09/08/2020
Por ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
A figura do mercenário está presente na história desde há milhares de anos, e são uma figura imprescindível para o entendimento e a evolução da história mundial. Como existe um número contínuo de diferentes mercenários como; Empresas Militares de Segurança Privada, também é um artifício no centro da figura mercenária clássica: o soldado de fortuna, presente sobretudo na África.
Um dos primeiros casos documentados de presença de mercenários foi nas Guerras Médicas [492-478 a.C] para a conquista de Esparta, também nas Guerras Púnidas entre Roma e Cartago. Especialmente valorizados por suas capacidades de dirigir e assistir as tropas, chegando mesmo ocupando postos destacados no Comando de hierarquia militar ou incluindo como guardas pessoais de altos dirigentes na época.
Um Documente de alta competência indica, que durante a idade media os mercenários, também tiveram um papel fundamental nas guerras entre diferentes reinos. Surgiram as primeiras grandes Companhias de mercenários, Companhias que em alguns casos eram [superiores] aos Exércitos de reis ou senhores feudais. Por exemplo; na Itália Condotieros, como a Companhia Branca, liderado pelo inglês John Hwkwoo eram uma ferramenta militar fundamental para guerras entre Cidades-Estados italianos.
Na Península Ibérica, e eu me apoio naquele Documento de alta competência, que o domínio árabe seria baseado em parte no poder militar da Guarda-Negra, composto por soldados mercenários e escravos da África Central. Indica o Documento, que até Bizâncio, a grande Companhia Catalã liderado pelo ítalo-alemão Roger de Flor, lutaria contra os Otomanos, mesmo destino da Guarda-Varega formado por descendentes escandinavos do povo viking.
Como pode ser visto, os mercenários sempre se destacaram por mobilidade internacional. Como os mercenários actuais, a grande maioria prestava seus serviços ao maior lance, independentemente de terem que lutar pelo lado que enfrentaram anteriormente.
Destarte, para Governos ou Empresas Privadas, a figura do mercenário tem sido essencialmente a mesma ao longo da história, pois o mercenário não luta por razões éticas ou morais, nem mesmo ideológicas, mas simplesmente barato. Ou seja, contratação de mercenários é uma decisão, que possui muitas vantagens não apenas no campo militar. Por um lado, reduz o investimento de tempo e dinheiro necessário para treinar soldados, uma vez que, os mercenários possuem treinamento especializado. Por outro lado, permite que os cidadãos se concentrem no trabalho produtivo e geram mais recursos em tempos de guerra, o que pode ser um elemento decisivo se a guerra continuar. No entanto, o alto preço que cobram significa, que na maioria dos casos, os mercenários lutam em favor do lado mais poderoso ou com mais recursos, o que ajudou ou ajuda a perpetuar diferentes relações de dominação.
Grosso modo, pode se dizer, que esse tem sido o seu papel na história, ou seja, permitir, que um maior poder económico, também se torne um poder militar, por esse motivo, situações como as que ocorrem no filme: «Os Sete Samurais» [1955], em que mercenários samurais lutam abnegadamente para ajudar uma Cidade camponesa faminta, não ocorreram apenas fora da ficção.
A importância dos mercenários e eu me apoio naquele Documento de alta competência, diminuiria graças à consolidação progressiva dos Estados-nações. Ou seja, estes Estados-nações se baseiam em um princípio de soberania nacional, que exigia a centralização do poder militar nas mãos do Estado e a consolidação de um Exército nacional, que colidia com a figura dos mercenários. Note-se que, este processo é acentuado com a Revolução Francesa, após a qual a maioria dos mercenários se tornará membros dos Exércitos nacionais.
Durante a Guerra Fria, muitas colónias europeias se [levantaram] em armas pela independência política, mas também económica. Na entanto, enquanto os Governos europeus acabaram aceitando o primeiro, a riqueza de recursos dessa colónias principalmente as africanas causou relutância em conceder a segunda. Além disso, em meio ao conflito com debelada União Soviéticas [US], as elites ocidentais não estavam dispostas a ver suas antigas posses adoptarem Governos socialistas, que não apenas prejudicariam muito seus interesses económicos, geopolíticos ou militares, mas também poderiam inclinar a balança da Guerra Fria em direcção ao lado soviético.
Muitos, como o Secretário de Estado dos Estados Unidos [EU], Henry Kissinger, temiam que a consolidação do socialismo naqueles países provocasse um efeito dominó no resto da África.
Destarte, para evitar isso, todas as medidas necessárias foram tomadas, incluindo a contratação de mercenários. Eram principalmente veteranos militares europeus, que haviam perdido o emprego após as Declarações de independência das décadas de 19[60] / 19[70], que marcaram o fim das guerras coloniais na África e na Ásia.
Eles, imediatamente se mudaram para pontos de vista dos Governos africanos incipientes, bem como de seus aliados e oponentes, que os viam como óptima ferramenta para resolver conflitos existentes e consolidar seu poder. Afinal, eles conheciam o terreno e tinham equipamento e treinamento muito superior aos de Exércitos locais.
Muitos países africanos, e eu me apoio naquele Documento, foram afectados pela acção dos mercenários, mas há um que se destaca principalmente por sua importância e pelo número de mercenários envolvidos. O Congo-Zaire, uma ex-colónia belga. Após a Declaração de independência em 19[60] viu o estabelecimento de um Governo provisório de orientação Comunista, liderado pelo Primeiro-ministro Patrice Lumumba. A União Mineira de Alta Katanga [UMHK], de propriedade belga, controlava grande parte da riqueza do país e temia perder suas propriedades, especialmente na região de Katanga, a mais rica do Congo e um dos maiores depósitos do mundo de cobre, urânio, rádio e cobalto na época.
No entanto, o Exército belga havia sido evacuado após a independência e dissolvido grande parte do Exército congolês, de modo que o UMHK precisava procurar ajuda em outro lugar. Para proteger seus interesses, a UMHK planejou uma tentativa de se separar de Katanga dois [2] meses após a independência, liderado pelo General Moisés Tshombé, com o objectivo de preservar suas propriedades valiosas. Para garantir o sucesso da operação, a UMHK contratou várias divisões de mercenários para apoiar o General Tshombé, incluindo dos mais famosos soldados da sorte do século [XX] como; o Bob Denard, o Jean Schramme e o Michel Mad Mike Hoare.
O Denard liderou um destacamento de pára-quedistas e mercenários franceses, enquanto o irlandês Mad Mike comandou vários mercenários sul-africanos. Seu trabalho começou com o treinamento de soldados congoleses, para depois agir contra os grupos, que se opunham à secessão. Apesar de ter [100] mercenários e alguns milhares de soldos congoleses, o Exército do General Tshombé usou suas melhores
armas e preparativos para gradualmente ganhar o controlo do território. Naquela época, a crueldade das acções dos mercenários rendeu-lhes o apelido les affreux [os terríveis] em francês, um apelido que acompanhou o Denard toda a sua vida.
Patrice Lumumba, pediu várias vezes as Nações Unidas [ONU] que parassem com o assassinato, mas foi somente quando ele decidiu pedir ajuda a US, que a comunidade internacional concordou em intervir. Temendo, que o Congo de Lumumba, se alinha-se definitivamente com o lado soviético, a temível Agência Central de Inteligência dos EU [CIA] organizada em 19[47] em virtude da «lei da segurança nacional», entrou em cena e planejou o golpe de Estado do General Móbutú, Comandante Superior do Exército congolês, expulsando Lumumba do poder.
Conforme indica aquele Documento, os americanos e belgas compartilharam interesses na área desde o final do século [XIX], e não era fácil concordar com uma aliança táctica. Pois, a bomba de Hiroshima foi feita com urânio de Katanga e da UMHK.
Mais tarde, na tentativa de aproximar as posições dos secessionistas, o Móbutú enviaria Lumumba a Katanga, onde o General Moisés Tshombé e seus aliados o matariam sem piedade¹. O assassinato de Lumumba desencadeou uma rebelião em todo país, conhecida como Rebelião Simba, que envolveu uma quantidade enorme de trabalho para os mercenários, que vagavam livremente por todo o país comandados e liderado por Mad Mike, que se juntou ao Exército congolês depois de lutar contra ele.
Depois, o General Moisés Tshombé se tornaria Primeiro-ministro em 19[64], embora ele só tenha mantido o cargo por um [1] ano pouco antes do Móbutú garantir o poder total do Congo. No entanto, os militares congoleses não foram os únicos que tiveram ajuda externa. Os Simbas, também receberam um destacamento de soldados cubanos Comandados pelo próprio "Che" Guevara. Ainda destarte, o poder combinado de mercenários e o Exército era demais para os rebeldes, que finalmente cederam em 19[67] ao novo presidente Móbutú.
O Móbutú, a seguir expulsou todos mercenários do Congo, e mudou o nome do país para Zaire, nacionalizou as propriedades da UMHK e manteve o poder até 19[97], permitindo-lhe formar uma das maiores e imbatíveis fortunas do século [XX] e ser recordado como o protótipo Ditador africano.
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