"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sexta-feira, 12 de maio de 2017

Editorial: Lugar de ladrão é na cadeia


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Samora Machel será eternamente lembrado pelos moçambicanos não apenas por ter sido o primeiro Presidente de Moçambique independente, mas também pelos seus discursos contudentes, incisivos e, diga-se de passagem, proféticos. Uma das suas mais célebres exposição oral foi quando afirmou peremptoriamente que “um ambicioso é capaz de tudo, de vender a Pátria só por causa da sua ambição, do seu interesse individual”. Samora disse ainda que “não sei se um ambicioso muda, mas a minha experiência prova que não, muda de táctica, mas não elimina a ambição. Um ambicioso é criminoso ao mesmo tempo”.
A que propósito vem isso? A resposta é simples: a reintegração de Diodino Cambaza, antigo Presidente do Conselho de Administração dos Aeroportos de Moçambique, como assessor daquela empresa pública. Cambaza foi condenado a 22 anos de prisão maior e 10 anos de suspensão de direito de actividades políticas, acusado de desvio de fundos e bens de Estado de forma continuada, abuso de cargo e função, entre outras violações. Porém, por alguma carga de água, o Comité Sindical daquela instituição aprovou a sua reintegração.
Concordamos que todos os cidadãos têm direito a uma segunda oportunidade e, sobretudo, a um voto de confiança por parte da sociedade. Acreditamos que a prisão pode educar um indivíduo, e reabilitá-lo. Mas também acreditamos que a prisão pode moldar o comportamento de um indivíduo, tanto para o bem como para o mal. No entanto, diante disso, custa-nos acreditar que Cambaza tenha saído de lá reabilitado.
Durante anos, Cambaza fez dos cofres dos Aeroportos de Moçambique a sua vaca leiteira. Saqueou de forma descarada os bens e fundos do Estado, lesando os moçambicanos. Diante dessa situação, não se pode esperar de um sujeito que espoliou o Estado venha dar o seu contributo ao desenvolvimento do país. Certamente, quando o indivíduo tiver um oportunidade para roubar, não irá hesitar. É, no entanto, no mínimo, caricato, incompreensível e vergonhoso a atitude tomada pela empresa.
Na verdade, com a reintegração de Diodino Cambaza, a mensagem que se pretende passar aos moçambicanos é de que o crime compensa. Ou seja, qualquer cidadão pode cometer crimes de corrupção à vontade, pois, após cumprir metade de pena, ele pode requerer à sua reintegração, e voltará a ter o emprego. A seriedade de um país vê-se em coisas tão simples como essas. Portanto, a reintegração de Cambaza como assessor dos Aeroportos de Moçambique é, sem dúvidas, a maior Xiconhoquice do ano.
@VERDADE - 11.05.2017

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