"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Avolumam-se sinais de crispação e desentendimentos


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Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
E com isso os “solícitos conselheiros” envernizam a seu gosto.
Para cada crise sociopolítica surgem protagonistas e, no nosso caso, temos o Governo da Frelimo e a Renamo como porta-bandeiras.
Em certa medida, não se deveria dizer “Governo da Frelimo”, porque este esta orgânica e do ponto de vista dos estatutos amarrado e condicionado pela Frelimo.
De forma consistente, cada passo dado, confirma que o partido-Estado do passado não pereceu nem desapareceu com o advento do pluralismo político.
Fez-se um recuo e cedeu-se, por forma a que o desgastante esforço militar fosse substituído por uma acalmia naquela frente.
Um complexo político-ideológico estruturado e implantado no aparelho de Estado produziu raízes profundas no tecido social.
Mesmo face a dados concretos que evidenciam a existência de partidarização na esfera   pública, temos ministros e altos funcionários vergonhosamente desmentindo essa realidade.
Existe uma cerrada disciplina partidária que se estende a todos os sectores da vida nacional. Economia, finanças, banca, forças policiais, forças militares, serviços de inteligência, tudo está organizado da forma decidida pelo partido no poder e de forma inconstitucional.
Mas esse facto é negado e pouco analisado pela sociedade e pelos partidos políticos da oposição.
Os altos escalões da academia, a comunicação social pública quase sempre se recusam a discutir ou apresentar pontos de vista relacionados com estas questões nevrálgicas.
Em 1992, tinha-se algum entendimento sobre os poderes presidenciais excessivos para uma democracia funcional. Mas a opção dos políticos que assinaram o AGP de Roma foi ignorar pura e simplesmente o facto.
Hoje, 2016, depois de crises pós-eleitorais sucessivas, volta à mesa a questão de poderes constitucionais excessivos detidos pelo PR.
Hoje, discute-se a despartidarização, um assunto tão velho como o AGP de Roma.
E na senda de protecção das vantagens acumuladas desenham cenários de manutenção das mesmas por via “constitucionalista”.
Se existiam dúvidas quanto à polvorosa situação que se viveu a sucessão do poder no seio da Frelimo, agora começam a sobressair explicações, factos e tendências que o demonstram. Nada foi pacífico e nem tem sido pacífico na gestão do “dossier” pós-eleitoral.
Agora que se enveredou pela aceitação de discutir ou negociar com a Renamo a crise que está desgovernando o país, aquele verniz de democracia que se dizia existir desfaz-se a cada dia que nasce.
A insustentabilidade política vigente trouxe mediadores internacionais, mas também tem sido prenhe em produzir conselheiros e assessores políticos de todo o tipo.
Há ofensivas orquestradas e em vários palcos iniciadas e alimentadas por pessoas identificadas com objectivos subversivos, senão sinistros.
Num passado recente, já se viu acontecerem assassinatos de carácter seguidos de assassinatos políticos.
De uma alegada “alta academia” surgem sinais de preocupação face à iminência de um provável acordo em sede Comissão Política.
Como não fazem parte do selecto círculo dos que têm acesso aos detentores do poder executivo, lançam-se nas redes sociais oferecendo conselhos ao PR e desenhando esquemas de conspiração.
E como sabemos, em momentos de instabilidade e de insegurança é fácil que elementos hostis a entendimentos que tais conselhos sejam aproveitados para desenhar a eliminação física dos considerados opositores. Embora os que se oferecem como conselheiros não pagos do PR e de políticos de proa não o mencionem nas suas consultorias, isso já aconteceu como sabemos.
Há que ter consciência de que os cultores do absolutismo político, do açambarcamento do poder, da intolerância político e da exclusão político-económica jamais abandonarão as suas posições só porque há apelos e marchas contra aquelas posições.
Num país em que se tornou denominador comum falar sob condição de “anonimato” para a comunicação social, isso deveria preocupar os políticos. Vive-se medo e a emergência de retaliação armada para com opositores reflectem o real estado de desconfiança entre cidadãos e partidos políticos.
Se quisermos ser realistas, agiganta-se a impressão colectiva de que na Comissão Mista se está a manobrar para arrastar tudo para os próximos pleitos eleitorais.
Quando alguém disse que estamos assistindo a um “pisca-pisca”, acertou em cheio na baliza.
A aceitação de mediadores internacionais foi mais um passo no processo das tristemente famosas “manobras dilatórias”.
Os egos que se sentem em derrapagem agarram-se aos poderes que ainda têm com tudo o que têm.
Quarenta um anos depois da Independência, registam-se graves “deficits” de realismo e uma gritante falta de participação da intelectualidade moçambicana na vida do país. Os bravos intelectuais que incansavelmente oferecem os seus préstimos à sociedade e aos partidos políticos vêem-se, na maioria dos casos, ignorados e ostracizados quando não acusados e julgados em tribunal.
Não se pode ignorar a áurea de repressão que paira e é sentida no país. Conluios para delinquir todo um país, meticulosamente organizados como o G40, foram estruturados sob directivas específicas.
A “expulsão” efectiva de alguns escribas “inconvenientes” de alguns órgãos de comunicação social também faz parte de uma estratégia que visa limitar a expressão de pontos de vista diferentes.
O PR foi aceite por todos e cabe-lhe construir consensos que tragam a paz ao país. Não tem tarefa fácil, mas, ao assumir o cargo de mais alto magistrado da nação, tem a responsabilidade de tudo fazer para promover a justiça política eeconómica. E antes de tudo importa dizer que os membros do seu partido de suporte têm a obrigação de o ajudar. A todos nós também cabe uma responsabilidade que é participar sem reservas nos esforços multifacetados com vista a normalizar a vida no país. Cada um tem alguma coisa a dar a este portentoso Moçambique. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 15.09.2016

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