"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Não ao apoio militar a um Governo que despreza o povo

 

Por Michael Hagedorn

Considerar a prestação de apoio – ainda que apenas na formação e logística – a este Governo corrupto e às suas forças armadas, sem antes exigir uma clarificação total dos ataques contra a população civil em Cabo Delgado, é totalmente inaceitável.

Durante a visita à Guiné-Bissau, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, expressou a sua confiança numa resposta positiva por parte da UE ao pedido de Moçambique de apoiar as suas forças no combate ao terrorismo em Cabo Delgado.

Em entrevista à Lusa no passado dia 24 de Setembro, o ministro dos Negócios Estrangeiros português afirmou estar seguro de que essa resposta será positiva.

“Nós recebemos na União Europeia a carta enviada pela ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, é uma carta, aliás, muito clara. Moçambique é muito claro na identificação das áreas em que a cooperação europeia os pode apoiar, designadamente na luta contra o terrorismo em Cabo Delgado, e eu estou seguro de que a União Europeia vai dar uma resposta positiva”, declarou Augusto Santos Silva.

O chefe da diplomacia portuguesa disse também que, na qualidade de ministro dos Negócios Estrangeiros do país que irá exercer a presidência do Conselho da UE a partir de Janeiro, é claro que Portugal contribuirá para que a resposta da UE seja rápida e positiva.

Ao fazê-lo, o ministro português segue o ponto de vista do Governo moçambicano de que a guerra civil no norte do país – que já ceifou 1500 vidas e originou 250.000 refugiados – pode ser atribuída unicamente aos ataques de rebeldes islamitas (ver discurso do Presidente moçambicano Filipe Nyusi perante a UNO VV em 23.09.2020).

Contudo, vários analistas consideram que as causas do conflito se encontram também na enorme pobreza da maioria da população, na desigualdade e na falta de participação nos proveitos da exploração dos recursos naturais (primeiro os rubis e depois o gás). Até mesmo o Parlamento Europeu declarou, já no passado dia 17 de Setembro, numa resolução aprovada por maioria, que considera as causas internas – como a pobreza, a desigualdade, a corrupção e o fracasso do Governo em tornar a riqueza da província acessível à maioria da população – como a razão principal dos incidentes em Cabo Delgado. O Parlamento exortou o Governo moçambicano a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para responder às necessidades da população através de reformas urgentes, evitando assim que as pessoas se radicalizem.

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