"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

 

Papa resgata Bispo de Pemba

Por Edwin Hounnou

O Papa Francisco tomou, no dia 11 deste Fevereiro, a sábia decisão de transferir para o Diocese de Cachoeiro Itapameri, no Estado do Espírito Santo, Brasil, o corajoso Bispo de Pemba, Dom Luiz Fernando Lisboa, tendo-lhe conferido a dignidade de “arcebispo ad  personam" o que significa elevação hierárquica dada a título pessoal, ou seja, por mérito próprio e não pela diocese atribuída. Luiz Fernando Lisboa dirigiu os destinos da Diocese de Pemba desde 2013. Ele tem sido, desde que eclodiu o terrorismo, a voz que, de forma insistente, denuncia as atrocidades da guerra, o sofrimento dos deslocados e a maneira quase apática como o governo tem vindo a lidar com este problema. O governo pensava que os ataques dos terroristas fossem uma ventania dentro de um copo, assim, demorou responder e quando despertou a insurgência já se tinha disseminado.

A voz do Bispo Luiz Fernando Lisboa tem denunciado  os malefícios dos terrorista e tem dado a conhecer ao mundo as amarguras por que as populações têm estado a passar. Era a voz credenciada para falar da guerra de Cabo Delgado e isso criou ódio nos propagandistas do regime. Foi insultado, humilhado e chegaram a propor que o bispo fosse expulso do país por, aparentemente,  ter “abusado” da hospitalidade do povo moçambicano. Não se sabe bem de que o povo o G40, grupo inicialmente de 40 pessoas, composto por advogados, docentes universitários, historiadores, jornalistas, etc., recrutado para atacar ideias não-alinhadas com o pensamento oficial e enaltecer os feitos do governo e da Frelimo, se referia porque não havia outro povo para além das populações vítimas dos ataques dos terroristas.

Tudo quanto o mundo sabe do terrorismo  se deve, fundamentalmente, à coragem do Bispo Luiz Fernando Lisboa  que, sem cessar, dizia que as populações de Cabo Delgado estavam a sofrer os piores horrores da guerra. Para todos, incluindo para o Parlamento Europeu onde residem os grandes centros decisores dos nossos tempos, a voz do Bispo de Pemba fez despertar as atenções. Luiz Fernando Lisboa levou Cabo Delgado ao mundo e levou o mundo a Cabo Delgado e as suas ansiedades. Enquanto uns diziam que somos atacados por termos petróleo e gás, Luiz Fernando Lisboa sempre disse que se trata de terrorismo pelo escancaramento das vias do narcotráfico. Esta análise, quanto nós, é verdadeira. Em Cabo Delgado, há luta entre narcotraficantes, apimentada com a governação pouco inteligente que tornou as populações presas fáceis dos terroristas.

A costa de Cabo Delgado sempre foi o caminho para o narcotráfico e a descoberta de imensos recursos naturais – minerais, gás e petróleo – veio a aumentar a presença militar na região, dificultando, desse modo, o livre acesso para o negócio de droga. As teorias que se tentam espalhar de conluio dos produtores de gás e petróleo, parece não ter pernas para se manterem em pé nem tão-pouco convencem. Outras razões mais consistentes devem ser investigadas para explicar, de maneira mais convincente a guerra que, agora, devasta a província de Cabo Delgado. As várias que vimos, ao longo da nova ocupação das zonas com recursos minerais, podem ter contribuído bastante para que uma parte dos jovens abraçassem o terrorismo. Ainda nos lembramos como foram presos, açoitados e expulsos os garimpeiros de minas da Montepuez Ruby Mining a fim de beneficiarem empresas estrangeiras associadas às elites políticas do partido governamental. Soubemos por terem sido denunciados pela imprensa internacional enquanto o governo achava aquelas agressões como algo normal.

Não temos dúvidas de que a transferência do Bispo Luiz Fernando Lisboa faz esfregar as mãos de contentamento daqueles que, há muito tempo, lhe desejavam ver fora das fronteiras nacionais e contra ele moviam montanhas de calúnias e pragas. Mesmo aquele pisca-pisca do Presidente Filipe Nyusi ao visitar o Bispo na sua residência, em Pemba, não passava de um mero expediente de relações públicas, porém,  a vontade de dizer a Luiz Fernando Lisboa que : “ Não estamos a gramar as suas bocas", não faltou. O G40 ficou em silêncio, porém, não desarmou. Agora deve estar a abrir garrafas de champanhe para festejarem a partida de uma voz que incomoda o regime. Os cachorros não ladram nem mordem por sua iniciativa. Recebem um sinal de partirem ao ataque, só aí, ladram, mordem e até podem despedaçar as suas vítimas. É assim como funciona a matilha e os esquadrões da morte completam o trabalho.

Na grande senda de calúnia e difamação, chegamos a ler que o Bispo Luiz Fernando Lisboa seja racista e, admiravelmente, não ouvimos nenhuma voz do clero diocesano se insurgiu ou desmentiu tais mentiras. Concluímos de que aquilo fazia parte do menu que visava abate-lo psicologicamente. Não sabemos se foi por um mero conformismo ou cobardia que caracteriza algum sector da nossa sociedade onde se diz que “quem não connosco, é contra nós“. Não ouvimos uma palavra a desmentir a falácia. Nós sabíamos que o Bispo de Pemba era um grande amigo do povo e, por ele, era capaz de dar a sua vida em defesa do povo de Deus. Este foi o motivo por que foi odiado e caluniado.

Na Igreja Católica não se sabe haverá nos próximos tempos, uma outra voz que venha a falar tão alto, contundente quanto a de Luiz Fernando Lisboa que deixava de regalo não somente os cristãos mas a todo homem que pugna pela paz, justiça social e desenvolvimento, pois ele defendia o povo, defendia os mais fracos, desprotegidos e sem voz. Luiz Fernando Lisboa é bom grande pastor, corajoso e determinado, por isso, o admiramos, em particular, desde que a guerra terrorista eclodiu, a 04 de Outubro de 2017, com o ataque à Mocímboa da Praia. Homem de paz para si e para os outros.

O Papa estudou a situação e tomou a decisão de resgatar o Bispo Luiz Fernando Lisboa da boca dos lobos antes que fosse demasiado tarde. Poderia ser morto, tal como aconteceu com tantas outras vozes discordantes ou que primavam pela justiça e verdade. A Igreja é a mesma. O rebanho de Deus é o mesmo ainda que as necessidades locais sejam diferentes. Queremos herói vivo, que esteja entre nós e vive os nossos problemas do quotidiano do povo e lá para onde vai, continue a falar das vítimas desta guerra terrorista.

Ajude sempre ao povo a encontrar a paz. Leve no coração o povo de Cabo Delgado, Bispo Luiz Fernando Lisboa! Lamentamos que tenha que partir num momento em que o povo mais necessitava de si, do seu apoio, da sua voz e das suas orações. O povo tem  a esperança de que o Bispo vai continuar a mobilizar ajudas e  a difundir os horrores de uma guerra terrorista e estúpida.

Luiz Fernando Lisboa não era mais um bispo para completar o xadrez. Era o bispo dos pobres, das populações sofredoras de Cabo Delgado. Você é bispo da libertação, a vós dos sem voz. É respeitado e admirado pelo povo. É temido pelos inimigos do povo que sempre viram em si um inimigo. Continue lutando pelos injustiçados, como o conhecemos! Cabo Delgado e as suas populações terão saudades do seu apoio, da sua voz denunciando  as atrocidades terroristas e a inércia do governo.

A um grande amigo do povo, como o senhor sempre o foi, não se diz adeus, mas, apenas, tchau. Agradecemos ao Papa que o resgatou com vida e o tirou das garras dos lobos que já afiavam os dentes e aguçavam as unhas para lhe aplicarem o golpe final. Os anjos do mal, aqueles que o caluniavam na imprensa e o consideravam persona non grata, estão a festejar a sua transferência porque a sua presença atrapalhava algumas pessoas.

CANAL DE MOÇAMBIQUE – 17.02.2021

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