"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Haja “Tolerância” em Moçambique (Elementos de Autocrítica)


  

Por Capitão Manuel Bernardo Gondola.
Ser tolerante, no isolamento não dá (não é possível). Se você, está sozinho não tem como ser tolerante. Porque ser tolerante é em relação a alguém. E,o que é pior é alguém, que agi, que se manifesta, que pensa, que fala, que se comunica. E, aqui eu puxo a brava para minha sardinha. Toda tolerância pressupõe comunicação. Pressupõe mensagem. Porque eu tenho que discordar e, então é fundamental que tenha havido mensagem da parte do outro. Se fosse possível reflectirmos sobre um ser (pessoa), que não comunica, acto com o qual eu não concordo. Porque mesmo silencioso, você comunica, pelos seus gestos, pela sua indumentária (forma de vestir) etc,etc.
O facto é, se houvesse alguém, que não comunica, não haveria como exercitar em relação a ele nenhum tipo de tolerância ou intolerância. O facto éque a tolerância pressupõe, que exista um outro, e que esse outro, se apresente, se manifeste, fale, exponham o seu pensamento ou ponto de vista.
Um outro pressuposto fundamental da tolerância.É fundamental, que haja discordância.Repito, é Fundamental que haja discordância. Em outras palavras, não há tolerância nem intolerância quando há concordância. Se você é (católico) fervoroso, não há que ser tolerante com o Padre da sua Igreja. Porque!?..., porque, você deve concordar com o Padre.
E…, portanto, a tolerância pressupõe a possibilidade de discordar, ou seja, de não estar de acordo, de não tolerar, de não aprovar. E portanto, a tolerância pressupõe aquilo que na psicologia, costumam chamar de dissonância cognitiva.
O que vem a ser dissonância cognitiva para os psicólogos da cognição?! A dissonância cognitiva, é a tendência que nós temos em Moçambique, de evitar «mundos»em desalinhos (desacordo) com nossos pensamentos ou pontos de vista. Onde é que você consegue flagrar (apanhar) essa tendência de evitarmensagens, que são agressivas ao que você acredita?Por exemplo; na troca de canal na tv, onde você tem lá, o debate do bem contra o mal. Um candidato representando asclasses trabalhadoras e o outro representando as elites. E, os dois vão para um debate. E, o que se percebeque, se um candidato que você apoia está levando desvantagem e, ai a possibilidade de você trocar de canal é imensa. Se o seu candidato, está ganhando a possibilidade de mudar de canal de tv é nula. Você vê, existe uma tendência portanto, de procurarmundos (pessoas) que aplaudam o ponto de vista que já são seus e de evitar aquilo que produz o desconforto.
Ora; a tolerância é uma resistência à dissonância cognitiva. A tolerância é saber que aqui no mundoou (no país)há pessoas em desacordo com o meucandidato. Mas, ainda assim, aceitar a sua existência. Ainda assim, expor-se a ele. Ainda assim, conviver com ele. Ainda assim, suportar a sua permanência. Então, a tolerância, é uma resistência contra a tendência, que temos de cair fora, de mudar de canal, quando o nosso candidato (político) está em desvantagem; de mudar de assunto, de mudar de companheiro quando a coisa ou,o debate não está nos agradando.
E, sendo assim, isso me levaria a um próximo pressuposto bastante importante. A tolerância, é também uma resistência ao ódio (aversão intensa contra o outro). E porquê!?... Ora conforme Spinoza,(na sua Ética) e outros escritos sobre a Ética e Moral. Spinoza, vai nos apresentar a definição de alegria como ganho de potência de agir. Passagem do estado para mais potente do próprio ser (pessoa).
Mas também, vai-nos apresentar, a tristeza. E, a tristeza é quando você está acabado, murcha, perde a potência. Quando você se acanha e naturalmente, o que você observa a sua volta é que, muito frequentemente quando alguém faz e agi de maneira a produzir desaprovação e isso te entristece.
Por outro lado, quando alguém agi sobre sua estrita aprovação, sãoaplausosisso te alegra. Portanto, Spinoza nos ensina que o amor é alegria. Amor é alegria acompanhada de ideia da sua causa. Eu amo aquilo que eu sei que alegra. Por exemplo;o meu povo estáai, eles me a leram e eu só posso ama-los.
Já o ódioé o contrário. O ódio é tristeza acompanhado da ideia da sua causa. Ora! Naturalmente, que tudo aquilo que desagrada e produza a minha desaprovação me entristece. Só posso portanto, ter por um mundo assim ódio.
Então, você percebe, que a tolerância é uma virtude moral, que resiste ao ódio.
Você vê, o ódio,não é uma questão moral. O ódio é tristeza a acompanhado da sua causa. O ódio é sentimento. O ódio se impõe. O ódio é emoção. O ódio é patos (estupidez). O ódio, você vê, não controla. Portanto, a tolerância é a forma moral de controlar o ódio. A tolerância, é o tempero (condimento) moral do ódio.
A tolerância, é a luta moral, é luta racional. A tolerância é a luta pensante, contra o sentimento deódio, por tudo aquilo que nos envergonha e nos entristece hoje emMoçambique. 
E    espero, que tenham percebido. A tolerância portanto, é um exercício fantástico sobre si mesmo, que pressupõe conhecimento de si mesmo para que possamos, graças aos nossos esforços de razão (inteligência) vencer nossos sentimentos destrutivos em relação à mundos (pessoas) com os quais não estamos dispostos a concordar. Naquele lugar, primeiro de tudo é necessário tolerarmos as nossas próprias reacções internas, que só é possível quando conscientemente nos desapegamos e desempregamos dos sentimentos, que acompanham as nossas acções. E…,sobretudo lembrem-se, que nós não somos os nossos pensamentos e sentimentos. Nós é que os criamos. 
Manuel Bernardo Gondola

Sem comentários:

Enviar um comentário