no quinquénio passado. Não combateu a fome. E nem ensaiou fazê-lo. Essa fome não surgiu neste mandato. Sempre existiu. Desde a Primeira República. E os seus antecessores, Presidente, desenharam tantas estratégias para elimina-la, mas acabou por isso.
Se fosse uma ferida, já estaria a gangrenar. Portanto, concluo, com alguma tristeza, que a acção estatal é que é fraca, não obstante a multiplicidade de documentos e planos existentes para acabar com a fome. No meu humilde entender, julgo eu que fome é, ao mesmo tempo, causa e consequência da pobreza. Além disso, é causa e consequência dos conflitos.
Ora, tendo o País vários conflitos internos, com cujos até pode se gabar, não vejo condições objectivas para se acabar com a fome em 2025. Isso é mentira!
Por outro lado, ainda esta semana, o ministro da Economia e Finanças admitiu que o conflito armado na província de Cabo Delgado, vai obrigar o Governo a uma “reorientação de recursos” visando suportar o esforço da guerra. No entender de Adriano Maleiane, o Executivo deve “inventar” para encontrar uma margem de financiamento das Forças de Defesa e Segurança num contexto de escassez de meios.
Esse “inventar” a que ele se refere, significa tirar o pouco que se está a dar às áreas sociais para financiar uma guerra. A guerra em Cabo Delgado, não há como esconder isso, está a provocar danos para a economia do País e para as famílias.
Ou seja, não há guerra nenhuma que faça bem à economia. Ademais: estamos numa situação deveras desagradável por causa da pandemia.
O mesmo Adriano Maleiane disse que o Governo vai submeter esta semana à Assembleia da República uma proposta de Orçamento do Estado (OE) rectificativo que incorpora o impacto da Covid-19 nas contas públicas.
Isto sucede porque, naturalmente, quando há quebra de receita, há sempre uma necessidade de se fazer um rearranjo nas prioridades, para que os grandes objectivos não sejam fortemente afectados. E disse mais, o ministro: estima haver uma perda nas receitas do Estado de 21 mil milhões de meticais até ao final do ano.
E o Presidente e eu sabemos, muito bem, que os efeitos devastadores da pandemia ainda não estão no seu pico. Após a pandemia, ainda haverá que se reconstruir o País, a economia.
E não vale a pena, desta vez, usar-se o truque de mão estendida, a pandemia abalou a todos. Dito isto, pergunto agora: com que dinheiro o senhor Presidente vai acabar com a fome em 2025? Que animal é que o senhor tem na sua cartola? Desculpa, mas coelho não pode ser. Talvez um sapo! Estamos habituados a engoli-los!
DN – 02.10.2020
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