"É preciso ter muita coragem. É preciso detestar, profundamente, Cabo Delgado e as suas gentes. É preciso detestar, acima de tudo, Moçambique!"
EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (32)
O meu Presidente ou é definitivamente ingénuo ou algo que prefiro por ora não dizer. Quantas vezes eu lhe disse que os indivíduos que lhe rodeiam hoje não passam de oportunistas?
Elogiam o Presidente publicamente; defendem-lhe nas redes sociais como se de uma criança se tratasse. Tudo falso. O que querem são as migalhas que caiem da mesa opulenta do poder! Esses indivíduos não estavam consigo quando o senhor ainda era funcionário dos Caminhos de Ferro de Moçambique. Nem lhe conheciam. Nunca até haviam ouvido o seu nome. Talvez só haviam ouvido o sobrenome, por causa do seu irmão Casimiro.
Mas hoje acamparam junto de si. E o Presidente anda feliz da vida. Julga que tem amigos. Distribui-lhes cargos de confiança. Esses senhores, Presidente, não passam de intriguistas, fofoqueiros. E cada um inventa qualquer coisa, numa corrida desenfreada para agradar o Chefe.
E foi nessa loucura de dar graxa que o outro-não interessa chamar-lhe de nome porque o Presidente o conhece muito bem- acabou “queimando”, publicamente, o Presidente. Prestou-lhe um péssimo serviço de propaganda. Até parece estar a conspirar contra o senhor.
Ou talvez estivesse bêbado quando escreveu o tal texto publicado nas redes sociais. É que não dá para acreditar que um indivíduo que ao olho popular é considerado seu amigo pudesse escrever tanta salada intragável.
Escreveu o bom amigo do Presidente que o senhor, ainda ministro da Defesa em 2011, teria previsto o que está a acontecer em Cabo Delgado. Até entrou em detalhes para provar a todos que conhece muito bem o Presidente e sabe desse segredo que muitos moçambicanos, inclusivamente eu, desconheciam: o Presidente, afinal, é profeta!
Esse senhor ridicularizou publicamente o Presidente.
Senão vejamos: o Presidente, em 2011, profetizou que a situação em Cabo Delgado se iria extremar: casas queimadas, pessoas degoladas como se de cabritos se tratasse, desordem total. Mesmo assim, o Presidente não fez nada para evitar isso. E não foi por falta de meios porque o senhor era, na altura, ministro da Defesa.
Mas preferiu só contar essa profecia ao seu amigo que hoje nos faz chegar por via das redes sociais. E mesmo quando o Presidente chegou à chefia do Estado-com poder reforçado- , continuou a assistir tudo de camarote: a província a arder, quando bem podia ter se antecipado, por via da sua profecia, e evitar o pior.
Podia muito bem ter reforçado a capacidade das Forças de Defesa e Segurança. Podia ter adquirido equipamento militar sofisticado para fazermos face ao inimigo. Se o senhor sabia de tudo o que iria acontecer. Não é isso que disse o seu amigo? Talvez eu é que estou errado. Esse seu amigo não enganou-se ao escrever aquela “trapalhada” toda.
Ele deve não passar de um inimigo infiltrado. Um lobo em pelo de cordeiro. Passou-se por amigo só para conquistar a simpatia do Presidente. É que um amigo verdadeiro não pode ter coragem de falar tão mal do outro como este fez.
A única razão que poderia ter feito com que escrevesse aquele texto, no meu entender, é se o exército moçambicano tivesse derrotado estrondosamente os “jihadistas”.
Aí sim. Diria, orgulhosamente, que graças à profecia do nosso líder preparamos e muito bem o exército para derrotar o inimigo. Do que vale ser profeta se não usa isso para nada? Não está o Presidente a brincar com o dom? afinal os nossos irmãos estão a sofrer em Cabo Delgado quando o senhor podia ter evitado esta desgraça?
É preciso ter muita coragem. É preciso detestar, profundamente, Cabo Delgado e as suas gentes. É preciso detestar, acima de tudo, Moçambique!
DN – 09.10.2020
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