08/08/2018
XÍCARA DE CAFÉ por Salvador Raimundo
HÁ semanas, a triste notícia de que os professores, na província de Inhambane, estavam com salários atrasados seis (?) meses.
As hierarquias teriam justificado isso com problemas de foro técnico e que “em breve” teriam solução e os professores, finalmente, os ordenados a cair em suas contas bancárias. Caricato. Quer dizer, os tipos ficaram seis longos meses sem uma solução para o problema e hoje vêm dizer que “brevemente” a solução será encontrada e o dinheirinho disponível para quem, diariamente, cumpre o dever de ensinar, mesmo de estómago colado às costelas, de tanta fome.
Na primeira semana de abril, o autor esteve em Massinga, um distrito municipal da província de Inhambane, numa experiência invulgar de estar com o povão, este lamentando o preço do côco (5 meticais) e os locais às cotoveladas sempre que do interior uma mamana trazia sacos contendo côco.
A presença, em peso, de compradores de côco oriundos da província de Nampula, em camiões de grande tonelagem, era vista como prejudicial. Os nampulenses não olhavam ao preço e arrebatavam tudo que era côco. Afinal, os tais grandes compradores não eram nacionais, sim estrangeiros dos Grandes Lagos sediados em Nampula e que fazem do côco, das principais fontes de enriquecimento.
Por essas alturas, um aluno do primário a preparar uma varinha, a pedido do professor. À nossa pergunta, o aluno, após leve hesitação, revela que a varinha se destinava a “bater alunos” indisciplinados, naquela escola, prática comum. Irritados, pegamos no instrumento de agressão física e fomos à fala com o referido professor [perfeitamente identificado] que não se explicou de maneira convincente.
Nas cercanias da escola, mamanas em busca de água interromperam a actividade para assistir, in loco, a cena, fartas de terem os filhos e os netos com ferimentos causados pelos professores. Pelas contas disponíveis, já em abril, altura da nossa presença em Massinga, os professores em Inhambane não auferiam os seus ordenados. Logo, o tal professor que andava a distribuir porrada aos alunos, eventualmente tinha nas crianças onde podia descarregar toda a sua fúria, de tanto ficar sem os ordenados mensais.
De tal modo que nos debates que se seguiram, o referido professor foi dizendo, em tom de desabafo, que a profissão não lhe diz tanto, por possuir inúmeros coqueiros, tangerineiras e laranjeiras, garantes do sustento.
Em ano eleitoral, o professor sem salário pode virar a tendência do voto e influenciar os demais a fazerem o mesmo, contra o pagador actual. Foi assim no Niassa, certa vez. Professores e enfermeiros combinaram votar na Renamo e Afonso Dhlakama, em vez da Frelimo e de Chissano, em resposta aos salários em atraso.
Tomaz Salomão, na época ministro do Plano e Finanças, teve que se explicar, acabando ilibado porque os cheques há muito estavam na província, mas depositados na banca e a garantir juros, a favor de um grupo de dirigentes da província.
Pelos vistos, a Frelimo não aprendeu a lição…
EXRESSO 08.08.2018
HÁ semanas, a triste notícia de que os professores, na província de Inhambane, estavam com salários atrasados seis (?) meses.
As hierarquias teriam justificado isso com problemas de foro técnico e que “em breve” teriam solução e os professores, finalmente, os ordenados a cair em suas contas bancárias. Caricato. Quer dizer, os tipos ficaram seis longos meses sem uma solução para o problema e hoje vêm dizer que “brevemente” a solução será encontrada e o dinheirinho disponível para quem, diariamente, cumpre o dever de ensinar, mesmo de estómago colado às costelas, de tanta fome.
Na primeira semana de abril, o autor esteve em Massinga, um distrito municipal da província de Inhambane, numa experiência invulgar de estar com o povão, este lamentando o preço do côco (5 meticais) e os locais às cotoveladas sempre que do interior uma mamana trazia sacos contendo côco.
A presença, em peso, de compradores de côco oriundos da província de Nampula, em camiões de grande tonelagem, era vista como prejudicial. Os nampulenses não olhavam ao preço e arrebatavam tudo que era côco. Afinal, os tais grandes compradores não eram nacionais, sim estrangeiros dos Grandes Lagos sediados em Nampula e que fazem do côco, das principais fontes de enriquecimento.
Por essas alturas, um aluno do primário a preparar uma varinha, a pedido do professor. À nossa pergunta, o aluno, após leve hesitação, revela que a varinha se destinava a “bater alunos” indisciplinados, naquela escola, prática comum. Irritados, pegamos no instrumento de agressão física e fomos à fala com o referido professor [perfeitamente identificado] que não se explicou de maneira convincente.
Nas cercanias da escola, mamanas em busca de água interromperam a actividade para assistir, in loco, a cena, fartas de terem os filhos e os netos com ferimentos causados pelos professores. Pelas contas disponíveis, já em abril, altura da nossa presença em Massinga, os professores em Inhambane não auferiam os seus ordenados. Logo, o tal professor que andava a distribuir porrada aos alunos, eventualmente tinha nas crianças onde podia descarregar toda a sua fúria, de tanto ficar sem os ordenados mensais.
De tal modo que nos debates que se seguiram, o referido professor foi dizendo, em tom de desabafo, que a profissão não lhe diz tanto, por possuir inúmeros coqueiros, tangerineiras e laranjeiras, garantes do sustento.
Em ano eleitoral, o professor sem salário pode virar a tendência do voto e influenciar os demais a fazerem o mesmo, contra o pagador actual. Foi assim no Niassa, certa vez. Professores e enfermeiros combinaram votar na Renamo e Afonso Dhlakama, em vez da Frelimo e de Chissano, em resposta aos salários em atraso.
Tomaz Salomão, na época ministro do Plano e Finanças, teve que se explicar, acabando ilibado porque os cheques há muito estavam na província, mas depositados na banca e a garantir juros, a favor de um grupo de dirigentes da província.
Pelos vistos, a Frelimo não aprendeu a lição…
EXRESSO 08.08.2018
Comments
Sign in with Typepad Facebook TwitterGoogle+ and more...