"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

 

SEGREDO DO ESTADO NOS «ARMAZÉNS ANITA»?

Por Armando Nenane

O Comando Geral da PRM e o Estado Maior General das FADM pagaram 600 milhões de meticais a um pequeno estabelecimento comercial de nome «Armazéns Anita» em Maputo supostamente para alimentar os polícias e militares que integram a Força Conjunta em Cabo Delgado. Até aí está tudo bem, mas o sentido da história muda quando da conta do referido armazém o dinheiro é posteriormente encaminhado para contas particulares. E porque não foi possível comprovar o que estava realmente a ser pago, dois bancos comerciais da praça classificaram tais transacções como «suspeita de corrupção e branqueamento de capitais», tendo reportado os factos para o regulador.

De acordo com o novo semanário «Evidencias», que revelou esses factos esta semana na sua primeiríssima edição, não obstante a cidade de Pemba, em Cabo Delgado, contar com dezenas de supermercados com capacidade para abastecer uma base militar, o Comando Geral da PRM e o Estado Maior General das FADM celebraram um contrato com um pequeno estabelecimento comercial no bairro do Alto Maé, em Maputo, denominado «Armazéns Anita».

O referido contrato tinha em vista abastecer a base militar da Força Conjunta que está na linha da frente do combate a insurgencia em Cabo Delgado. «Entretanto, em tão pouco tempo, sem que haja clareza dos produtos comprados, o dinheiro depositado nas contas daquele estabelecimento comercial foi drenado para outras contas e/ou levantado em cheques», relata o semanário.

Essa situação, segundo a mesma fonte, levou dois bancos comerciais, nomeadamente o Banco Comercial e de Investimentos (BCI) e o Banco Internacional de Moçambique (Millenium BIM) a alertarem o Banco de Moçambique, na qualidade de regulador da banca comercial, tendo classificado tais pagamentos como «transacção suspeita de corrupção e branqueamento de capitais».  

«Pesou para a suspeita o facto de o rastreio das movimentações financeiras efectuadas não conduzir as compras declaradas, pelo contrário, indicava levantamentos em numerário e transferencias as contas do casal de proprietários José Pinhal e Calssum Amad», revelou o jornal.

Outro facto referenciado na mesma matéria é que o volume das transacções diverge da capacidade do armazém e não há evidencias claras de ter havido fornecimento do que foi declarado. Entre as transferências suspeitas constam movimentos dos dias 14 de Maio de 2018, 09 de Janeiro de 2019 e 10 de Novembro do mesmo ano, que levaram os referidos bancos comerciais a reportarem a suspeita ao Gabinete de Informaçao Financeira de Moçambique (GIFIM).

De referir que os jornalistas Fernando Veloso e Matias Guente, Director e Editor Executivo do semanário «Canal de Moçambique», respectivamente, foram acusados por crime de «violação de segredo de Estado» em virtude de haverem publicado um contrato supostamente confidencial entre o Ministro da Defesa Nacional, Atanásio Salvador Mtumuke, e o Ministro do Interior, Basílio Monteiro, e as multinacionais Mozambique Rovuma Venture e a TOTAL  com vista ao pagamento de compensações aos polícias e militares que integram a Força Conjunta em Cabo Delgado para o fornecimento de serviços de segurança aquelas multinacionais, mas que segundo o «Canal de Moçambique» tais dinheiros foram comidos pelos bosses.

Com efeito, o autor destas linhas (Armando Nenane) efectuou um depósito de 50 meticais numa conta do BCI supostamente pertencente a direcção nacional da logística e finanças do Ministério da Defesa tornada pública pelo «Canal de Moçambique» como sendo aquela onde foram depositados os dinheiros decorrentes do famoso contrato confidencial, tendo confirmado através do talão de depósito que a referida conta está associada ao nome do antigo ministro da defesa nacional Atanásio Salvador M´tumuke. 

Com estes novos factos trazidos pelo semanário «Evidencias», constata-se facilmente que não se trata de nenhum segredo de Estado mas sim de segredos de pessoas que estão a comer dinheiro a custa da guerra em Cabo Delgado. Os dinheiros que deviam alimentar os polícias e militares em Cabo Delgado terminaram num armazém em Maputo.

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