"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Autarquias Provinciais, Ou o Grito dos Excluídos (Elementos de Autocrítica)

 


Listen to this post. Powered by iSpeech.org
Por Capitão Manuel Bernardo Gondola
Os pensadores da Escola de Frankfurt, ou Instituto de Pesquisa Social, um grupo de pensadores de diversas áreas mais influente que se juntou ainda na década de XX do século passado, e que teve uma influência muito grande em áreas de ciências humanas. Foi no Instituto de Pesquisa Social fundado em Frankfurt em 1924, que eles começaram a pesquisar a realidade social pós-primeira guerra mundial. Ao lado, publicavam os cadernos de pesquisa social que era periódico que popularizou as suas teorias e, que foi seu principal veículo de correspondência.
Alguns participantes principais como: Marx Horkeimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamin, Leo Lowenthal, Franz Newman, Erich Fromm, Otho Kirchkeimer, Friederick Pollock e Karl Wittfogel. Alguns mais conhecidos e outros menos. Por exemplo, Marx Horkheimer é considerado, talvez o principal deles embora não seja tão conhecido. Theodor Adorno, esse que é o mais conhecido possivelmente, Herbert Marcuse, walter Benjamin também, o Erich Fromm que é um psiquiatra que fazia famoso diálogo entre Marx e Freud todos de diversas áreas, formados em filosofia, outros nas áreas da estética por exemplo, o Theodo Adorno, o Fromm era médico.
Então, eles vinham de diversas áreas, mais praticamente todos eles eram judeus. Eles tinham a origem judaica e isso ocasionou que eles tivessem que ir embora na época da segunda guerra mundial. Portanto tiveram que se exilar. Só Walter Benjamin, esse não conseguiu o exílio e acabou morrendo entre 1941/1942, no contexto da guerra.

Pelas ideias e pelos actos, tinham influências principais de Immanuel Kant e Karl Marx, com suas devidas tradições e derivações. Durkainer,foi quem cunhou em 1937 a expressão teoria crítica, referindo-se contra a epistemologia de Immanuel Kant e política de Karl Marx. O que eles realmente queriam era, actualizar o pensamento de Karl Marx, que foi um pensador dos meados do século XIX mas, que no século XX muita coisa já tinha mudado em relação aquela ocasião; questões de trabalho e tipo de produção.
Então, esses filósofos da Escola de Frankfurt, eles tinham essa intenção; como é que o pensamento de Karl Marx, pode ter validade agora pós primeira e depois da segunda guerra mundial no contexto do capitalismo tardio que eles chamavam da época de Karl Marx, um capitalismo que era muito mais complexo e uma sociedade muito mais emaranhada. Então, esse é que era o grande desafiou deles na ocasião.
Immanuel Kant filósofo alemão, é considerado dos maiores filósofos, pode-se colocar como destaque da sua contribuição enquanto filósofo iluminista a Escola de Frankfurt, da valorização da constituição do espaço público como uma possibilidade da discussão livre da argumentação sem a perseguição, onde você tem a liberdade de expor suas opiniões, seus pontos de vistas, pretensões sem ser cerceado por alguma autoridade.
Essa, foi a ideia de Kant que influenciou, para lá da teoria de conhecimento de análise de todo o processo cognitivo do ponto de vista conceptual, toda a maneira que o ser humano tem de conhecer a realidade. Então, isso foi utilizado pela teoria critica. E a filosofia kantiana teve uma grande influência neste aspecto.
Marx, teve influência na questão do materialismo histórico, que era uma inversão da dialéctica Hegeliana. Para Marx, tudo começa na prática, no trabalho, na produção e o espírito é uma decorrência disso. Então, Marx é o que coloca a ideia da análise do concreto, da prática daquilo que realmente existe não ficando simplesmente no idealismo. É por isso, que a filosofia de Marx é o materialismo histórico e o capital é uma crítica que ele introduz, a crítica de economia política quer dizer, a questão da relação, entre a economia, a produção da sobrevivência humana, o trabalho com os interesses políticos, a questão das classes sociais, a questão da política de Estado; o direito; como é que o trabalho é manipulado por uma série de factores é isso, que Marx introduz.
O que interessa aqui, para teoria critica para Escola de Frankfurt, é o problema da coisificação do ser humano na sociedade capitalista, é um diagnóstico que eles pegam do Marx, que eles tomam como seu, que na sociedade capitalista como eles analisam há uma tendência de tudo virar mercadoria, de tudo virar um processo comercial, ao produto, inclusive o ser humano. E há um aspecto do ser humano, que pode se reduzir a uma mercadoria ou produto. Então, a teoria critica pega nisso e Habermas é o herdeiro disso tudo e vai fazer uma nova recombinação.
Aqui eu me apoio numa frase muito famosa de Marx. “Os filósofos até hoje interpretaram o mundo; trata-se agora de transforma-lo”. Marx, não deixa de ter razão.
A questão é, o que se entende por transformação? Isso, é que é o problema. Agora a transformação de ponto de vista só económico, ou a transformação do conceito de justiça etc., é uma transformação um tanto a quanto restrito mas, realmente como é que fica a responsabilidade dos filósofos, responsabilidade até mesmo evolutiva dos filósofos de democratizar o conhecimento e etc. Realmente tem sentido essa frase de Marx até nos dias que hoje correm.
Então, o ponto central da teoria crítica é, crítica ao homem dimensional. Tem várias maneiras de explicar isso; ou a redução da racionalidade ao ser instrumental ou técnico como se estivessem dizendo o seguinte: o mundo do século XX é o mundo em máquina, é o mundo em que tudo é um instrumento, tudo é uma técnica inclusive o ser humano se reduz a uma engrenagem ou seja, há uma perda de alguma coisa humana.
Adorno, vai dizer a perda do discernimento, da cultura, da auto-cultura onde tudo é muito superficial.
Ao lado, eles desenvolveram uma pesquisa e chegaram a conclusão, que existe um sentimento humano básico muito forte que é, a inveja. Ou seja, todo o mundo, que tem menos inveja quem tem mais. Isso nós na filosofia, chamamos de pecado original. Por causa do pecado original, as pessoas tem inveja umas das outras.
Não há exagero em afirmar; pensem como é que acontece a revolução marxista.
A ideia da revolução marxista em poucas palavras é a seguinte: os proletários, são oprimidos, vivem numa panela de pressão e essa panela de pressão irá explodir e dar como resultado uma revolução. Essa é ideia básica da revolução marxista. Acontece que, não aconteceu como haviam previsto. Então é necessário um outro combustível que não seja a revolta dos trabalhadores.
Então, os pensadores da Escola de Frankfurt notaram, que existia esse combustível de revolta, e começaram a explorar esta realidade daquilo, que depois mais tarde um outro teórico marxista chamado Pierre Bordéus, vai chamar dos excluídos.
O que é, que é, essa categoria dos «excluídos» que para nós, católicos e não só… que ouvimos e vivemos dentro da igreja católica, ouvindo tantos sermões (pregações), por esse mundo fora, enfim…nós achamos que deve ser um conceito bíblico; o excluído. Um conceito que deve ter brotado dos santos padres.
Na verdade, ele nasceu simplesmente de um pensamento marxista. Foi um termo cunhado (criado), pelos seguidores da revolução cultural marxista, que querem simplesmente, explorar a inveja e o descontentamento como combustível capaz de fazer eclodir uma revolução. Ou seja, eles identificaram que todo o mundo, se sente excluído por alguma razão.
Tomemos como exemplo: eu me sinto excluído porque não tenho formação superior, o outro se sente excluído porque não é moçambicano genuíno, o outro se sente excluído porque é antipatriótico, o outro se sente excluído porque não é mulato, a outra porque é mulher, aquele outro porque é pobre, um se sente excluído porque não é e nunca foi combatente pela liberdade da pátria e, em fim...
Você vê, todo o mundo tem o motivo para insatisfação na vida. Então, o que acontece; explorando esse combustível da inveja e descontentamento, eu sou capaz de produzir uma revolta.
Você viu, os acontecimentos de protesto nas bolsas de valores no mundo inteiro há poucos anos, onde mais de mil cidades estavam protestando; os protestos na Grécia, e em Portugal, as primaveras árabes, os frequentes protestos nas minas e não só… aqui ao lado na África do Sul, os protestos no Brasil antes e no decurso do mundial; enfim...
Você vê, pessoas estão lá, protestando, gritando e etc.,. O que é isso?! Isso é o «grito dos excluídos». Ou seja, é simplesmente uma questão de inveja e descontentamento uma vez que, as pessoas vivem uma realidade cada vez mais saturada de negatividades, sobre todos os pontos de vista. Então se saturação dessa negatividade dessa situação negativa é claro que tende a gerar outra coisa.
A ganância de uns sobre os outros. Nós também queremos ter mais. Você vê, se for a analisar a sociedade moderna (actual), nós nunca tivemos tanto e nunca fomos tão insatisfeito como agora. Compare a nossa sociedade moçambicana actual, com a sociedade moçambicana de há quarenta anos atrás. Compare o subúrbio actual e de há quarenta anos atrás. O subúrbio de quarenta anos atrás eram casas de latas, de tábuas, de madeira e zinco e de papelão, de pessoas que viviam em infras-condições humanas (numa objectiva miséria). Os subúrbios de hoje, são casas de alvenaria, com uma antena de satélite, microondas, televisão, geleiras e, etc, etc.
Veja bem, eu não estou dizendo aqui, que seja uma situação satisfatório; em nada. Eu não estou dizendo, que não seja necessário melhorar a vida das pessoas. Claro! Elas têm condições de higiene precária, sistema de saúde precário, tudo que vocês quiserem mais, agente pode melhorar condições da vida dessas pessoas, não tenhamos dúvidas nenhuma.
Eu não sou contra, que se crie condições sociais melhores para as pessoas. Se nós podemos promover a justiça, se nós podemos promover um crescimento das pessoas, se nós podemos diminuir a pobreza é excelente, que o façamos.
Só que, o que eu quero que vocês notem, é que há quarenta anos atrás quem vivia na casa de lata, de papelão era resignado com a sua miséria. Hoje quarenta anos depois pessoas quem vivem em casas talvez não de latas, de madeira e zinco, de alvenaria, talvez vamos pegar um de classe média, pessoas que vivem em casas de classe média são absolutamente revoltadas. Porquê? Porque querem mais.
Então, veja bem; talvez possa ser desconcerto da minha parte e peço desculpas mais, eu penso, que existe uma exploração desse sentimento chamado inveja. O que acontece é que a própria acumulação do capital transformou de tal maneira o trabalho e as diversas formas de trabalho, que desfez as formas do trabalho em que durante anos ou décadas os trabalhadores se identificaram.
E exactamente por terem perdido a identidade com os seus processos de trabalho e a partir de seus processos de trabalho, a capacidade de transformação erodiu-se mesmo na base de trabalhadores. Então, ou agente encara as coisas a sério e tenta ir como no dizer de Marx, a raiz das coisas ou não entenderemos nada.
Você vê, neste país o que está acontecendo com a classe trabalhadora e não só…, não directamente por elas, mas, através dos seus representantes (Office Boys) é que os Office Boys se aliaram com o capital financeiro de tal forma que, o emprego dos trabalhadores, a função dos trabalhadores está sendo vendido na bacia das almas em troca de fundos financeiros. E entre manter o emprego numa determinada fabrica ou comunidade e ver qual é a taxa de retorno (lucro) da sua aplicação eles preferem ver qual é a taxa de retorno em detrimento dos trabalhadores e do povo.
Como consequência, o trabalho é cada vez mais instável, inseguro, sem empresas fixas, sem função fixa, sem lugar fixo. Isso provoca tensão, medo, insegurança, sem perspectivas de planos a médio e longo prazo. A banalização do trabalho que passou a ser um local de sobrevivência e não mais de participação, convivência e organização. A tendência hoje no país é negar a alteridade.
Porém, a grande questão não é a possibilidade da banalização do mal e da corrida aos recursos valorizados (riqueza e dinheiro) mais, a própria qualidade da vida humana e seus valores: cansaço, frustração, decepção, laxismo, escravidão, fome, pobreza, miséria, ignorância, doenças, obscurantismo, em fim… caracterizam a existência de muitas pessoas no país. E, para ser um pouco leve; a política no país há muito que deixou de ser uma relação entre classes.
Você vê, os partidos perderam capacidade de representação de classes, quem disser que esta representando classes estás mentido. Não representa classe nenhuma. Aliás os partidos modernos não são hoje mais que umas transfigurações do Estado. Eles só se mantem no Estado, uma vez na oposição não são nada, não têm a menor influência sobre decisões; por exemplo dos professores se é que eles querem ser representantes dessa classe. É precisamente isso, que estou dizendo, a política no país deixou de ser representação de classe. É por isso, que ela se torna irrelevante, uma vez que perdeu a capacidade de arbitrar os conflitos sociais. O capital financeiro não arbitra conflitos sociais e, se você não consegue esse objectivo de arbitrar conflitos sociais na raiz você não está fazendo política, portanto esse argumento do popular para justificar, que representam classes é um argumento pobre e não encontra respaldo na história.
Você vê, Governo de Unidade Nacional, Governo de Gestão, Regiões autónomas, Autarquias Provinciais, moçambicanos genuínos, unidade nacional que ninguém sabe o que é, paridade nas Forças de Defesa e Segurança, paridade nos órgãos eleitorais, distribuição equitativa dos recursos valorizados, luta contra a corrupção, lei da probidade pública, luta contra a pobreza, presidências abertas, Conselhos Coordenadores, enfim…, não são mais que um agigantamento do leite da vaca.
Você vê, é exactamente na ausência da política, da capacidade de decidir sobre grandes questões nacionais, que você enfia o substituto dela. Se isto é política e relação de classe, se isto não tem gravidade, se isto não deve despertar exactamente a atenção então, eu não sei o que, é que pode mais despertar. n/b: O meu Coronel Sérgio Viera, é um dos poucos em Moçambique, que não vê com bons olhos a construção da ponte Maputo/Catembe; até pode ter razão. Sabe porquê?!..
Dados comparativos
Ponte chinesa
Extensão: 42 km
Custo total: 2,4 biliões de USD
Custo por km: 57milhões de USD
Ponte Catembe
Extensão: 3km
Custo total: 725 milhões de USD
Custo por km:242 milhões de USD
Veja bem. Se a ponte chinesa, fosse construída em Moçambique, custaria 10.122 bilhões de USD, se a ponte moçambicana fosse construída na China, custaria 171 milhões de dólares.
Manuel Bernardo Gondola.
(Recebido por email)

Sem comentários:

Enviar um comentário