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terça-feira, 20 de setembro de 2016

Carvão para produzir energia em Moçambique não, é a forma de geração de electricidade mais danosa que existe

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Escrito por Adérito Caldeira  em 20 Setembro 2016
À falta de mercado para o carvão mineral de Tete os políticos sugerem o seu uso na produção de energia eléctrica para suprir o défice nacional. Todavia, “as centrais eléctricas de carvão são a forma de geração de electricidade mais danosa que existe” afirmam os ambientalistas baseados não só em estudos mas também em experiências de outros Países, “desde 2010, dois terços das propostas de novas centrais eléctricas a carvão por todo o mundo foram paralisadas ou canceladas”, e indicam a produção de energia a partir do gás natural, sol ou vento como as soluções de futuro para Moçambique.
Desde que as explorações de carvão iniciaram no nosso Páis, nos anos 2000, que os níveis de produção e exportação têm ficado aquém das previsões das mineradoras. Há cerca de 4 anos o carvão de Moçambique começou a registar um a baixa no seu preço, nos mercados internacionais, levando as multinacionais que o exploram em Tete a reduzirem a sua produção e até mesmo a paralisar a sua extracção.
Os políticos moçambicanos que profetizaram benefícios que nunca chegaram ao povo já não estão no Governo. Agora os seus substitutos dizem que disponibilidade de carvão térmico – que é extraído paralelamente com o carvão coque, que é exportado - é uma oportunidade para a geração de electricidade que faz falta a Moçambique e pode ser vendida aos Países vizinhos.
Os ambientalistas moçambicanos, que antes da mineração iniciar prognosticaram o drama que milhares de moçambicanos que foram reassentados hoje estão a viver, alertam que produzir energia eléctrica com carvão mineral não é um boa opção.
Um relatório da Organização Não Governamental(ONG) Justiça Ambiental indica que, “Além de emitir mais dióxido de carbono (o principal gás de efeito de estufa) para a produção de energia que qualquer outro combustível fóssil, a combustão do carvão também produz uma poluição local nociva”.
“Centrais de carvão emitem para o meio ambiente 100 vezes mais radiação que uma central nuclear”
“O dióxido de enxofre pode causar ou contribuir para uma variedade de doenças respiratórias como bronquite e asma, e afecta principalmente os idosos e jovens. O dióxido de enxofre causa também chuvas ácidas, danifica a terra, as plantações e os sistemas hídricos. Uma central eléctrica de carvão convencional de 300 MW produz 6.500 toneladas de dióxido de enxofre a cada ano”, refere o relatório intitulado “A economia do carvão onde estão os benefícios?” que estamos a citar.
Além disso, “O óxido de azoto causa poluição a nível do solo, o que pode tornar as pessoas mais propensas a desenvolver doenças respiratórias crónicas. Uma central de carvão convencional de 300 MW produziria 4.500 toneladas por ano”.
O relatório elaborado com base em vários estudos científicos aponta ainda que as “centrais eléctrica de carvão produzem também metais pesados como mercúrio, chumbo e cádmio. Estes podem entrar na cadeia alimentar se, por exemplo, contaminarem um lago ou rio e forem consumidos pelos peixes que lá estão (…) As cinzas volantes produzidas por uma central de carvão contém também urânio radioactivo e tório. Acredita-se, actualmente, que as centrais de carvão emitem para o meio ambiente 100 vezes mais radiação que uma central nuclear”.
Não bastasse a poluição que poderá ser criada pelas centrais eléctricas a carvão, estas não deverão gerar muitos postos de trabalho para os moçambicanos, tal como as empresas mineradoras. “Uma análise do emprego em centrais eléctricas de carvão na África do Sul mostra que, em média, há cerca de 0,25 trabalhadores contratados por cada Megawatt produzido”, apurou o relatório da Justiça Ambiental que citamos.
Refira-se que existem dois projectos de centrais eléctricas para funcionar à base do carvão térmico extraído em Tete: uma do consórcio AcwaPower(Arábia Saudita), Vale(Brasil), Mitsui(Japão), Electricidade de Moçambique e Whatana Investment; e outra da Ncondezi Energy(Inglaterra) e Shanghai Electric Power Company(China).
Ambos projectos propõe-se a produzir 300 MW, porém cerca de 75% da electricidade será destinada aos próprios projectos das mineradoras, e só o restante será vendido à Electricidade de Moçambique por preços que não serão, nem de longe, iguais ao custo que a Hidroeléctrica de Cahora Bassa fornece.

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