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Escrito por Adérito Caldeira em 17 Fevereiro 2016 (Actualizado em 19 Fevereiro 2016) |
![]() De acordo com o professor auxiliar no departamento de Ciência Política e da Administração Pública da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), “uma coisa é você sair de um processo que pela sua força interna seja um líder por natureza, carismático, que mobiliza e aglutina, outra coisa é você sair e ser feito líder por percurso dentro do aparelho do Estado, das redes do partido por dez ou vinte anos, aí você tem legitimidade suficiente para fazer uma ruptura profunda dentro do partido”. “O Presidente Nyusi não sai desses perfis de liderança” afirma o politólogo que constata que o Chefe de Estado moçambicano não tem a escola da estrutura partidária nem sequer cresceu dentro do aparelho do Estado por força própria, “ele (Nyusi) conhece mal o funcionamento do Estado”. ![]() Por isso, segundo o docente de Ciência Política, Filipe Jacinto Nyusi “tem que fazer a gestão dos “embaixadores”, dos antigos combatentes, daqueles que têm que lhe dar a legitimidade necessária pra lhe proteger em caso de alguma eventualidade. Não é por acaso que se vê, pela análise comportamental, do próprio Chipande, quando está sentado ao lado do Presidente, é ele que aparece lá. Isso mostra claramente esse processo todo”. Efectivamente, durante a II sessão extraordinária do CC do partido Frelimo, Alberto Chipande esteve sentado no pódio à esquerda do presidente do partido, Filipe Nyusi, que teve à sua direita Eliseu Machava, o secretário-geral que herdou de Guebuza. No pódio, os três estiveram ligeiramente destacados dos restantes membros da Comissão Política.
Nyusi poderá perder-se na conflitualidade dos jogos de interesses
O nosso entrevistado refere ainda outro aspecto importante, “enquanto o Presidente Guebuza e Chissano tinham uma legitimidade histórica, estiveram na fundação da Frelimo, e tinham desenvolvido uma carreira política muito forte dentro do próprio partido e dentro do Estado, tinham feito aquele percurso todo, tinham legitimidade de chegar lá dentro e dizer que esta é que é a minha linha de pensamento”.João Pereira argumenta que é devido a essa legitimidade que ninguém questionava o antigo Chefe de Estado moçambicano, e também antigo presidente do partido Frelimo, Armando Guebuza, “ele tinha a legitimidade e o capital político necessário para dizer que é esta linha e, a partir desta linha, vocês vêm ou não vêm. E aqueles que decidiram que não iam naquela linha saíram e ele continuou na linha dele”. ![]() Para o professor de Ciência Política e da Administração Pública da UEM, “(...)por mais que mudem as coisas onde estão as alternativas dentro do próprio partido Frelimo, quem são as elites políticas da Frelimo que podem ser alternativa a si próprio, tem que ser no meio daqueles”. Após a eleição dos novos secretários Filipe Nyusi, o presidente do partido, reafirmou a necessidade de união, “são muitos os desafios que vos esperam como secretariado e um dos segredos para enfrentá-los com sucesso, é a coesão interna. Tal como o fizemos ontem, temos que continuar a apostar na coesão para fazer face aos desafios da actualidade”. De acordo com João Pereira este discurso vazio e de apelo à união é uma forma do Presidente de Moçambique tentar agradar à todas as alas que são influentes dentro do seu partido. “Eu acho que ele (Nyusi) vai chegar a conclusão de que não é um bom dançarino para estes jogos de acomodação de vários interesses, e poderá perder-se nesse tipo de conflitualidade. Mas também tem de fazer esse tipo de jogos a nível das redes clientelistas que foram desenvolvidas com o Estado, eu não sei se ele consegue dormir”, conclui o politólogo. |
"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"
sábado, 20 de fevereiro de 2016
Presidente de Moçambique não tem capital político para fazer grandes reformas dentro do partido Frelimo, afirma o politólogo João Pereira
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