"Todo mundo sabe que somos corruptos, ladrões, graças aos dirigentes que temos"
EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (47)
Presidente: podia eu estar, nesta carta, a falar-lhe de Covid-19 e das novas medidas para o combate desta pandemia que o senhor introduziu ontem. Mas não posso. Há algo que me engasga. Não desce nas minhas goelas. É a corrupção! Já não dá para esconder.
Todo mundo sabe que somos corruptos, ladrões, graças aos dirigentes que temos. O recente ranking anual da Transparência Internacional (TI) dá uma percepção da corrupção e da evolução da imagem do País.
Moçambique caiu três posições, passando do lugar 146 para 149. No relatório, realça-se o risco de Moçambique se encaminhar para uma espiral descendente, sem esforços concertados para apoiar a transparência e a responsabilização. E diz-se mais: há falta de empenho dos donos do poder no País para estancar a corrupção.
A elite política e governamental continua a usar a corrupção para acumular negócios e oportunidades para se enriquecer. Tudo isto, Presidente, é a descrição de um Estado capturado por uma teia de interesses e negócios.
E tudo isto foi antes de os milhões do gás natural começarem a jorrar. E no dia que os teremos o que há-de acontecer? Por outro lado, essência desta minha carta, há notícias não abonatórias para o partido Frelimo. A recente missão a Maputo do ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, está a ser objecto de comentários desaprovadores em meios diplomáticos europeus.
Não gostaram do que ele assumiu no encontro que teve com o Presidente. Ele, o governante português, acolheu favoravelmente a ideia de as ajudas humanitárias destinadas aos refugiados internos causados pelo conflito em Cabo Delgado sejam canalizadas pela Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN).
E os europeus toparam logo que essa agência de Celso Correia vai desviar tudo. Esses produtos nunca chegarão ao seu destino. Perder-se-ão em qualquer esquina antes de chegarem a quem mais necessita. Encontrá-los-emos nos dumbanengues deste País a serem vendidos.
Serão desviados, como tudo é desviado neste País. Seria absurdo se a União Europeia acolhesse a ideia de canalizar a ajuda por via da ADIN de Celso Correia.
Quer dizer, o Celso Correia-apagado que anda- quer reaparecer por via dessa ajuda? O europeu sabe que uma das razões da insurgência em curso em Cabo Delgado é em virtude desse roubo desenfreado das elites.
Seria patético que ao invés de eles ajudarem a combater esse roubo, dessem mais meios e oportunidade para a Frelimo roubar. A ajuda pode chegar, mas duvido que será por via ADIN ou outra agência que o Governo da Frelimo possa criar.
É uma ajuda que vai ser escrutinada. Se for necessário-quando a ajuda chegar-, até vigiaremos a casa de Celso Correia e de todos os membros do partidão para nos certificarmos que nenhum saco de arroz entrará pela calada da noite.
Desta vez não basta o europeu oferecer a ajuda necessária. É preciso ter uma equipa de jovens que poderão dormir à porta de qualquer membro deste Governo, e dos seus mais directos colaboradores, para se ter certeza que o produto doado não entra em nenhuma dessas casas. Voluntários há tantos neste País. Eu sou o primeiro. E tenho mais quatro ou cinco amigos que oferecer-se-ão para esta nobre missão de vigilantes!
DN – 05.02.2021
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