02/10/2020
Por Francisco Nota Moisés
Historicamente o que a Frelimo diz, não tem nada de comum com a realidade. O que direi aqui são coisas que ela dizia durante a chamada guerra de libertação nacional e o que os outros na Tanzânia me diziam sobre ela.
Não me levou mais do que um mês depois da minha chegada na Tanzânia quando comecei a ouvir pessoas maldizer a Frelimo. Não chamo a Frelimo uma organização terrorista visto que os portugueses a apelidavam de terrorista. Obviamente, ouvi falar deles como terroristas da imprensa portuguesa antes de sair de Moçambique e o termo sobre ela como terrorista gravou-se na minha mente e nunca saiu.
Foi na Tanzânia, onde me convenci que a Frelimo era verdadeiramente terrorista. Um mês depois da minha entrada na Tanzânia, juntei-me à revolta activa contra a liderança da Frelimo em Fevereiro de 1968 e estive na revolta activa até 1969 quando me safei da Tanzânia para me esquecer e estar longe dessa organização. E jurei desde então que nunca me aproximaria mais dela e não me deixaria enganar por ela.
A Frelimo dizia que Cabo Delgado e Niassa eram zonas libertadas e o berço da sua luta da "libertação nacional" e que nelas havia escolas primarias e secundarias, clinicas e hospitais, colégios e mesmo universidades e uma governação activa e que as duas regiões eram as mais desenvolvidas de Moçambique. Mesmo depois da independência ela continuava com esta propaganda que Sérgio Vieira tinha concebido.
A Frelimo sempre fez da mentira o seu instrumento principal. Se bem me lembro, um dia em 1968, Adelino Muchanga, agora um escritor de renome, contou-nos em Dar Es Salaam que a Frelimo tinha dito aos instrutores chineses da guerrilha em Nachingwea que ela tinha estabelecido zonas libertadas no Norte de Moçambique. Os chineses ficaram encorajados e decidiram ir a Cabo Delgado, mas, mal que lá entraram, não conseguiram ter folga e mesmo esconderijo seguro de aviões militares portugueses que os obrigou a sair numa fuga precipitada para a Tanzânia.
Nos anos de 1970 um jornal de Nairobi falou de níveis infernais que aviões militares portugueses criavam no norte de Moçambique e com defoliantes químicos para destruir as florestas para os guerrilheiros não terem esconderijos.
Ex-guerrilheiros da Frelimo, incluindo o malgrado Manuel Lisboa sobreviveu mal aos bombardeamentos em Cabo Delgado. Lisboa tinha ido à tropa portuguesa e mais tarde foi treinado em guerrilha na China Popular do camarada Mao zeDong, Era membro do Comité Central e representante da Frelimo em Songea no sul da Tanzânia e o homem a quem foi primeiro transmitida a noticia da morte do comandante Felipe Magaia que foi abatido por um certo malogrado Lourenço Matola que andava maluco em Nairobi. Lisboa nos dizia que a aviação militar portuguesa era muito ágil e os seus pilotos muito manhosos.
O QUE SE DIZIA EM TANZÂNIA SOBRE OS MAKONDES E MACUAS
Mesmo na Tanzânia era muito difícil ver macuas na Frelimo. Conheci e ouvi do guerrilheiro Necuatiana, talvez então o único guerrilheiro macua na Frelimo. Mas Necuatiana terminou insurgindo-se contra Samora Machel. No interior constituiu-se num exército de guerrilha duma única pessoa que emboscava os homens da Frelimo e militares portugueses -- coisa que era impossível fazer.
Os macuas, que sempre se consideraram superiores aos macondes que eles os macuas diziam ser os seus escravos históricos, nunca gostaram da Frelimo que eles pensavam era uma coisa de macondes e aliaram-se aos portugueses. Para impedirem a Frelimo não entrar e se estabelecer na terra macua, actuavam com militares portugueses, montando redes e armadilhas para apanhar os homens da Frelimo e às vezes apanhavam mesmo alguns guerrilheiros da Frelimo. Como resultado, a Frelimo não conseguiu atravessar o Rio Messalo.
Quando Portugal se retirou de Moçambique, a Frelimo entrou na terra dos macuas com muita zanga e chacinas e decidiu humilhar o Islão, a religião preponderante dos macuas, destruindo e queimando mesquitas e Samora Machel de uniforme militar e botas nas patas invadia mesquitas durante rezas, interrompendo as orações e gritando que foi ele quem libertou Moçambique e não Allah, incitando-os a criarem porcos para não terem fome.
Durante a guerra da Frelimo com a Renamo, era incrível ver o número preponderante dos macuas nas fileiras da guerrilha da Renamo. Vi isso nas minhas incursões nas zonas libertadas da Renamo na Zambézia, Tete e Sofala em 1986, 1988 e 1989. Aqueles homens queriam mesmo derrubar a Frelimo, mas, infelizmente, Afonso Dhlakama decidiu traí-los.
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