APONTAMENTOS sobre a HISTÓRIA DE CABO DELGADO, do séc II até cerca de 1929 por Gerhard Liesegang
Introdução: A temática, periodização e as fontes
1. 1 A zona
A actual província de Cabo Delgado de Moçambique situa-se entre os rios Rovuma e Lurio e o mar e uma linha no interior, no oeste, que não é uma fronteira cultural, mas está também parcialmente marcada por rios. As outras fronteiras naturais também não são fronteiras culturais. Os rios Lúrio e Rovuma dividem grupos, mas foram muitas das vezes ultrapassados em fugas e migrações. Ao norte do rio Rovuma existiam também Matambwe, Makhuwa e Swahili, parentes próximos dos seus visinhos no sul. Mesmo o mar era desde o séc. I ou II antes nossa era uma estrada de comunicação, utilizada por marinheiros do Golfo Persico, da Arabia e India, por Swahili das costas do Quénia e Tanzania para o sul e por piratas e refugiados dos Comoros e de Madagascar, especialmente no séc. XIX (Alpers).
Geologicamentemo o espaço tem muita diversidade, desde os planaltos, zonas de calcáreo e mármores, grafite, e uma zona perto do rio Rovuma com pequenos lagos semelhante às formações cársticas perto de Vilanculo. Há sedimentos abaixo da água do mar que servem de repositório para gas e petróleo.
Cobertura vegetal e densidade de população mostram muita desigualdade. As razões parecem na combinação de factores como precipitação média, água à superfície e fertilidade do solo. No interior perto do rio Lugenda, na zona de Nairoto , etc. existiram zonas quase deshabitadas por homens. Estas áreas foram frequentadas por caçadores. O planalto dos Maconde que capta uma parte das chuvas vindas do mar, tem um densidade maior, como a zona sul, incluindo sudeste. Ao norte do rio Lurio passou, antes, da construção das estradas modernas, um dos eixos de comunicação com o interior. Cabo Delgado tem uma zona com ilhas no norte e outra sem ilhas, mas falta uma planicie costeira como aquela entre o Zambeze e Angoche. Isso havia de influenciar a história colonial, mas não evitava que na sucessão de nichos ecológicos entre ilhas e pequenas zonas de aptidão agrícola se havia de desenvolver uma identidade costeira, a de Mwani.
Esta região costeira ou o litoral (Pwani) tinha provavelmente assumido uma identidade cultural já desde os primeiros contactos com povos islâmicos e swahili (séc. IX, XIII), mas possivelmente a incursão Luangwa- Lumbo tinha interrompido o processo até que esse grupo também aceitasse a cultura costeira.
No interior encontramos duas regiões como o planalto densamente povoado com uma vegetação própria, designado como Maconde. Ao noroeste temos uma zona mais baixa de floresta meio seca.
Mais ao sul a zona planáltica de Mmetho, um refúgio na segunda metade do séc. XIX para a população do Niassa, do vale do Lugenda, de Marrupa no tempo da expansão dos Ngoni, de Mataka e dos Magwangwara, estes últimos cerca de 1880-1890.
A região ao norte da foz do rio Rovuma faz parte de uma zona conhecido como Mgao, Mogal, Mugau, correspondendo provavelmente ao antigo Mongalo do séc.XVI- XVII, estado Marave ou pré-Marave que deve continuado ao sul da foz desse rio (ver abaixo).
No planalto Maconde se encontravam oleaginosas arbóreas como parinari curatellifolia, que também no sul da Tanzania era a oleaginosa e fruta doce e cítrica de uso tradicional. (Dias 1964: 33). Não só na aparência mas também no uso tem semelhança com o canhoeiro (sclerocarya birrea).
O clima espelha as irregularidades da zona, com as grandes secas das eras de 1830, 1845, 1900, 1951, 1988 deixando um impacto na produção e alimentação. No tempo colonial devia ter sido suspendida a exportação. Quando não foi como em 1951, deu lugar a polémicas e provavelmente mesmo mortes entre os mais vulneráveis (Soares, Liesegang).
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