"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Por que querem matar Nini? Medo do Livro em prelo (Repetiçäo)

quarta-feira, 1 de agosto de 2018


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Excertos do meu livro!
Ontem, 02 de Julho, postei qualquer coisa sobre a passagem dos quatro anos do falecimento do meu irmão Ayob. São passagens retiradas do meu livro ainda no prelo. Ao relê-lo, deparei-me com mais elementos valiosos que os quero partilhar convosco.

Vamos recuar para o ano 2003. Aproximava-se o julgamento dos polícias que haviam facilitado a saída de Anibalzinho da BO. Na altura, a cadeia tinha um director famoso por ser mau. A sua canalhice era de longe comparada com a de qualquer vizinho ou conhecido vosso.

Armando Ossufo, serviçal do sistema, desdenhava-me. Era capaz de tudo para me ver gemer, isso por haver apontado o nome de Nyimpine Chissano como estando relacionado com a pretensa fuga de Anibalzinho da cadeia. Eu lhe havia mandado às favas. Pela verdade era capaz de suportar qualquer adversidade!

Sucede, porém, que um mês e meio antes do julgamento dos polícias, o meu nome já havia sido arrolado para ser ouvido como declarante. Armando Ossufo sabia da minha obstinação pela limpeza pessoal. Sempre gostei de estar aprumado independentemente da circunstância e do lugar. Viu nisso um trunfo em suas mãos.

Para castigar-me, proibiu para que me fossem entregues lâminas de barbear e deveria manter o cabelo sem cortar até o dia do julgamento. Sabia que as televisões estariam lá e queria que eu fosse vexamado.

A revista à minha cela era constante. Mesmo a comida que me traziam diariamente de casa tinha que passar pela revista. Havia um grupo de sete polícias para fazê-lo. Cada um à vez. A ver-se não me passam lâminas disfarçadas em comida. E nada. Não usaria desses truques para fazer entrar uma lâmina.

Efectivamente, fiquei quase 40 dias com cabelo e barba a crescerem agressivamente. O meu aspecto era horripilante. E nesse tempo, embora a cela do meu irmão Ayob se situa-se a 30 metros da minha, me era proibido de o ver. A nossa comunicação era por cartas.
Faltando dois dias para o julgamento, deslocou-se à BO um oficial do tribunal. Trazia-me a respectiva notificação. Quando abriram-me a cela para ma entregar, alguns presos viram o mesmo aspecto horrível. E não ficaram alheios à situação. Comunicaram imediatamente ao meu irmão Ayob.
Ayob mandou me uma carta
A carta de Ayob era breve e dizia o seguinte: "Ouvi pela rádio e li nos jornais que daqui a dois dias serás ouvido no julgamento como declarante. Alguns presos, outrossim, disseram-me que estás com mau aspecto: barba e cabelos a reclamarem intervenção. Por que não cortas? estarei contigo embreve”Ayob não sabia o que me havia sido imposto pelo director da cadeia.
Também enviei uma carta a dizer que o Director não me deixa cortar.
Efectivamente, no próprio dia da audição, Ayob conseguiu, horas antes, convencer o carcereiro para que o permitisse me visitar. Foi-lhe concedido apenas dois minutos para o aperto de mão. Foi tempo suficiente para que Ayob me entregasse uma tesourinha e uma máquina de barbear e sussurrou no meu ouvido: "Tire o cabelo e a barba pessoalmente. Jamais te deixes vergar. Nunca percas o gosto pela vida. É bonita para ser vivida e ainda tens muita coisa pela frente.
Tens vinte e poucos anos de idade és jovem
Vai e volta de cabeça erguida e fale toda a verdade ao juiz."

Ayob era um balão de oxigénio para mim. Entrei na cela. Trancaram-me. Apesar do tempo que era apertado, fiz a barba e o cabelo. Quando o director da cadeia viu-me a entrar no carro celular não quis acreditar. Ficou sem chão. Eu assobiava qualquer coisa para mim mesmo. Consequência: mandou trancafiar os cerca de 400 presos durante 30 dias sem direito a banhos de sol pensava que foram uns dos 400 presos que meteu as laminas.

E no tribunal não vacilei. Disse ao juiz Caetano que a mando de Nyimpine Chissano, foram à BO dois guarda-costas do Presidente Chissano para soltarem o Anibalzinho. Faziam-se transportar numa viatura de marca Korando e respondiam pelos nomes de Vascolino e Vamude.

PS: Como podem ver na foto de então estampada no "Savana", de 2003 quando esta sapataria ainda era imparcial, eu, um simples declarante, até fui obrigado a ir ao tribunal vestido de preto- a roupa da cadeia. Anibalzinho, um fugitivo da justiça, estava de roupas jeans sorrindo e acenando para todo o mundo. Sabia que aquilo era uma farsa. Infelizmente, o meu Moçambique a justiça e assim!!!
Nini Satar

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