"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

 

O Rei Leopoldo II, o Hitler esquecido que matou [10] milhões de congoleses[Elementos de Autocrítica]

Por ten-coronel Manuel Bernardo Gondola

Quando falamos dos governantes mais sanguinários de todos os tempos, qual é o primeiro nome que vem a sua cabeça: Stálin, Gêngiskhan, Hitler, Mussolini. Sim! São essas personalidades cruéis, que a maioria das pessoas lembra. Mas… existe o nome de um homem, que inclusive morreu no século passado, que pouca gente sabe sobre suas crueldades; eu mesmo não me lembro de ter visto algo sobre ele nos livros de História. Você sabe de quem estou falando? Sobre o Leopoldo II, o segundo Rei dos belgas. Neste texto vou contar um pouco sobre as barbaridades cometidas pelo governante belga contra o povo congolês.

Em 18[97] o Rei da Bélgica, o Leopoldo II criou uma exposição universal o local tinha animais enxugados vindos da África, curiosos objectos e algumas pessoas, também oriundas do Continente africano: homens, mulheres e crianças, ficaram durante meses em exposição. Passado um tempo o Rei resolveu inovar; ele então criou o Museu Real da Africa Central, que durante muitos anos foi o mais popular da Bélgica.

O Museu passou a expor a visão, que os europeus tinham dos países africanos, logo na entrada era possível ver a imagem duma missionária abraçando uma criança africana, com a seguinte frase: «a Bélgica leva a civilização ao Congo». O Museu, foi fechado para o público em 20[13] para obras de restauração, provavelmente na forma como abordava os africanos e foi reaberto no final de 20[18]. Inclusive no final de 20[19], surgiu um debate sobre o que fazer com os objectos pilhados durante a sanguinária era colonial, e que são considerados obras de arte nos Museus da Europa, destarte como acontece na Bélgica.

Mas… afinal quem foi o Rei Leopold II, que fundou o tal Museu? Porquê algumas pessoas dizem, que ele foi tão cruel? Nascido como herdeiro do trono belga em 18[35], o Leopoldo era Príncipe como qualquer outro, era cercado de privilégios e luxo. Durante a juventude suas únicas obrigações eram aprender a manipular armas, participar de cerimónias estatais e… coisas do tipo, nada que indicaria que ele quando mais velho faria uma matança intencional de um pais africano [Congo].

Depois de ser nomeado no Exército, o Leopold se casou com uma Princesa austríaca, e subiu ao trono em 18[65]. Quando o Leopold assumiu o Governo, o contexto dos belgas era um pouco complicado; eles tinham passado por muitas Revoluções e Reformas, então era esperado que o Governo do Leopold fosse tranquilo sem muitas turbulências.

E de facto, o Governo do Rei Leopold II foi tranquilo ao menos em relação aos belgas, o Rei só [pressionava] o Senado, quando o assunto era construir um Império fora da Bélgica. Por falar nisso, para o Leopold II, uma nação só era realmente respeitada quando ela conquistava terras e tinha lucros incontáveis em suas Colónias, por isso, um dos grandes objectivos do Leopold era conseguir colonizar grandes terras e tentar ser uma das nações mais respeitáveis do mundo.

Na sua primeira tentativa em 18[66], o Leopold tentou colonizar as Filipinas, que na época era da Rainha da Espanha, mas as negociações acabaram não se concretizar, depois, que a Rainha foi tirada do poder foi aí, que o Leopold II, passou a olhar para África com outros olhos. No ano de 18[76] o Rei organizou uma Conferência Geográfica Internacional em Bruxelas, onde reuniu trinta [30] sábios de toda a Europa.

Inicialmente, a Conferência tinha como objectivo organizar uma expedição multinacional [humanitária e científica], para explorar a imensa região da África Central, que na época era praticamente desconhecida pelo povo europeu, por consequência, foi criada a Associação Internacional Africana, cujo objectivo era enviar ajuda humanitária a África.

Em uma expedição o Rei envio Henry Morton Stanley e David Livingstone, dois [2] exploradores, que iriam abrir caminho para as tropas belgas. Em 18[78], a impressa internacional ocidental, transformou esses dois [2] homens em heróis afirmando, que eles eram exploradores ousados, que estavam no lugar mais sombrio da África, o que a impressa não destacou foi o que o Rei realmente planejava fazer no Congo.

Resumindo, o Leopold II teria enviado uma espécie de serviço filantrópico internacional onde daria aos nativos africanos as bênçãos do cristianismo e os recursos da  civilização europeia, mas… na verdade, a expedição tinha como objectivo dominar [2] milhões metros quadrados do território congolês, que fica na porção central da África.

Algo típico do colonizador europeu, quando os homens enviados pelo Rei finalmente se estabeleceram no Congo, ele chamou o local como; o Estado Livre do Congo [ELC], só que, o que aconteceu por lá, na prática não tinha nada a ver como liberdade. O Rei transformou as terras [Congo] em sua propriedade pessoal e passou a embolsar todo lucro produzido no Congo, o pior de tudo é que, no começo o Governo belga tinha emprestado todo capital para o Leopold II, para ele realizar o suposto projecto humanitário. Depois, que o Rei pagou a dívida a Colónia deixou de ser belga e passou a ser de apenas do Leopold, que estava determinado a sugar cada gota de tudo, que havia no Congo. O Leopold no lugar de enviar ajuda humanitária, matou e destroncou [mutilou] uma grande quantidade de congoleses e transformou a vida dos sobreviventes em um verdadeiro inferno na terra nunca visto.

As pessoas foram escravizadas, eram obrigadas a cavar ouro, caçar e matar elefantes, por causa do marfim e… até a atacar, matar e destroncar os seus próprios conterrâneos. Além disso, muitos deles trabalhavam na produção de borracha; como acontece em toda Colónia, os colonizadores precisavam adotar uma forma de violência para conseguir manter o controle dos colonizados.

A história por si só… nos prova isso, nos [25] anos de existência do ELC, muitas crueldades e atrocidades foram feitas. Primeiro, o Rei reforçou sua posição fazendo aliança com os poderosos da região um dos mais conhecidos se chamava Tippu Tip, que era um comerciante de escravos e de marfim inicialmente um rival seu, mas acabou nomeando o Tip como Governador da província em troca, o Tip não iria interferir na colonização belga na região. Sendo um comerciante, Tip usou sua posição para aumentar ainda mais o comércio de escravos e de marfim.

Porém, quando a Europa chamou atenção do Leopold II sobre o que estava acontecendo, o Rei resolveu tirar o Tip do seu cargo. O Rei tomou a decisão mais destrutível possível, ele formou um Exército de mercenários do Congo, para lutar contra o Exército do Tipo. Depois de alguns anos de confronto o Rei Leopold finalmente conseguiu expulsar o Tip do Congo. Agora, o Rei belga tinha o controle total do Congo.

Ele reorganizou o seu Exército de soldados e de mercenários e criou um grupo ainda mais sanguinário chamado Força Pública [FP]. Quando o Rei não conseguia coagir os líderes tribais a fornecer escravos a FP, sequestrava, estuprava e matava mulheres e crianças em grande porção.

Na verdade, essa organização tinha carta branca, para retaliar qualquer tribo, que não obedecesse as ordens do Rei. Destarte, cada tribo ou distrito tinha porções para produzir; marfim, ouro, diamantes e borracha. Para governar cada região o Leopold escolheu à dedo pessoas de sua confiança, que governavam como ditadores, com uma equipa pronta e preparada para fazer uma verdadeira destruição [limpeza] dos recursos naturais do Congo, que foram saqueados com eficiência industrial impressionante.

Os elefantes, esses foram massacrados e destruídos por causa do marfim; as técnicas usadas eram poderosíssimas o suficiente para eliminar [limpar] todos os grandes animais dum ecossistema. Eram centenas, em alguns casos até milhares de caçadores atrás do marfim e, dos elefantes.

Em outros lugares a violência acontecia nas plantações de borracha. A pena para quem não conseguisse bater as metas impostas pelos governantes era o destroncamento [mutilação]. Quem não colhesse borracha o suficiente tinha parte das mãos decepada; caso a meta não fosse batida novamente, dessa vez, a mão inteira era destroncada e se a falha voltasse a acontecer era a vez do antebraço ser completamente destroncado. E quando os homens precisavam de ambas as mãos para trabalhar, quem pagava o preço eram a esposa[s] e filho[s] do trabalhador. Repare! O aterrador sistema de barbárie, que tinha sido criado por Leopold II era algo, que os congoleses ainda não tinham presenciado coisa igual.

Quantas pessoas morreram?... Esse número é um pouco impreciso, mas… estimasse, que antes da colonização cerca de [20] milhões de congoleses viviam na área colonizada pelo Rei. Em 19[24], esse número caiu drasticamente para apenas [10] milhões de congoleses. Ou seja, como o resultado da colonização belga, [10] milhões de congoleses, simplesmente desapareceram do mapa. Inacreditável a quantidade de pessoas, que ele matou e deixou destroncadas no caminho.

Entretanto, as práticas do Leopold II, chegaram aos ouvidos de muitas nações, que trataram de critica-las de forma dura e vigorosa. Países esclavagista como; os Estados Unidos, Grã-Bretanha e Holanda, que também possuíam Colonias produtoras de borracha, foram algumas das nações, que foram contra a forma como o Leopold II tratava os congoleses. Por causa da pressão o Rei belga foi obrigado a ceder as terras para o Governo belga, com o passar do tempo ficou proibido matar aleatoriamente civis congoleses, o nome da Colónia foi mudado para Congo-belga.

O Rei, esse morreu pacificamente em 19[09] no dia em que seu reinado completou [44] anos. Durante a década de 19[40], surgiu o Movimento para Libertação Colonial do Congo de Patrice Lumumba, mas só foi em 19[60] que a Organização das Nações Unidas [ONU] e várias outras entidades se uniram e pressionaram a Bélgica para enfim… declarar liberdade ao Congo, nesse mesmo ano finalmente os congoleses deixaram de ser colonizados. É que, infelizmente, depois do fim da Colónia belga ainda tiveram e têm vários conflitos, mas… isso é assunto para outra história.

O facto é que, até hoje o Congo-Zaire, ainda vive com os traumas impostos pelo Governo do Rei Leopold II. A corrupção e a maldosa administração colonial deixaram resquícios mesmo tempos depois dos europeus partirem. Só para você[s] terem uma ideia ao final do Governo do Marechal Móbuto, ele tinha [4] bilhões de dólares acumulados em riqueza e a população continuou vivendo nas infras-condições humanas.

Agora, eu quero te fazer uma pergunta. Você, já tinha ouvido algo sobre o genocídio perpetrado pelo Rei Leopold II no Congo? Porque razão se destacam tantos horrores cometidos pelos nazistas, mas esquecem do que o Rei belga, fez com os congoleses.

Manuel Bernardo Gondola

Em Maputo, [31] de Janeiro 20[21]

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