Análise: Ataques de insurgentes podem adiar o futuro dos moçambicanos
O ministério moçambicano do Interior diz que os insurgentes estão a intensificar tentativas de ataques a localidades próximas do acampamento da multinacional Total, em Palma, para inviabilizar o projecto de exploração do gás natural em Cabo Delgado, o que, segundo analistas, significa adiar o futuro dos moçambicanos.
"Os terroristas estão a tentar inviabilizar os investimentos na península de Afungi", diz em comunicado aquele ministério, referindo que as forças de defesa e segurança frustraram, esta semana, uma tentativa de ataque à sede da localidade de Mute, no distrito de Palma.
Esta é a segunda tentativa de ataque à localidade de Mute, próxima do megaprojecto de gás natural em Cabo Delgado, após uma primeira incursão ocorrida no dia 7 deste mês.
O analista Adriano Nuvunga diz que a situação de Cabo Delgado é muito delicada, sobretudo porque os insurgentes estão a ganhar espaço e vão actuando muito próximo do complexo de Afungi.
"Isto mostra que cada vez mais, os insurgentes estão próximos de adiar o futuro dos moçambicanos, no que diz respeito ao desenvolvimento da bacia do Rovuma", considera o analista Adriano Nuvunga, que é também director do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD).
Para Nuvunga, os ataques a localidades próximas de Afungi devem constituir "a primeira preocupação do Governo de Moçambique".
Pressão para a negociação
Para o político Raúl Domingos, presidente do Partido para a Paz, Democracia e Desenvoolvimento (PDD), os ataques a aldeias, próximas do projecto bilionário de gás natural liquefeito, podem representar uma táctica de pressãao para a negociação.
“Isso pode ser uma estratégia, porque estamos a falar de um projecto de biliões de dólares, e penso que ao fazerem esses ataques, os terroristas querem obrigar os bilionários que estão a investir no gás a negociar com eles," disse aquele líder partidário.
Entretanto, o académico Calton Cadeado entende que em análises estratégicas é difícil falar de um factor único para explicar qualquer que seja o conflito, "porque há conflitos que podem começar com um único factor, mas, dependendo da sua durabilidade, outros factores podem entrar na equação, e inclusive anular ou diminuir o factor inicial".
Cadeado avançou que, neste momento, não se sabe qual foi o factor inicial, "e só posso afirmar que, no conflito em Cabo Delgado, há uma dimensão doméstica e outra internacional, que é preciso olhar, bem como uma dimensão ligada à questão dos recursos naturais".
Por seu turno, o director do Centro de Integridade Pública (CIP), Edson Cortez, sublinha que para além desses, “há um conjunto de outros factores que associados resvalou para a situação de conflito armado em Cabo Delgado, entre os quais a pobreza".
VOA – 30.12.2020
EY: que se diga adiar o futuro dos camaradas e nao dos moçambicanos
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