"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sábado, 6 de fevereiro de 2021

 

Mussevenis de lá e de cá

Por Edwin Hounnou

Yoweri Musseveni, 76 anos e já leva 35 anos consecutivos de poder teocrático, é o ditador do Uganda que vai no seu sexto mandato como presidente daquele país dos Grandes Lagos e chama do país sua machamba onde plantou bananeiras e outras gostosas fruteiras cobiçadas por malandros. Ele até se julga como dono do país. Mussevini foi discípulo da FRELIMO (frente de libertação), em Nachingueia e parece ter bebido a filosofia de ser e de estar na politica do seu mestre nos seus aspectos mais obscuros, antipopulares e antidemocráticos tais como repressão contra a oposição e recurso sistemático às fraudes eleitorais. No Uganda, é prática corrente a violência contra opositores políticos, tal como acontece entre nós na nossa terra. A única diferença entre a a Frelimo (partido-Estado) consiste no facto de lá a cara do ditador ser a mesma, enquanto na nossa pátria-amada, a ditadura muda a face dos ditadores.

Não crescemos nem nos desenvolvemos ainda que tenhamos imensos recursos naturais, milhões de hectares de terra arável, dezenas de rios com curso permanente de água, milhões  braços para o trabalho  nem é pela vontade de Deus que nos afundamos na pobreza. Não é difícil concluir que a raiz do nosso problema reside em dois momentos : nas nossas lideranças que só pensam em si, nas suas negociatas e na nossa paciência elástica de aceitarmos conviver com a mediocridade. A nossa pobreza é provocada pelas elites que governam os nossos países. Musseveni foi um grande entusiasta da luta contra o regime do sanguinário Idi Amin Dadá, em 1978, integrando as operações das  forças tanzanianas e moçambicanas. Hoje, é pior que o seu antecessor, prende o seu concorrente, invade-lhe a sua casa e deixa a esposa do seu adversário nua.

Aceitamos, sem protestar nem reagir, ser governados por indivíduos que vencem as eleições através de truques mafiosos ou se mantêm no poder através de processos eleitorais fraudulentos, tais como enchimentos de urnas com votos falsos, favorecidos por uma polícia partidarizada, beneficiados por órgãos eleitorais manietados e tribunais alinhados com regimes autocráticos e  corruptos. Temos que nos queixar de nós mesmos e não de qualquer imperialismo nem de nenhuma conjectura internacional suposta desfavorável às aspirações dos povos africanos. Nós jogamos contra nós próprios, comprometendo o nosso futuro. O obstáculo maior ao desenvolvimento dos nossos povos não são as potências estrangeiras ou outrora colonizadores, a quem os nossos dirigentes pedem esmola. Pior que as potências estrangeiras são os dirigentes corruptos que são um obstáculo atravessado no caminho do desenvolvimento dos nossos países.

Somos nós próprios que nos promovemos mentiras grosseiras como a extrapolação do número da população de um círculo eleição como tentativa de “vencer” uma eleição, como aconteceu com a província de Gaza que foi debitado com um número de habitantes equivalente ao ano de 2041. São os nossos governantes que se aliam às potências estrangeiras para saquearam os nossos recursos como carvão, madeiras, gás,  petróleo, areia pesada e outros. São os regimes que dominam os nossos países que provocam êxodos massivos das populações à procura, fora das nossas fronteiras, de estabilidade socioeconômica que não conseguimos encontrar nas nossas terras devido à corrupção e guerras. O feiticeiro que nos trama longe de nós e até o admiramos.

O feiticeiro não está fora das nossas fronteiras. Nós até o referenciamos. É o que se alia às multinacionais para saquearam as nossas riquezas. diz que fica mais barato o país não produzir para se alimentar de importações de arroz, batata, cebola, alho, banana, feijões, repolho, cenoura, laranja, sapatos de segunda mão e roupas de segunda mão. O feiticeiro prefere destruir a indústria e a agricultura com os olhos virados para as importações por causa de comissões. Quando está doente atravessa a fronteira para se tratar. Os  seus filhos estudam nas melhores escolas da Europa enquanto os do povo estudam debaixo de mangueiras, sem carteiras e com a coluna vertebral encurvada ao chão e assistem camiões carregados de troncos de madeiras a passarem para a China.

Os mussevenis, tanto os de lá quanto os de cá, vencem os pleitos eleitos em que participam com recurso a fraudes. Os órgãos eleitorais são, para os mussevenis, um departamento dos seus partidos que serve para carimbar as falcatruas que protagonizam e não para implementar a soberana vontade popular expressa nas urnas. Os mussevenis não lutam para que as eleições sejam genuínas, transparentes, justas e pacíficas mas para serem legitimados. Tudo fazem para que as eleições sejam uma farsa, para não ficarem mal perante os “parceiros de cooperação” que, em conluio com seus amigos, nos enganam.  Eles pensam que o povo seja uma criança em ponto maior. Tudo têm feito para que as eleições sejam uma farsa e aceitam fazer eleições para não ficarem mal perante os “parceiros de cooperação” que abençoam as jogadas de seus amigos.

Depois da carta branca dos parceiros, os artistas cantam na nossa cara que obtiveram vitórias retumbantes, sufocantes e estonteantes, denigrindo e agredindo a democracia, perturbando a nossa convivência social. É a democracia de conveniência, de fachada para agradar os doadores de dinheiro para o funcionamento dos nossos Estados. Eles, os doadores, não estão interessados para que os nossos países sejam fortes. Assistem os gatunos roubarem o “taco" que nos emprestam. Os doadores só lançam umas bocas para nos taparem a vista. Agora vemo-los aos abraços, num gesto de cumplicidade mas os ladrões continuam em banho-maria até o povo esquecê-los.

Enquanto os nossos países forem governados por mussevenis, jamais sobressairemos da pobreza ainda que tenhamos imensos recursos como gás,  petróleo, carvão, areias  pesadas, minerais diversos, madeiras (que saqueiam com de seus amigos chineses), um invejável complexo ferroportuário para o hinterland,  com cinco portos de águas profundas e milhões de hectares de terra ociosa. O que determina o desenvolvimento de um país não são apenas os recursos de que dispõe mas o tipo de governação, a transparência e ausência de corrupção na gestão da coisa pública. Quando chegamos à independência, era proibido roubar ao povo, mas agora quem não rouba e não promove a corrupção, não é dos “nossos". Ser “nosso" pressupõe que seja corrupto e bandido.

A liberdade e a democracia são condimentos para que os nossos se possam desenvolver que, sem estes factores, se podem confundir com um cadáver. Os mussevenis odeiam a liberdade e ostracizam a democracia, por isso, os vemos a espalhar polícias, quando chegam as eleições, por temerem as mudanças e enchem as cadeias de militantes da oposição. Moçambique  apesar de todos os recursos que possui, o país vai regredindo, em todos os aspectos – sociais, políticos e económicos. Os estudos disponíveis dizem que somos um dos mais corruptos do planeta, o mais atrasado que nem conseguimos produzir para a nossa alimentação.

O país está muito mais atrasado do que quando ascendeu à independência, em 1975. A nossa indústria era uma das mais fortes de África, mas foi arrasada. A agricultura perdeu a força e a concorrência que tinha. De exímios produtores de bens essenciais que éramos, passamos a excelentes importadores até de produtos alimentar básicos.

A África será livre se os seus povos se descartarem dos mussevenis e tomar de acordar o seu destino. Os mussevenis são a porta de entrada do neocolonialismo e do mal.

CANAL DE MOÇAMBIQUE – 04.02.2021

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