"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



domingo, 7 de fevereiro de 2021

 

ondlane não foi o nacionalista como a Frelimo conta (6)

MondlanePor Francisco Nota Moisés

Antes que proximamente aborde a questão do Triunvirato que sucedeu Mondlane depois da sua morte e que foi uma manobra para impedir Uria Simango que se tornasse o presidente da Frelimo, vou traçar um pequeno retrato sobre o primeiro presidente da Frelimo. Pessoas que nunca o viram, ou conheceram de perto,  não podem fazer ideia da sua estatura física e da sua personalidade.

Mondlane era um homem gigante com uma altura muito elevada, para além de 2 metros e alguns centímetros. Com o seu grande corpo e altura comprida, pouco se assemelhava aos moçambicanos que em geral são duma altura média ou baixos -- e alguns um pouco como pigmeus. 

No meio de africanos americanos, ele passaria muito bem por um africano americano com a sua altura como a de jogadores de basketball negros americanos.

Carecudo e com lábios grossos, Mondlane era um homem que se mantinha de boa saúde visto que fazia exercícios físicos quase que diariamente e gostava muito de marcha corridas na Praia de Oyster Bay onde vivia em Dar Es Salaam. A sua actividade física lhe serviu bem quando no segundo congresso da Frelimo no Niassa em Julho de 1968, aviões portugueses apareceram e obrigaram os congressistas a debandar com muito arrepio nos seus cabelos.  A fuga precipitada do Mondlane e dos congressistas foi uma coisa que a Frelimo nunca anunciou. 

Foram os guerrilheiros que lá estiveram como o malogrado Inácio Chondzi que vieram depois a nos contar o que aconteceu. Mondlane correu os poucos quilómetros do sítio da reunião para o rio Rovuma em pouco tempo, acompanhado e protegido por alguns guerrilheiros para quem correr era parte das suas vidas nas matas Moçambique.

O episódio foi na verdade a ironia do Mondlane que era considerado como agente dos portugueses a fugir de aviões portugueses cujas bombas podiam carbonizá-lo.  Penso que os portugueses não pensaram nele ou queriam sacrificá-lo para os eliminar o bando dos lideres da Frelimo. Quando os portugueses souberam que a Frelimo tinha dito que iria fazer o seu congresso no interior, coisa que foi causado pela revolta contra a liderança da Frelimo em 1968, em vez de na Tanzânia onde queríamos que o evento tivesse lugar para nós os rebeldes participarmos, estiveram alertos com voos de aviões de reconhecimento mais do que nunca dantes realizados.  Um avião de reconhecimentos detectou os congressistas, ou os terroristas segundo os portugueses, e não levou muito tempo antes de aviões de ataque aparecer em e atacar o lugar.

O Alto Comando das forças armadas portuguesas em Lourenço Marques assegurou ao governo em Lisboa que "os dirigentes terroristas não sairão vivos do território português." Eles queriam eliminar os dirigentes da Frelimo.  E Mondlane também sabia que bombas largadas por aviões não haviam de o poupar e teve que cavalgar e as suas pernas compridas ajudaram-lhe a cobrir os três  quilómetros do sítio do congresso para o Rovuma em pouco tempo antes de atravessar numa almadia para a Tanzânia.

Mas o curto Uria Simango, então barrigudo e obeso, que não podia correr, chorou enquanto gritando aos guerrilheiros: "ponha me palha na cabeça, ponha me palha na cabeça," que era para o camuflar dos aviões em cima deles que largavam bombas que produziam grandes covas nas quais mais tarde alguns guerrilheiros que tinham sido destacados para ficar e defender o lugar se metiam para se esconderem ou para a sua proteção quando os aviões regressavam.

Enquanto outros estiveram a se esconder debaixo de árvores frondosas, Samora Machel fez-se de palhaço quando se lançou para o chão e começou a rastejar e a disparar a sua pistola para o ar de qualquer maneira. Um guerrilheiro foi lhe puxar do lugar onde ele queria demonstrar que era o comandante supremo e lhe disse: "camarada chefe, o que você esta fazer vai atrair estes aviões em cima e vai nos por em perigo."

Quanto a sua personalidade, Mondlane era educado, mas nunca jamais o vi com um livro nas mãos. Ele não fascinava pessoas.  Era na verdade odiado globalmente. Pessoas não gostavam dele em geral por causa das historias que corriam por ai que ele era agente dos americanos e dos portugueses.

Mas era um homem aberto e gostava de falar com as pessoas, mas as pessoas não gostavam dele, ao contrario do que acontecia com o Padre Gwenjere que era como uma luz no meio das trevas.  A gente congregava-se em seu redor quando o viam para ouvi-lo falar.  Militantes iam a ele para lhe informar sobre os crimes contra a humanidade e outros malfeitos dos líderes da Frelimo. Gwenjere era muito carismático enquanto Mondlane não era. 

Numa eleição livre, onde Gwenjere, se participasse e se quisesse, Mondlane havia de perder sem forma para o Gwenjere. Mas a posição do Gwenjere era  muito clara: ele era um homem de Deus. Não estava para o poder politico. Queria que as coisas andassem bem na Frelimo sem o terrorismo dos  seus líderes e com liberdades e respeito dos direitos humanos dos militantes e do povo.

E Mondlane, infelizmente, metia-se em decisões sobre quem devia morrer como ele fez com Chissano, Machel e outros para a eliminação do comandante Felipe Magaia e de muitos outros.

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