Até prova em contrário, esta casa entende que a Junta Militar é uma criação da Renamo, estratégia que teria sido pensada ainda na era-Dhlakama, no seguimento da enorme onda de desconfianças que ainda prevalece entre esta e o governo-Frelimo.
XÍCARA DE CAFÉ por Salvador Raimundo
EM 92, imediatamente após a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, Itália, entre Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama, este anunciou aos seus guerrilheiros, entrincheirados nas matas moçambicanas, o fim da guerra civil.
A resposta foi de levantar os cabelos. Aqui e em todo o mundo. A partir da voz de comando transmitida desde Roma, a guerrilha foi de um comportamento extremamente inesperado, contrastando a propaganda que dava a ideia de uma organização militar desorganizada e sem comando válido.
A partir desse gesto, o mundo percebeu que a Renamo não é nenhuma organização imatura, sem responsabilidade, precisamente por ter cometido uma proeza só ao alcance das grandes e reconhecidas agremiações.
Isto vem a propósito do concluo, ou não, da actual liderança da Renamo no surgimento e manutenção da Junta Militar, presidida por Mariano Nhongo.
Até prova em contrário, esta casa entende que a Junta Militar é uma criação da Renamo, estratégia que teria sido pensada ainda na era-Dhlakama, no seguimento da enorme onda de desconfianças que ainda prevalece entre esta e o governo-Frelimo.
Foi assim quando da implementação do Acordo Geral de Paz, durante o processo de Desmobilização, Desmilitarização e Reintegração (DDR) da guerrilha, onde se assistiu a uma estratégia que consistia no esconder de homens e equipamento militar, da ONUMOZ e do governo.
Curiosamente, no DDR renovado se assiste quase a mesmíssima asneira. Disse quase? Pois, claro !
Então, a Junta Militar surge na necessidade de garantir uma retaguarda segura, em caso de incumprimento do DDR. É difícil perceber que uma organização que foi capaz de, em 92, parar tudo e em simultâneo e a partir da voz de comando emitida em Roma, hoje possa consentir que Nhongo se rebelde, contra os objectivos supremos do partido.
Outrossim, é muito provável que Afonso Dhlakama tenha deixado instruções contundentes aos seus imediatos, adivinhando os vários cenários que viriam, e pelo pleno domínio que dizia ter do arqui-rival.
Em outubro de 2017, reagindo à invasão a Mocímboa da Praia, Dhlakama disse que através dos seus homens, soube tratar-se de um problema interno da Frelimo.
Logo, a Renamo possui uma Inteligência Militar à dimensão da agremiação, de contrário não teria empurrado a tropa governamental para o Acordo Geral de Paz.
Em síntese, a Renamo não tem que abandonar o diálogo tripartido. De contrário, isso poderá confirmar a tese, segundo a qual, a Junta Militar é mesmo uma sua criação.
De resto, o diz-não-diz pode ajudar o seu provável envolvimento.
Cabe às forças governamentais descobrir, no terreno, tudo que pretende que seja a Renamo a indicar – efectivo, bases, armamento e equipamento de que a Junta dispõe. Mas também cabe à Renamo, por ter andado a demonstrar vontade de contribuir para o aniquilamento da Junta Militar. Mesmo a fechar. Isto não passa de uma arrumação.
EXPRESSO – 30.10.2020
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